Um dia após o governo do Rio de Janeiro anunciar a reocupação do complexo de favelas do Alemão, familiares de vítimas da violência na região criticaram a política de segurança pública do Estado e a atuação da Polícia Militar. Relatos de tiroteios, ofensas aos moradores e proibições para realizar festas e cultos foram feitos em reunião com deputados nesta segunda-feira.
O encontro ocorreu no gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (PT-RS) participou da reunião junto com o também deputado e membro da comissão Jean Wyllys (PSOL-RJ).
Moradores do complexo de favelas, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, descreveram a tensão dos últimos meses, em que são registrados tiroteios diários entre policiais e traficantes. Na semana passada quatro pessoas morreram no Alemão, entre elas Elisabete de Moura.
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- Minha mãe morreu com um tiro nas costas dentro de casa. Ela ouviu o tiroteio, fechou a porta e foi baleada por um policial. Ela só queria proteger os filhos. Eu vi o policial que matou minha mãe. Nada do que eu disser vai trazer minha mãe de volta - disse Maycon Moura, filho de Elisabete.
Já Adenize de Moraes da Silva perdeu o único filho, Caio, em maio do ano passado. Mototaxista, ele foi morto por uma bala perdida durante uma manifestação no Alemão. O rapaz completaria 21 anos nesta segunda-feira.
- O policial que matou meu filho tinha 40 dias de polícia militar. Como colocam uma pessoa sem experiência com uma arma na mão dentro da comunidade? - questionou.
Moradores relataram que as crianças que vivem nas favelas do Alemão sentem medo de ir à escola em virtude dos confrontos diários. O pastor José Carlos Ramos criticou a necessidade de pedir autorização para os policiais das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) para realizar cultos e comemorações da igreja.
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- Ficamos dois meses sem poder organizar um culto. É a situação mais tensa dos últimos 50 anos - disse.
O deputado Marcelo Freixo criticou a intenção do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, de intensificar a presença das forças policiais nas favelas, ocupadas em 2010.
- O discurso do governador é da guerra. Talvez fosse uma boa o governador despachar do Alemão durante um mês para poder ouvir o relato dos moradores, não apenas a versão policial - afirmou Freixo.
Após a reunião dos moradores com políticos, ficou decidido que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara realizará uma audiência pública, ainda sem data confirmada, no próprio Alemão. A intenção é ouvir e apurar eventuais violações contra a comunidade e tratar da situação de trabalho oferecida aos policiais militares.
- Queremos que a fala da comunidade faça parte da versão construída sobre os acontecimentos, e não apenas o relato policial - destacou Pimenta.
O deputado visitou parte do complexo de favelas do Alemão acompanhado de lideranças das comunidades locais. Ao longo do trajeto, policiais armados com fuzis circulavam pelo espaço, descendo e subindo as escadarias.
O deputado foi até a casa do menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos. A criança foi uma das quatro vítimas do Alemão nos confrontos entre policiais e traficantes na última semana.