Uma pessoa assassinada a cada dois dias. Esse é o saldo registrado desde o último dia 7. Desde então, foram seis assassinatos, sendo quatro homicídios e dois latrocínios, o chamado roubo com morte. O latrocínio mais recente foi registrado na manhã de terça-feira, quando o dono da Padaria Phoenix, Sérgio Renato Dalla Costa, 57 anos, foi morto com um tiro na cabeça durante um assalto frustrado em seu estabelecimento, localizado na Avenida João Machado Soares, em Camobi.
Com isso, Santa Maria chegou ao número de 25 pessoas assassinadas este ano, quase metade delas nos últimos dois meses. Foram seis mortes violentas em abril e seis em maio, e isso que o mês ainda não terminou. O número de assassinatos é menor em relação ao mesmo período do ano passado, quando, no mesmo período, 32 pessoas já haviam perdido a vida. Maio de 2014 ainda contabilizou outros dois homicídios, chegando a 34, em um ano que terminou com 50 assassinatos. Apesar de os números totais de 2015 serem menores que os do ano passado, o sentimento de insegurança parece ter aumentado nos últimos dias.
As motivações dos crimes são as mais diversas. Os principais fatos são relacionados com o tráfico de drogas, mas há casos registrados por cobrança de dívida, rixas e também por motivação passional. Os locais onde eles ocorreram também são variados. Ao total, 13 bairros e o centro da cidade foram os escolhidos ou deram a oportunidade para que os autores praticassem o crime. O centro e os bairros Salgado Filho e Passo D'Areia são os que mais tiveram mortes, com três cada.
Durante a tarde de terça-feira, autoridades de segurança pública de Santa Maria estavam envolvidas em reuniões. Elas reforçam que estão preocupadas com a criminalidade e que vão intensificar esforços para que o número de mortes continue abaixo do registrado em 2014. A Brigada Militar, responsável pela prevenção dos crimes, afirma que continuará com operações, principalmente nos bairros, para desarmar pessoas, tirar das ruas indivíduos com pendências judiciais e diminuir o tráfico de drogas.
_ Estamos trabalhando em cima desses três elementos, principalmente em locais em que o setor de inteligência tem nos passado informações e onde identificamos maiores índices de criminalidade. Esse trabalho é contínuo. Também ficamos preocupados cada vez que acontece um crime, por isso, vamos apertar as abordagens _ afirma o comandante do 1º Regimento de Polícia Montada da Brigada Militar, major Paulo Antônio Flores.
Para o professor do Centro Universitário Metodista (IPA) e doutor em Sociologia Marcos Rolim, os últimos crimes não representam uma tendência de crescimento de homicídios:
_ Homicídios são crimes graves e que criam temor, mas, em geral, são mais regulares. Se, no ano passado foram 50, este ano serão 48, 51, não varia muito. Eles geralmente acontecem em regiões muito determinadas, onde a violência acontece repetidas vezes, geralmente periferias. Os policiais estão onde há pressão, como em áreas comerciais. Na periferia, não _ argumenta.
Mais da metade das vítimas já estiveram presas
Para o delegado regional, Marcelo Arigony, e para o titular da Delegacia Especializada em Furtos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), Sandro Mainerz, os sistemas prisional e judiciário têm uma parcela de responsabilidade pelos números alarmantes na criminalidade. Conforme Meinerz, 16 dos 25 mortos este ano tinham passagem pela cadeia ou pelo Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) ou ainda cumpriam pena. Quatro estavam em liberdade condicional, dois em liberdade provisória, dois no regime semiaberto, dois eram foragidos, três haviam cumprido pena em penitenciárias e três eram egressos do Case.
Além disso, oitos suspeitos apontados como autores dos assassinatos já tinham registro de crimes contra a vida, como tentativa de homicídio e homicídio.
_ Aos fazer um Raio X das vítimas e dos autores, chama a atenção o envolvimento deles com drogas e com o sistema prisional. Mas, sem dúvida, o maior fator de motivação ainda são as drogas. É um crime (homicídio) difícil de resolver, mas é preciso acabar com o sentimento de impunidade _ diz Meinerz.
_ A ameaça de pena não funciona mais como inibidor da criminalidade porque, para quem está no sistema prisional, o sistema não se faz mais sentir. Por isso, o altíssimo índice de reincidência. As polícias ficam fazendo retrabalho, reprendendo quem já deveria estar preso por crimes graves. Ao fim e ao cabo, é desperdício do dinheiro público. Por mais eficientes que as polícias sejam, a eficácia social é zero _ desabafa Arigony.