Três anos após ser anunciado com pompas, um projeto para vigilância do Litoral Norte por meio de 156 câmeras tem apenas 52 equipamentos funcionando. A Brigada Militar atribui o problema à falta de manutenção e troca de gestores da Expert, empresa responsável pela implantação do sistema em um Consórcio Público firmado com a Associação dos Municípios do Litoral Norte.
O governo do Estado reconhece a necessidade de reparos permanentes e diz que até 3 de dezembro os 290 quilômetros de Tavares a Torres terão a maior rede de monitoramento da América Latina.
Zero Hora visitou a central de Osório, que vai capitanear as demais (Balneário Pinhal, Capão da Canoa e Tramandaí), e constatou alguns fatores que impedem a operação plena das câmeras. Além da maresia e do vento, que prejudicam as lentes, é preciso trocar peças como no-breaks e encontrar soluções para o bloqueio de sinal causado por árvores e prédios.
- As dificuldades que tivemos, já superamos. A empresa vai dar, no dia 3 de dezembro, a obra pronta, com todas as câmeras funcionando. O que estamos discutindo agora é quem vai fazer o acompanhamento - assegura o secretário-adjunto de Segurança Pública, Juarez Pinheiro.
Licitação não previa manutenção de equipamentos
A licitação para aplicar os R$ 12 milhões gastos pelo governo federal em recursos do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) não previa contrato de manutenção. Esse é o ponto fundamental para que as máquinas funcionem durante o ano inteiro, e não apenas no verão.
Municípios como Tavares, Xangri-Lá, Capão da Canoa, Rolante, Balneário Pinhal, Palmares do Sul e Mostardas sofrem com arrombamentos e outros crimes, que podem ser amenizados com o caráter inibitório das filmagens. Uma solução para um contrato de manutenção permanente está sendo buscada entre as prefeituras e o Estado.
O presidente do consórcio, Alexandre Dorneles Lopes, admite que os atrasos se devem também a um mal planejamento:
- O que era para ser pensado no início foi pensado depois. Caraá, Mostardas e Mampituba, por exemplo, estavam cotados para receber torres de transmissão de sinal, só que não haviam disponibilizado ainda a energia elétrica.
Mais otimista, o prefeito de Arroio do Sal e presidente da AMLINORTE, Luciano Pinto da Silva, promete que até o início da Operação Verão, em 20 de dezembro, estará tudo funcionando:
- A bandidagem vai pensar duas vezes antes de vir para cá. Será um grande Big Brother. Por onde eles andarem vai ter uma câmera monitorando com zoom de 500 metros.
"Está tudo atirado aqui"
Sala de monitoramento em Osório, no Litoral Norte
Foto: Harleyson Almeida
Na sala de controle das câmeras de vigilância em Osório, seis das oito telas que deveriam mostrar em tempo real a rotina da cidade pareciam ter voltado no tempo. Com as imagens chiadas - típicas das antigas televisões de tubo-, o que se via era uma estrutura moderna para uma operação atrasada.
- Esperávamos que fosse mais rápido o processo de implantação. Isso gera apreensão porque há expectativas da comunidade. É feita todo uma mídia, só que a coisa vem se arrastando. Dá um certo desgaste - analisa o comandante do 8º BPM, major Valdeci Antunes dos Santos.
A situação é semelhante em Tramandaí. Das 11 câmeras instaladas, apenas duas transmitem para a central.
- Elas não funcionam porque não tem material humano. Então, está tudo atirado aqui - comentou um policial que não quis se identificar.
Na área do 2° Batalhão de Polícia de Áreas Turísticas, que abrange de Nova Tramandaí a Torres, o pedido vem no mesmo tom.
- É uma ferramenta valiosa, mas necessita de manutenção. Caso contrário, nunca será 100% - salienta o tenente-coronel Paulo Ricardo Garcia da Silveira.
Para o secretário-adjunto de Segurança Pública, é preciso "bom senso" para resolver o impasse. Ele ressalta que ao todo serão 184 câmeras (mais 24 devem ser adquiridas) e não descarta o uso de militares da reserva para atuar nas salas de videomonitoramento:
- Tem de prevalecer o bom senso para a manutenção de um sistema desses. O município deve entrar com uma parte e vamos discutir a parte do Estado. O funcionamento terá nosso apoio para manutenção no inverno, eu garanto.
ENTENDA COMO VAI FUNCIONAR
Centrais locais:
- Cada município terá uma minicentral de videomonitoramento da Brigada Militar para acompanhar em tempo real as imagens das câmeras.
Centrais regionais:
- Haverá centrais regionais de videomonitoramento em Balneário Pinhal, Capão da Canoa, Tramandaí e Osório. Nelas, serão acompanhados grupos de municípios.
Grande central:
- Osório vai capitanear o sistema com uma grande central que poderá ver toda a região.
- Quatro estradas terão câmeras de identificação de veículos irregulares por meio das placas e que emitirá um sinal de alerta para as salas de comando dos batalhões de Capivari, Torres, Osório e Capão da Canoa.
- As câmeras possuem um zoom de 500 metros e possibilidade de giro de 360 graus.
- Os postes de algumas câmeras poderão ser acionados, por meio de um botão, para comunicação imediata com o quartel da BM.
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