O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi recebido com beijo gay, apitaço e xingamentos na sede da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, na manhã desta segunda-feira, onde esteve para participar do fórum Reforma Política: Visões para Construir a Mudança. A manifestação foi tão ruidosa que, além de causar constrangimento às autoridades, acabou esvaziando e atrasando em mais de uma hora o início do evento, promovido pelo Parlamento.
Desde cedo, integrantes de movimentos em defesa dos direitos LGBT, como o grupo Nuances, da Capital, aguardavam a chegada do desafeto com faixas nada amistosas - a maioria atribuindo ao evangélico adjetivos como "machista", "homofóbico" e "corrupto". O ato também teve o apoio de coletivos como o Juntos e a Assembleia Nacional de Estudantes Livres (Anel), ligados, respectivamente, ao PSOL e ao PSTU.
- Além de representar o que há de mais conservador no Brasil, ele (Cunha) não tem a menor condição de debater reforma política - disse Matheus Gomes, 23 anos, militante do PSTU, ligado à Anel e ao Bloco de Luta pelo Transporte Público, que agitou os protestos de junho de 2013 na Capital.
Ao chegar à Capital, por volta das 9h15min (45 minutos atrasado), Cunha foi direto ao Palácio Piratini, onde permaneceu por quatro minutos com o governador José Ivo Sartori, o ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha e o vice-presidente da República Michel Temer, colegas de partido. Os quatro participariam da abertura do evento e, para evitar as vaias, decidiram atravessar a rua de carro até o Legislativo.
Enquanto isso, os manifestantes entraram no Teatro Dante Barone, onde ocorreria o fórum, dispostos a fazer barulho. Foram obrigados a deixar faixas e bandeiras do lado de fora, mas conseguiram passar pelos seguranças com apitos e cartazes.
Pouco antes das 10h, quando as autoridades começaram a ser anunciadas, os insatisfeitos deram início à ação, bradando "fora Cunha". Do palco, o deputado observou o ato passivamente, sem sinais de nervosismo. Ao redor dele, o clima era de constrangimento. Até Sartori, que costuma fazer brincadeiras, fechou o cenho.
O coro aumentou durante a execução do hino nacional, que teve o volume ampliado na tentativa de abafar as vozes divergentes. "Eu beijo homem, eu beijo mulher! Tenho o direito de beijar quem eu quiser", repetiam os manifestantes.
Por quase 20 minutos, eles gritaram tão alto que o presidente da Assembleia, Edson Brum, também do PMDB, teve de berrar ao microfone, pedindo "compreensão". Como não foi atendido, declarou suspensa a sessão e foi até o grupo negociar.
Não adiantou. A saída encontrada foi transferir o evento para o plenário, sem alarde, sem truculência e sem a presença de nenhum manifestante.
Às 10h30min, a cerimônia finalmente teve prosseguimento, com algumas cadeiras vazias e com Cunha na tribuna, falando a um público restrito. Conhecido pelas posições conservadoras como parlamentar, criticou os críticos pela "intolerância", por não terem sequer respeitado sequer o hino nacional.
Por que Eduardo Cunha é alvo de protestos
- Desde que ele virou presidente da Câmara, pautas conservadoras ganharam espaço.
- Entre elas, o Estatuto da Família, projeto controverso que define família como aquela composta apenas por homem e mulher e que veda a adoção por casais homossexuais. Ele também é autor do projeto que cria o dia do "orgulho hétero"
- Cunha é radicalmente contra o aborto e avisou que dificultará qualquer mudança na legislação.
- Ele pretende acelerar votação de projeto que reduz a maioridade penal.
- É investigado na Operação Lava-Jato, por suspeita de envolvimento nos desvios da Petrobras