Milhares de miseráveis africanos têm arriscado a pele na tentativa de atravessar o Mar Mediterrâneo e chegar à Europa. Oprimidos, vítimas de guerras, doenças, fome e perseguições religiosas, buscam a salvação. É questão de vida ou morte. Muitos não resistem às agruras da viagem e morrem de exaustão pelo caminho. Outros encontram o fim no naufrágio dos barcos superlotados que os transportam. Embarcações que lembram os horrores dos tempos da escravidão. Um atentado à vida patrocinado por traficantes inescrupulosos, que cobram caro pela travessia e, não raro, deixam homens, mulheres, velhos e crianças entregues à própria sorte.
As condições de viagem são de tal forma perigosas que mais de 16 mil pessoas morreram nas fronteiras europeias desde 1988, sendo que 9 mil desapareceram no mar. Mais próximos da África, os países do Sul da Europa, principalmente a Itália, são os mais visados para os desembarques. Somente no último fim de semana, a guarda costeira italiana resgatou das águas do Mediterrâneo cerca de 6 mil africanos. É um drama humanitário que exige uma ação coordenada dos 28 países integrantes da Europa.
Leia outras colunas de Antônio Carlos Macedo
Saques e mortes
Os europeus não podem dar de ombros para tamanha desgraça. Como os clandestinos vão continuar chegando, só existem duas soluções: intervir de modo mais firme para garantir a estabilidade dos países africanos em guerra ou aceitar os imigrantes como refugiados políticos.
Como a primeira tarefa é quase impossível, a Europa precisa criar mecanismos conjuntos capazes de absorver os fugitivos africanos. Se cada país puxar para um lado, o drama só tende a piorar. Aí, sempre haverá espaço para absurdos como o proporcionado pela Bulgária, que já construiu 32km de muro na fronteira com a Turquia para conter o fluxo migratório. Os europeus, durante séculos, atacaram, mataram e saquearam povos em todas as partes do planeta. Quem possui dívida histórica desse porte tem a obrigação moral de se envolver e encontrar uma solução para situação tão grave. É longe daqui e não temos nada a ver com isso? Penso diferente. O mundo é um só, somos todos seres humanos e não dá para admitir que as nações ricas vivam em redomas, alienadas dos problemas da humanidade.
Leia outras notícias do dia