Criado para tratar dependentes químicos e alcoolistas, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps/Reviver) está sendo desvirtuado. É o que indicam denúncias investigadas pelo Ministério Público (MP).
Homens e mulheres em processo de desintoxicação ou participantes de terapias preventivas teriam acesso a crack e outras substâncias sem muita dificuldade. O consumo ocorreria no pátio e dentro do serviço, o que significa uma afronta ao programa que visa resgatar pessoas do vício. A Secretaria Municipal da Saúde admite que o uso de drogas ocorre no lado de fora, mas rechaça a possibilidade do problema ter migrado para alas internas.
O suposto descontrole se agravou nos últimos meses, e aponta para uma possível facilitação na entrada de substâncias ilícitas no ambiente do Caps Reviver. A sabotagem pode estar ocorrendo de duas formas: pacientes trazem a droga para colegas ou o repasse é por meio de pessoas ainda não identificadas.
Mensalmente, o município aplica verbas próprias, do Estado e da União para manter o atendimento. Se o uso de drogas e bebidas alcoólicas persiste no local de tratamento é sinal de que os recursos são gastos em vão entre alguns pacientes.
Internos que tentam se manter afastados do inferno do crack já reclamaram e pediram mais atenção contra o problema. Há também desconforto entre os técnicos. A Guarda Municipal inclusive reforçou a segurança.
O descontrole chegou ao ápice na noite de 16 de abril. Dois pacientes estariam usando drogas no matagal ao lado e brigaram. O homem agrediu a mulher com pedradas e golpes de chave de fenda. A Brigada Militar (BM) foi acionada, mas o agressor já havia deixado o local. A mulher sofreu lesões no nariz e na cabeça, mas preferiu não representar contra o autor.
Relatos de pacientes à reportagem mostram que viciados mais discretos optam por um matagal ao lado. Quando a fissura é grande, a vontade é saciada nos fundos da instituição ou sob árvores. A reportagem encontrou garrafas de bebidas vazias pelo chão e cigarros com pontas cortadas para supostamente mesclar crack.
Sem saber que conversava com um jornalista, um paciente que descansava no lado de fora admitiu:
- Rola droga aí tipo bicho, mas não fala nada. Tem que gente que traz droga pra fumar aqui fora. Eu saí louco porque eu vi a gurizada usando. Vi o pessoal aqui fora e vim usar. Foi ontem.
O jovem também apanhou bitucas de cigarro do chão e complementou:
- Isso aqui é o pitico. Tu coloca o crack aqui no meio e fuma.
Além do Caps Reviver, a prefeitura de Caxias também trata viciados em drogas no Centro de Atenção à Vida Novo Amanhã (bairro São Ciro). Não há relatos sobre problemas no Novo Amanhã.
Descontrole
Pacientes denunciam consumo de crack em centro de tratamento de Caxias
Uso ocorreria no pátio e possivelmente nas alas internas do Caps Reviver
Adriano Duarte
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