O sumiço das parteiras do imaginário popular tem um motivo: quase a totalidade dos bebês brasileiros nasce em hospitais.
O dado é destacado por pesquisadores que participaram de um grande estudo, previsto para ser divulgado no final do mês, sobre saúde materno-infantil no país.
Coordenado pelo Centro Internacional de Equidade em Saúde da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o levantamento compilou informações coletadas a cada 10 anos em relação a uso de contraceptivo, consulta pré-natal, parto cesariana e parto em instituição de saúde. Os anos analisados foram 1986, 1996 e 2006, quando a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) foi feita.
O salto no número de partos em instituições de saúde foi o que mais chamou a atenção dos pesquisadores, já que o índice beira os 100% dos nascimentos em nível nacional. Na Região Sul, cujo índice era de 87,7% em 1986, chegou a 99,4% em 2006. E o Nordeste, que ficava bem atrás - 67,4% - quase chegou lá, registrando 98,2%, crescimento que chama a atenção para a região em todos os quesitos analisados.
Para a professora do programa de pós-graduação em epidemiologia da UFPel e integrante do Centro, Andréa Dâmaso, os dados não demonstram que o Sul esteja em más condições na comparação:
- Não significa que a região parou de crescer. Ao contrário. Há um avanço, embora menos significativo do que no Nordeste, até porque neste caso o potencial para evoluir era maior - explica.
Outro dado que comprova a redução da diferença entre as classes sociais é o uso do anticoncepcional, que chega a quase 80% em todos os níveis. Em 1986, apenas 28,5% das mulheres mais pobres utilizavam algum método contraceptivo. O índice subia para 76,2% nas classes mais altas.
Importante para garantir a saúde da gestante e do bebê, o pré-natal ainda não atingiu a abrangência considerada ideal, embora os índices também tenham crescido.
A pesquisa aponta que 79,3% das mães têm no mínimo seis consultas durante a gravidez. Entre as mulheres de baixa renda o índice cai para 67,4%. Já nas classes mais altas alcança 94% das mulheres.
A dona de casa Nádia de Almeida Castro, 35 anos, quer engrossar a estatística. Grávida do quarto filho, ela foi ao posto de saúde ao descobrir a gestação e, desde então, recebe visitas mensais de uma agente de saúde que marca as consultas para a mãe.
- Há um investimento em programas nacionais de saúde e de assistência como o Programa Saúde da Família, a Farmácia Popular, o Bolsa Família. A tendência é o crescimento ainda maior dessa cobertura - avalia o coordenador do Centro Internacional de Equidade em Saúde da UFPel, Aluísio Jardim Dornellas Barros.
Além dos programas sociais do governo - o Bolsa Família e a Farmácia popular foram criados somente em 2004 -, a criação do Sistema Único de Saúde, em 1989, pode ter sido responsável pelas melhorias, indica o pesquisador. Mas, apesar do crescimento no acesso, ainda há diferença na qualidade do serviço oferecido na rede pública e privada.
- No âmbito privado, há muito mais condições. Estou disponível sempre, com celular, e-mail e cria-se vínculos com o paciente, o que é difícil no SUS, que tem alta rotatividade de médicos - exemplifica o obstetra Guilherme Bicca.
Brasil é recordista em cesáreas no mundo
O número de cesarianas no Brasil é recorde quando comparado aos demais países, apontou o estudo realizado pela UFPel.
Enquanto a Organização Mundial de Saúde preconiza cerca de 15% de cesarianas, sendo que em países com sistemas públicos de saúde consolidados, como Canadá e Reino Unido, essa proporção varia entre 15 e 20%.
No Brasil, o índice chegou a 44% em 2006, dando um salto dos 29,2% em 1986. Os números crescem também conforme a condição socioeconômica: para os mais ricos o indicador chega a 73,4% e, para mulheres com 12 anos ou mais de escolaridade, atinge 83,4%.
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