Praticar slackline virou febre há pouco tempo. Mas para quem passa pelo Parque Marinha do Brasil, à beira do Guaíba, assistir aos saltos sobre a fita estreita já é rotina. Três anos atrás, quando o esporte era considerado apenas um lazer de poucos, algumas pessoas escolheram um espaço próximo ao Beira-Rio e, dele, fizeram o slackpoint.
- O número de gente começou a crescer. Hoje, um grupo na internet usado para marcar "rolés" conta com 400 pessoas, aqui em Porto Alegre - diz o estudante de Engenharia Civil Plauto Saraiva, 27 anos.
Plauto começou a praticar influenciado pelo primo Vinícius Saraiva, que conheceu o esporte no Exterior. Devido ao custo dos equipamentos, os dois viram, além do lazer, um nicho de mercado - criaram a Slackproof, empresa que vende fitas elásticas em lojas, pela internet e, principalmente, no boca a boca em praças.
- O slack, antes, era distração. As pessoas foram encarar como esporte de um tempo para cá. Quando a gente começou, tinha quem passava, ficava olhando, era preciso explicar. Agora, está na vida da cidade - lembra Vinícius, turismólogo de 31 anos.
Conhecido como Prefeito, o barman Maurício Vianna, 21 anos, diz que depois de começar, não tem como parar:
- A gente vive pensando em um tempo para fazer o slackline.
Para quem acha que só tem marmanjo fazendo manobra em cima da fita, as psicólogas Isabel Thode, 25 anos, e Gabriela Schmidt, 26 anos, provam o contrário. Elas chegam no Marinha com canga, chimarrão e bolachas, sentam na grama e assistem aos homens darem show. Quando chega a hora delas, também fazem bonito e mostram porque a participação feminina aumenta - inclusive com grupos que reúnem apenas gurias.
Os adeptos fazem questão de frisar: o slackline, cuja origem está na escalada, é uma atividade física que trabalha muitos músculos do corpo ao mesmo tempo, possibilita conhecer novas pessoas e, como faz a galera que o pratica no Marinha, oportuniza desenvolver um trabalho social. Eles levam o esporte a crianças pobres de Porto Alegre, Gravataí e Cachoeirinha.
- Isso vira um estilo de vida do cara e te possibilita fazer novas amizades - resume, entre um salto e outro, o estudante Andrey Tabares, 19 anos, praticante desde o ano passado.
Capital é considerada modelo no slackline
Com um estilo mais agressivo quando comparado ao restante do país, já que não usa proteção contra quedas, o slackline porto-alegrense vem se destacando no cenário nacional. A Federação Gaúcha de Slackline (FGSlackline) nasceu há três semanas, de forma pioneira. Seus integrantes acreditam que foi um passo importante para realização de um número maior de eventos patrocinados. Além disso, a criação da FGSlackline, que está servindo de modelo para outros Estados, é atribuída à maior profissionalização do slackline no Brasil.
- No Exterior, o pessoal coloca mais dinheiro. Aqui, os próprios atletas têm de tirar do bolso. É muito difícil alguém viver só praticando o esporte no Brasil - avalia o turismólgo e empresário Vinícius Saraiva.
Plauto Saraiva, que faz slackline há três anos, conta que, quando conheceu o esporte, o nível dos campeonatos mundiais da época pareciam ser inalcançáveis. Mas, assim como no Brasil, o slackline evoluiu a nível mundial:
- Hoje, a galera do Marinha faz melhor do que se fazia nos mundiais de pouco tempo atrás. Tem sempre alguém inventando uma coisa nova.
Tanto Vinícius quanto Plauto defendem que saltar sobre a fita caiu no gosto do jovem porto-alegrense porque a prática tem identificação com a cultura da cidade. O hábito de ir a praças e parques, levar a família, o cachorro e o chimarrão, combina com o esporte. Basta achar dois pontos (normalmente árvores fortes) e prender a fita (é usado um protetor para não danificar o material e o vegetal e uma catraca de tensão).
O esporte pode ser praticado de tênis. Uma caneleira também é aconselhável para evitar machucados nas pernas. Plauto lembra que os casos de contusão normalmente ocorrem com atletas de alta performance, e não com iniciantes.
Modalidades
- TrickLine (trick = truque): estilo de slackline onde o desafio são as manobras aéreas, ou seja, manobras executadas sem contato com a fita, no ar. No trickline podem ser observadas manobras de saltos, giros, piruetas, mortais, entre outras. Este pode ser considerado o estilo mais incorporado pelos praticantes de outros esportes radicais, principalmente os que envolvem equilíbrio.
- WaterLine: Slackline ou TrickLine, praticado sobre a água.
- LongLine: SlackLine praticado em fita com mais de 30 metros de comprimento. Neste, o desafio consiste em atravessar a fita de lado a lado. Normalmente, é praticado pelos atletas que almejam se aventurar em um desafio bem mais emocionante, o HighLine.
- HighLine: Slackline praticado em altura. Nessa modalidade o desafio também é atravessar a fita de ponta a ponta, porém, como neste caso a fita está em um local alto, o desafio se torna bem maior. Aqui o praticante deve ter toda a preocupação com sua segurança, utilizando cadeirinha de escalada e uma segurança "auto" de corda clipada na própria fita por meio de mosquetões. No HighLine, o atleta alcança níveis altíssimos de concentração e de foco.