Não há mais espaço para escrever no quadro branco da parede do Centro Obstétrico do Husm. As enfermeiras e médicas desdobram-se como podem. Mas não existe como colocar nem sequer mais um "a" nas espremidas grafias. A capacidade é de nove leitos normais - 6 do pré-natal e 3 da observação. Na tarde de quarta-feira, 15 pacientes ocupavam leitos, macas e até cadeiras. E o pior está por vir. A demanda reprimida pela suspensão dos partos na Casa de Saúde ainda não havia chegado ao Husm. Com isso, o quadro geral do SUS em Santa Maria, que já era grave após a suspensão de atendimentos públicos do Hospital Alcides Brum desde a segunda-feira, ficou ainda mais delicado.
- Não podemos fechar as portas para ninguém. Mas vai chegar um ponto que, daqui uns dias, vamos ter de optar por qual neném vai nascer e qual vai morrer - desabafou uma exausta doutora Kátia Trevisan, responsável pelo setor materno-infantil do Husm.
Em maio, o Husm realizou 65 partos. Em junho, foram 92. Números que mostram a demanda crescente de atendimentos. Uma das mães que aguardavam por atendimento ontem era Deolinda Calegari, 39 anos. Internada em uma maca, ela pouco movimentava-se:
- Não tenho nem como deitar na maca porque vou acabar caindo.
Na Casa de Saúde, o problema, agora, é que o hospital deixou de realizar partos desde quarta-feira, já que os sete médicos que atendiam no local rescindiram o contrato. A babá Alexandra Machado, 22 anos, depende do SUS. Ela é uma das gestantes que faria parto na Casa de Saúde, e agora terá de ir para o Husm:
- Isso me preocupa. Sei da superlotação, e tenho medo de ficar sentada em uma cadeira no corredor.
Na quarta-feira, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou ter depositado R$ 70 milhões em contas de hospitais filantrópicos e públicos, prefeituras municipais, além de fornecedores do setor. O que significa um breve alívio nas finanças locais. Porém, o valor representa cerca de metade do que não foi repassado nos últimos meses, por força de cortes no orçamento estadual.
A secretária de Saúde do município, Vania Olivo, disse que o corte de atendimentos pelo SUS no Hospital Alcides Brum implica, sim, nos serviços oferecidos pelo Husm. Segundo ela, uma reunião ontem, em Porto Alegre, discutiu a questão da saúde em Santa Maria.
- Nós precisamos de outras instituições que atendam pelo SUS, porque só o Husm não consegue dar conta dos atendimentos, por isso, estamos buscando alternativas para a Casa de Saúde e o Hospital de Caridade/Alcides Brum.
Ainda segundo ela, uma nova reunião hoje, com representantes do Estado, da Casa de Saúde e do Husm, deve discutir como devem ser feitos os encaminhamentos de pacientes a partir de agora.
Bloco à espera de anestesistas
De nove salas do bloco cirúrgico, uma média de quatro ficam fechadas ao mês. Outro drama do Husm é a falta de médicos anestesistas, o que resulta na diminuição de cirurgias. Na tarde de ontem, na intenção de reverter este quadro, a diretora do Husm, Elaine Resener, esteve reunida com a responsável pela 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), Lenir da Rosa. O pedido era para ser realizada a contratação emergencial de anestesistas.
Casa de Saúde
-Tipo de atendimento - Internações e consultas médicas, cirurgias, obstetrícia, fisioterapia, mamografia e exames de radiologia e ultrassonografia
- Média de atendimentos mensais - 2 mil
- Repasses - Ultrapassa R$ 4 milhões
- Situação mais crítica - Cirurgias eletivas foram canceladas desde 15 de junho, pois não há anestesistas. Partos não estão mais sendo realizados desde ontem. Salários de médicos estão atrasados e 25 funcionários já deixaram o hospital, sendo que essas vagas não serão repostas
Husm
- Atendimentos - Baixa, média e alta complexidade, como cirurgias oncológicas e cardiovasculares e transplantes de medula
- Média de atendimentos mensais - 17 mil entre consultas, internações e cirurgias
- Repasses - Não há problema de falta de recursos
- Situação mais crítica - Falta de médicos anestesistas, o que resulta na inoperância de quatro das nove salas do bloco cirúrgico (média mensal). Superlotações no Centro Obstétrico, na UTI de recém-nascidos, na maternidade e na UTI Adulto
Caridade/Alcides Brum
- Atendimentos - Consultas, internações e cirurgias de baixa e média complexidade
- Média de atendimentos mensais - 1,3 mil entre consultas, internações e cirurgias
- Repasses - R$ 18 milhões de dívidas referentes à compra de leitos feita pelo Estado no Caridade, responsável pelo Hospital Alcides Brum), SUS e internações via ordens judiciais
- Situação mais crítica - Está sem contrato vigente com o Estado e deixou de atender pelo SUS
UPA
- Tipo de atendimento - Atendimento clínico, odontologia, pediatria, urgência e emergência, exames laboratoriais e de raio X
- Média de atendimentos mensais - 7,5 mil
- Repasses - Está com valores de repasses defasados, mas a prefeitura arca com os valores que o Estado não repassa
- Situação mais crítica - Pacientes de alta complexidade que deveriam ser encaminhados estão internados na unidade, pois não existem leitos disponíveis
PA do Patronato
- Tipo de atendimento - Urgência, emergência e atendimento clínico
- Média de atendimento mensal - 10 mil
- Repasses - É financiado apenas pelo município, que repassa em torno de R$400 mil por mês
- Situação mais crítica - Superlotação já é um problema, pois como atende emergência o número de atendimentos varia por dia. Sem o Alcides Brum, o número de internações, que era de 13 por dia, em média, deve aumentar. Além disso, pacientes de alta complexidade que deveriam ser encaminhados terão que ficar internados na unidade, pois não existem leitos disponíveis
Pronto-Socorro do Husm
- Atendimentos - Pediátrico, adulto e psiquiátrico, clínicos, urgência e emergência, entre outros
- Média de atendimentos mensais - Entre 4 e 5 mil
- Repasses - Não há problema de falta de recursos
- Situação mais crítica - Capacidade de atendimentos está 30% menor com as obras do pronto-socorro. Também há situações recorrentes de atendimentos a pessoas que não procuram as unidades básicas mais próximas e lotam o PS