Integrantes do Ministério Público argentino lideraram, nesta quarta-feira, uma grande passeata silenciosa em Buenos Aires, um mês após a misteriosa morte do procurador Alberto Nisman.
Ele acusava a presidente Cristina Kirchner por acobertar suspeitos do Irã pelo atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) - o atentado deixou 85 mortos que se somaram aos 29 de ataque ocorrido dois anos antes, contra a embaixada de Israel (no total, portanto, 114 mortes). A manifestação, ocorrida sob uma chuva fina, é chamada de "18-F", em referência à data escolhida - 18 de fevereiro.
O governo vem criticando o protesto, definindo-o como parte de uma manobra "golpista". A presidente diz que a própria denúncia de Nisman é uma maquinação para prejudicá-la.
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A caminhada se iniciou no Congresso, onde uma multidão se juntou, sempre em silêncio. A ideia era de que a ausência de palavras simbolizasse a morte do procurador.
Horas antes, Cristina falou, em ato público transmitido por rede nacional de TV, adotando tom nacionalista, ao lembrar conquistas energéticas do país, mas evitando citar a passeata ou o caso Nisman.
O procurador foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento, com um tiro na cabeça, às vésperas de apresentar a denúncia contra a presidente no Congresso. Um mês depois de sua morte, a investigação ainda não esclareceu se ele se matou, foi assassinado ou se teria sido induzido ao suicídio.
Embora as primeiras declarações da promotoria tenham indicado que Nisman cometera suicídio, desde então apareceram provas que colocam em dúvida essa versão - não havia pólvora em suas mãos, ele não deixou carta de despedida, fizera lista de compras para o dia seguinte no supermercado e, além de não ter perfil suicida, estava próximo de um momento profissional importante. Na última sexta-feira, a procuradora que investiga o caso, Viviana Fein, ainda coletava provas no apartamento de Nisman.
Por sua vez, Cristina adicionou incertezas ao caso. Em cartas publicadas no Facebook, a presidente primeiro sugeriu que Nisman poderia ter cometido suicídio. Dois dias depois, afirmou "não ter provas, nem dúvidas" de que o promotor não se matou.
Não bastasse o mistério sobre a morte de Nisman, o procurador que o substituiu denunciou Cristina na Justiça, utilizando-se, como subsídio, do trabalho que seria apresentado ao Congresso.
* ZH e agências