O matraquear ensurdecedor das hélices de helicópteros e tiros para o alto marcaram a maior operação policial em três anos no Rio de Janeiro.
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Às5h15min, com a noite ainda fechada, mais de mil PMs e dezenas de policiais civis começaram a percorrer, lentamente, as ruas do Complexo da Maré, conjunto de 16 favelas situadas na Zona Norte carioca. O objetivo é desalojar dali mais de 500 traficantes ligados a duas facções criminosas, o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP).
O local é estratégico, porque fica próximo ao Aeroporto Internacional Tom Jobim e entre as três principais vias do Rio: a Avenida Brasil e as linhas Amarela e Vermelha. Caso consiga expulsar os bandidos, a ação vai implentar um "cordão sanitário anticrime" num ponto nevrálgico da cidade, a poucos meses da Copa do Mundo.
A ação dos policiais militares e civis antecede em uma semana a ocupação territorial permanente da Maré, que será feita pelo Exército. As Forças Armadas já estão colaborando hoje com as polícias. A Marinha forneceu blindados para ruptura de barricadas de concreto que os traficantes costumam montar, para retardar o avanço de policiais.
Além de ocupar o Complexo da Maré, onde vivem 130 mil pessoas, os policiais se preparam para fazer vistorias e prisões em flagrante. São acompanhadas por delegados da Polícia Civil, munidos de mandados de busca e, inclusive, alguns de prisão. Veículos Piranha da Marinha foram utilizados para transportar os policiais.
É convicção geral que a maioria dos traficantes já saiu da Maré, assustada com a proximidade da ação policial. E por que a PM avisou que iria ocupar, sem efeito surpresa? Muita gente estranha isso, mas a realidade é que as autoridades desejam, assim, evitar um banho de sangue.
É dada aos bandidos, dessa maneira, uma oportunidade de se renderem ou fugirem sem disparar tiros. Lógico que o ideal seria prendê-los, mas não é fácil prender mais de 500 pessoas sem disparos, pondera um oficial do Bope (Batalhão de Operações Especiais, a tropa de elite da PM fluminense) ouvido por Zero Hora.
Para evitar a fuga dos bandidos nas últimas horas, a PM montou barreiras nos principais acessos da Maré. Isso inclui a Ilha do Governador (onde está o Aeroporto Tom Jobim), a Avenida Brasil e as linhas Amarela e Vermelha. Todos que passam são revistados e precisam se identificar.
A tática tem dado certo. Na última semana, após o anúncio de que a Maré seria ocupada, as polícias Militar, Civil e Federal prenderam 57 suspeitos saindo dessas favelas ou escondidos lá. Foram apreendidas também 15 pistolas, três fuzis e seis revólveres, além de alguns quilos de cocaína.
Processo de pacificação
Polícia começa a ocupar o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro
Objetivo é retirar do conjunto de 16 favelas cerca de 500 criminosos de duas facções
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