Insatisfeito com o PT desde a campanha eleitoral do ano passado, o senador Paulo Paim (RS) vem sinalizando a possibilidade de deixar a legenda e, consequentemente, tem atraído a atenção de outros partidos. O assédio aumentou com o desconforto manifestado pelo político gaúcho em relação às medidas provisórias que dificultaram o acesso a benefícios trabalhistas em prol do ajuste fiscal.
Em entrevista ao Broadcast Político, serviço da Agência Estado, Paim afirmou que está mais próximo de PSB, PV e Rede, mas que a permanência no PT não está descartada. A decisão sobre uma eventual troca de sigla se dará até o final de 2015.
- Tenho dito que, até o fim do ano, muita coisa vai acontecer na nova acomodação política do país mediante a situação em que estamos, que não é boa nem no campo político, nem no social nem no econômico. E eu, particularmente, estou muito chateado com a política capitaneada pelo (ministro da Fazenda) Joaquim Levy - afirmou. - Pedi (aos partidos) um prazo até o fim do ano.
Paim diz não temer punição do PT por votar a favor de mudança na aposentadoria
Paim explicou que atualmente está "dialogando, ouvindo e refletindo". Nesta terça-feira, tinha um almoço com lideranças do PSB em Brasília que acabou cancelado por problemas de agenda - o senador esteve ontem em Florianópolis para uma audiência pública sobre terceirização e fator previdenciário e, de acordo com sua assessoria, não chegaria a tempo do encontro. O contato com os socialistas, no entanto, ocorre há meses. Recentemente, Paim teve um "longo" e "produtivo" bate-papo com Romário (SB-RJ), seu colega no Senado.
As conversas com a Rede também são frequentes.
- Uns 14 dirigentes da Rede estiveram dialogando comigo. Estou numa linha de apontar para algo que seja uma visão nova, moderna, uma estrutura que tenha compromisso com os direitos humanos e com o ecossistema. Uma visão diferente daqueles partidos tradicionais, dos quais eu acho que o brasileiro já cansou - disse o parlamentar gaúcho.
A ex-senadora Marina Silva, principal liderança do partido em formação, convidou-o para um almoço nesta quinta-feira.
Na semana passada, Paim recebeu o convite formal para se filiar ao PV do Rio Grande do Sul, com o qual também se identifica.
- É um partido que, em tese, é novo, e que trabalha com o meio ambiente e o direito à vida. Tem esse viés humanista que me é simpático - afirmou.
Apesar de reconhecer que PSB, Rede e PV são as legendas com as quais tem conversado "mais intensamente", Paim deixa claro que seu futuro político está em aberto. Ele lembra que mantém contato com outras siglas, como o PDT, e esclarece que nenhuma decisão será tomada antes de aprofundar o diálogo com o próprio PT, ao qual está filiado há 30 anos.
De acordo com o Paim, o "desejo de mudança" é compartilhado com colegas de partido e já foi tema de conversas com o ex-presidente Lula.
- Não sou só eu que estou propondo mudanças. O Tarso Genro está propondo, o Olívio Dutra está propondo, a bancada está propondo. Quero ver o que é possível construir ou não - falou.
Decisão deve ser tomada ainda neste ano
Paim tomará uma decisão ainda em 2015, porque pretende ter participação nas eleições municipais de 2016.
- Não sou de ficar fora de uma disputa, a não ser que não queiram que eu entre - avisou o senador, que descarta, contudo, a possibilidade de concorrer à prefeitura de Porto Alegre. - Não sou candidato em hipótese nenhuma. Mas acho que você não pode se omitir de uma disputa em prol de um projeto em que você acredita, e que passa também pelas eleições municipais.
Paim é um dos principais críticos ao modelo de ajuste fiscal que vem sendo implementado pelo governo. No último dia 26, foi um dos três senadores petistas - ao lado de Lindbergh Farias (PT-RJ) e de Walter Pinheiro (PT-BA) - que votaram contra a MP 665, que restringe o acesso a benefícios trabalhistas como seguro-desemprego e abono salarial. No dia seguinte, acompanhou a bancada votando a favor da MP 664, que altera benefícios previdenciários, mas o fez somente porque o texto incluía a flexibilização do cálculo para aposentadoria integral, o chamado fator previdenciário.
Para o parlamentar, o fato de o governo "ter recuado bastante" no conteúdo das duas MPs permitiu que ele permanecesse no partido este ano. Um eventual veto da presidente Dilma Rousseff à emenda do fator previdenciário poderia ser decisivo na escolha do senador.
- Se ela vetar, vamos trabalhar com unhas e dentes para derrubar o veto de qualquer jeito no Congresso. Aí, o confronto vai ser inevitável - resumiu.