O recorde de mortes de pinguins da espécie Magalhães no litoral do Estado preocupa pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em apenas uma semana, 731 animais foram encontrados mortos nos cerca de 45 quilômetros entre as praias de Tramandaí e Balneário Pinhal. É o maior índice desde 2012, quando o monitoramento começou a ser feito.
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No mês, já passa de 1,3 mil registros. O resultado levou a outro recorde: faltando mais de quatro meses pra encerrar o ano, os pesquisadores já contabilizam 1.856 mortes. Número que já ultrapassou o total registrado em todo o ano passado (1.755 pinguins) e todo o de 2012 (1.194).
Segundo o diretor substituto do Ceclimar e doutor em Zoologia, Ignacio Benites Moreno, a grande maioria dos animais encontrados é jovem (com menos de um ano de vida) e, portanto, inexperiente. A maior parte deles não tinha lesões externas ou manchas de óleo, o que leva os pesquisadores a acreditarem que a mortalidade é fruto do processo de seleção natural. Porém, há outros fatores que também influenciam.
- Muitos pinguins têm sido encontrados com lixo no estômago indicando que a poluição marinha já está atingindo significativamente uma parcela da população - disse Moreno.
Um segundo fator que pode estar colaborando para a mortandade seriam os poluentes químicos. Por último, os pesquisadores apontam a intensidade do El Niño como possível causa, pois o fenômeno oceanográfico modifica, entre outras coisas, as correntes marinhas e altera também o padrão de disponibilidade de alimento.
- Ele pode fazer com que os animais não encontrem comida, ficando mais suscetíveis às ações antrópicas. Esse problema, potencializado pela ingestão de resíduos sólidos, capturas acidentais em redes de pesca e a poluição crônica dos mares, pode agravar ainda mais a sobrevivência da espécie - conclui Moreno.
Um estudo realizado pelo Ceclimar detectou resíduos plásticos no estômago de 43,8% dos animais analisados. Conforme o veterinário Derek Blaese, o plástico fica acumulado no sistema digestivo e causa aos animais uma falsa sensação de estar nutrido.
QUE PINGUIM É ESSE?
Segundo o Biólogo do CECLIMAR, Maurício Tavares, o pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) é uma espécie que se reproduz nas costas leste e oeste da América do Sul, desde o Chile até a Argentina. Todos os anos após a fase reprodutiva, os indivíduos realizam a troca da plumagem, processo esse denominado de muda e que antecede os deslocamentos anuais da espécie. Acredita-se que os indivíduos que se reproduzem nas colônias mais ao norte da distribuição da espécie, como na Península Valdés e Punta Tombo, possam atingir a costa brasileira.
*Zero Hora