Desde 2007 acompanho a luta de Mendes Ribeiro Filho contra um câncer descoberto meio que por acaso. Retirado o tumor, levou uma vida normal nos anos seguintes, até ser surpreendido com a volta do pesadelo, no melhor momento de sua carreira política. Entrevistei-o em Brasília logo depois da cirurgia, quando estava licenciado do cargo de ministro de Agricultura.
Ao lado da mulher, Fernanda, e de um dos dois filhos, impressionou a mim é à colega Carolina Bahia pela vontade de viver. Fazia planos de curto, médio e longo prazos. Tinha uma fé inabalável na recuperação. Tão logo recebeu autorização dos médicos, reassumiu o cargo, mas já não era o mesmo. Tinha lapsos de memória, dificuldade para se locomover e cansaço incomum para quem sempre esbanjou energia, cortando o Estado em campanhas eleitorais.
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Mendes Ribeiro deixa a vida pública
A presidente Dilma Rousseff, sua amiga desde os tempos da Constituinte estadual, da qual foi relator, entendeu que precisava deixar o ministério. Ela conhecia os efeitos devastadores do tratamento. Incluo-me entre os que atribuíram a demissão de Mendes ao jogo de interesses do PMDB, mas, tempos depois, ouvi dele que não guardava mágoa. Seguia fiel a Dilma.
Mendes voltou para a Câmara e tentou exercer o mandato de deputado federal, mas a ponte aérea Porto Alegre-Brasília lhe era cada vez mais difícil. Há um ano, foi convencido pela família de que era chegada a hora de se aposentar. Eu estava em seu apartamento, fazendo a última entrevista, quando Fernanda recebeu de Brasília um torpedo informando que a aposentadoria fora homologada. Mendes chorou diante de mim, de Fernanda e do publicitário Zeca Honorato, seu biógrafo. Acabava ali a carreira política de um homem que sonhou ser governador do Estado, mas foi derrotado por um adversário que a medicina ainda não conseguiu vencer.
Conheci Mendes Ribeiro Filho muito jovem, em um tempo em que era ofuscado pelo brilho do pai, o jornalista Mendes Ribeiro, seu ídolo e inspiração. Espírita como o pai, acreditava que, de algum lugar, o velho Mendes o ajudaria a enfrentar a doença. Tinha especial preocupação em não alarmar a mãe, dona Terezinha, que rezava por ele nas missas de domingo.
Acompanhei sua trajetória de vereador, secretário da Justiça, deputado estadual, chefe da Civil, deputado federal, ministro. Era um conciliador, que respirava política e sentia falta do abraço e do aperto de mão. Nos últimos anos, ficou no grupo minoritário do PMDB gaúcho fiel a Dilma.
Em novembro do ano passado Mendes fez a última aparição pública. Foi um dos homenageados nos 25 anos da promulgação da Constituição Estadual. Estava debilitado, mas pediu para ir e ditou uma mensagem de agradecimento. Publiquei na coluna a foto desse derradeiro ato. Dois dias depois foi internado na UTI do Hospital São José, da Santa Casa. Nesse período, a família foi avisada várias vezes de que o fim estava próximo, mas ele resistia. Era um homem com tanta sede de viver que espantava médicos e enfermeiras com sua resistência. Na noite de sábado, a chama se apagou. Com o perdão do clichê, descansou.
Confira fotos do velório: