Mensagens trocadas entre assessores do deputado estadual Mário Jardel (PSD) indicam que o gabinete do parlamentar foi cenário de uma disputa por cargos que culminou na demissão de 17 funcionários na semana passada.
Um dos grupos do conflito incluiu os quatro assessores mais próximos de Jardel que foram exonerados e recontratados com salários até quatro vezes maiores. O outro, derrotado, tinha representantes ligados à estrutura partidária do PSD no Estado.
Por meio do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, os atuais funcionários do parlamentar comemoraram a vitória sobre os servidores demitidos, de quem herdaram os cargos e as remunerações, e deixaram implícito que teriam exercido influência na decisão do deputado de trocar a equipe.
"Eu não mandava na minha casa", disse Jardel sobre exonerações
Jardel não fez discurso ou apresentou projeto na Assembleia
- A gente não pode dar como uma guerra vencida. A gente venceu essa batalha, estamos bem na foto, mas essa recuada deles pode ser estratégica (referência ao silêncio dos exonerados após deixarem os cargos). Eles podem estar armando alguma coisa - declarou, logo após a formalização das 17 exonerações, o servidor Roger Antônio Foresta (ouça a declaração na íntegra abaixo).
Foresta, que tinha cargo de Assessor IV com salário de R$ 4,4 mil, passou a responder como chefe de gabinete de líder na Coordenadoria da Bancada do PSD com vencimentos de R$ 16,8 mil. Além dele, Walmir Yemi Martins, Ricardo Fialho Tafas e Francisco Demétrio Tafras garantiram promoções polpudas: passaram de assessores de nível III para VI, com ganhos que saltaram de R$ 3,8 mil para R$ 7,1 mil.
Em outra mensagem, Foresta comemora a decisão dos demitidos de maior importância (João Batista Portella Pereira e Marcos Aurélio Chedid, indicados pelo PSD) e do vice-governador do Estado e presidente estadual do partido, José Paulo Cairoli, de ficar em silêncio após a destituição do gabinete. Ao final, declara: "parabéns a todos, foi um sucesso o que a gente fez" (ouça na íntegra logo abaixo).
- O Portella (ex-coordenador da bancada do PSD na Assembleia) também acaba de ligar para o Ricardo (Ricardo Fialho Tafas, assessor de Jardel) dizendo que tem de deixar como está para a coisa se acalmar, porque o vice-governador já disse que não vai falar nada contra o Jardel, que não vai prejudicar o partido por causa deles, então já veio também roer a corda para que as coisas não tomem outras proporções.
Foresta lembra, ainda, que um único líder do PSD protestou publicamente contra a queda do gabinete:
- O único que está dando pulinhos ainda é o galinho, né, que vocês sabem quem é, mas que logo, logo vai baixar a crista dele também porque viu que não vai ter apoio de ninguém.
Segundo o ex-assessor de Jardel Cristian Lima, que atuou como chefe de gabinete durante uma semana, foi dispensado antes mesmo de sua posse ser oficializada e também fazia parte do grupo no WhatsApp, o "galinho" seria o deputado federal Danrlei de Deus. Danrlei emitiu uma nota rompendo com Jardel após a exoneração da equipe que contava com seu aval.
Conforme Lima, o grupo de assessores remanescentes decidiu enfrentar a hierarquia partidária do PSD por se sentir desprestigiado na distribuição de cargos dentro da Assembleia. Para isso, teriam "feito a cabeça do deputado" contra os demais colegas sob argumentos como o de que tentavam mandar nele.
- Na verdade, queriam mais poder e decidiram enfrentar a cúpula do partido - declara o ex-assessor.
Cristan se diz arrependido de ter feito críticas à administração anterior do gabinete e conta que os quatro servidores mantidos isolaram-no de Jardel para também forçar sua dispensa.
- Disseram que eu me intitulei chefe de gabinete. Ora, eu vinha trabalhando junto com o Jardel há mais de um mês e cheguei a fazer exame admissional na Assembleia. Minha nomeação seria publicada na sexta passada - sustenta Lima.
Zero Hora procurou ouvir os atuais assessores do deputado Mário Jardel, mas foi informada de que somente a assessoria de comunicação do gabinete poderia se pronunciar por determinação do próprio parlamentar. A assessoria declarou que, se houve alguma disputa, já foi superada, e o caso é considerado encerrado.