Pesadelo antigo dos candidatos a motorista, o exame prático para condução de automóveis é um obstáculo cada vez mais difícil de ser superado no Rio Grande do Sul. Nos últimos 15 anos, a média de reprovação dobrou - passou de 32% para 65% dos pretendentes.
Projetos destinados a melhorar o desempenho dos alunos dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) não tiveram ainda o impacto esperado, como o simulador de direção, ou não saíram do papel, como a instalação de câmeras nos veículos de prova.
Conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), 32,58% dos candidatos a portar uma carteira do tipo B (para automóveis) fracassaram no exame em 1999. Em 2014, nada menos do que 65,64% dos que se submeteram ao teste para essa categoria específica acabaram barrados - um crescimento de 101% na média de reprovação em 15 anos.
Como resultado, no ano passado a reprovação na prova prática atingiu o pico desde a implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) no Rio Grande do Sul, em 1997. O primeiro mês deste ano confirmou a tendência de elevação e fechou com 66,82% dos candidatos barrados ao buscar habilitação. Para a psicóloga especialista em trânsito Luciane Brisotto, uma série de razões ajuda a explicar o fenômeno.
- Muitos alunos fazem o mínimo de 20 horas-aula e já pensam que estão prontos. Além disso, todo o curso é muito voltado para a realização da prova, o que aumenta a ansiedade dos candidatos - afirma Luciane.
Entre outros fatores, a psicóloga acredita que a realização do teste de baliza antes do percurso de rua, como é o padrão, também traz dificuldades adicionais. O candidato precisa fazer movimentos mais precisos justamente no início do exame, quando está mais nervoso.
Porém, como essas situações não são novas, outros motivos devem contribuir para a constante elevação das reprovações. Uma delas é o rigor do Detran com o nível do exame como estratégia para combater a mortandade no trânsito. Em nota, o órgão diz que "os índices de reprovação crescem na mesma medida em que aumentam os índices de acidentalidade. Portanto, o que pode ser considerado muitas vezes rigorismo é não só o cumprimento estrito da legislação de trânsito, mas também uma resposta à sociedade com relação à violência no trânsito".
- O pensamento do Detran é que temos de preparar para a vida, não para a prova, e para isso seguimos normas nacionais - argumenta o diretor-geral do Detran, Ildo Mário Szinvelski.
No ano passado, 2.023 pessoas morreram nas ruas e estradas do Estado, 2% a mais do que em 2013. Comparações com alguns outros Estados indicam que o Detran gaúcho mantém padrões de exigência no teste semelhantes aos de outras regiões: em Minas Gerais, por exemplo, nada menos que 71,9% dos pretendentes rodaram na prova prática para a categoria B em 2014. No Rio de Janeiro, foram 61%.
A CPI do Detran, em 2008, também analisou o baixo aproveitamento nos exames de direção para averiguar a possibilidade de que isso fosse motivado pela intenção de aumentar os lucros dos CFCs ou destinar recurso para corrupção. A conclusão foi de que não haveria desonestidade nas reprovações, já que a tendência de quem é reprovado "é mudar de examinador e procurar outro CFC". O custo mínimo para tirar carteira B, hoje, é de R$ 1.715,19.
O Detran informou ainda que pretende intensificar o monitoramento sobre a formação de instrutores e examinadores a fim de melhorar o aproveitamento dos candidatos a motorista. O Sindicato dos CFCs no Estado não se manifestou porque seu presidente se encontrava em viagem.