Acostumando a tirar notas boas e ter um comportamento exemplar na escola, Cristian Kolberg, 10 anos, não despertou muita preocupação dos familiares ao ir mal nas provas de matemática da 4ª série do Ensino Fundamental. Há dois anos o menino havia passado de uma escola pública para uma particular, e mais recentemente se mudou da casa da mãe para viver com o pai e a madrasta, em Canoas. Aparentemente reagindo bem à nova vida, foi na escola que Cristian manifestou sua angústia.
- Ele começou a tirar algumas notas ruins e disseram para pegarmos leve com ele, já que deveria ter muito envolvimento emocional nesta questão. Então fomos deixando o tempo passar para ver se ele melhorava sozinho, o que não aconteceu - conta a madrasta, a analista de planejamento Suelen Soares Kolberg, 30 anos.
Conflitos externos à escola, explica a psicóloga e psicoterapeuta infantil Tatiana Prade Hemesath, podem recair sobre o contexto escolar, já que o colégio é o principal ambiente, depois da família, em que a criança está inserida.
- O descaso com os estudos e o baixo interesse em render bem na escola estão, muitas vezes, atrelados a questões de baixa autoestima, problemas familiares e sentimento de desvalia - afirma Tatiana.
Apesar das notas baixas, a falta de interesse pela matemática não foi facilmente percebida pelos familiares de Cristian, que passavam grande parte do dia no trabalho.
- Fomos um pouco relapsos nesta parte. Como ele fazia os temas na escola, achávamos que estava tudo bem, não ficamos cobrando nada. Só quando a situação se agravou é que o pai de Cristian tomou atitudes mais sérias - lembra Suelen.
Tatiana destaca que é vital a participação dos pais em cada etapa do ano letivo, comparecendo aos eventos da escola, ajudando o filho a organizar a rotina de estudos e demonstrando interesse nos conteúdos aprendidos:
- Se os pais conseguem ser participativos no que ocorre na relação entre criança e escola, ela vai aprender a valorizar seu aprendizado também. É papel da família cobrar de seus filhos o estudo como rotina durante o ano todo e não apenas no final. Vale lembrar que os pais são sempre os modelos para seus filhos nos anos de desenvolvimento.
Após seguidas conversas com os professores e coordenadores, o pai de Cristian estabeleceu uma carga horária rígida de estudo. Ao longo de todo o último trimestre, o menino ficou privado de brinquedos, TV e videogame. A recompensa não veio de primeira - precisou encarar a prova de recuperação, no final de dezembro, depois que os demais colegas já estavam de férias.