Após receber voz de prisão em audiência, o promotor Eugênio Amorim afirmou na quarta-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, que pretende deixar a 1ª Vara do Júri de Porto Alegre. O bate-boca entre ele, a juíza Rosane Michels, a defensora pública Tatiana Boeira e o advogado Ademir Valentim prejudicou a imagem da Defensoria Pública, do Ministério Público e da magistratura.
Uma gravação da sessão de julgamento revela que o promotor teria chamado a juíza de "mentirosa" e "mau-caráter". Confira trechos dos diálogos obtidos por Zero Hora:
Ademir Valentim - Excelência, em face de que no intervalo o dr. Promotor de Justiça ameaçou a minha integridade física, eu não me acho em condições de prosseguir com a Defesa uma vez que eu me sinto acuado!
Promotor Amorim - A senhora fez reunião na sala da Defensoria Pública com os advogados, a senhora ligou para a Corregedoria do Ministério Público para dizer que eu estava armado e os seguranças foram no carro e atestaram que não estou armado! (o promotor teria mostrado à segurança que sua pistola estava no carro) Mas o que é isso, doutora?
Juíza Rosane - Eu fui comunicada, doutor...
Amorim - A senhora foi parcial mais uma vez, tudo por conta de nossas divergências do Caso Eliseu, doutora! Um Juiz de Direito não pode se comportar assim, doutora! A senhora tem que ter respeito com a Justiça, os jurados, seja imparcial, pelo menos me ouça!
Rosane - Eu não vou
Amorim - Eu sou acusado pela doutora.
Rosane - Eu não acusei o senhor, o senhor está sendo acusado pela Defesa.
Amorim - A senhora disse que o fato ocorreu.
Rosane - Eu não concluí a frase, por que o senhor não permite que ninguém...
Amorim - A senhora disse que o fato ocorreu sem antes me ouvir!...
Amorim - Admita, doutora, que a senhora tem problema pessoal comigo...
Rosane - Eu não tenho problema pessoal nenhum com o senhor!
Amorim - A senhora foi na Corregedoria dizendo que eu estava armado, a senhora faltou com a verdade! Nunca vi um juiz faltar com a verdade, e faltar com a verdade é ser desonesto! A senhora foi dizer para o meu corregedor que eu estava armado!
Rosane - O senhor está me chamando de desonesta? Está tudo gravado! O senhor está perdendo a sua calma! Eu não sou desonesta!
Amorim - Eu fui armado hoje na vila, somente isso (o júri foi até a vila conhecer o local, palco dos crimes em julgamento)! Não estava armado.
Rosane - O senhor estava armado, é proibido entrar armado no júri! Mas isso não é o problema...
Defensora Tatiana - Doutora, uma questão de ordem.
Rosane - Doutora, não me interrompa.
Tatiana - Doutora, eu como cidadã brasileira eu vou pedir que prenda o doutor em flagrante por desacato. Isso é um absurdo! Ele está desacatando...
Rosane - Isso é uma questão para a Corregedoria do Ministério Público...
Amorim - Quem tem algema? Me prendam! Quem tem algema?...
Amorim - ... mentirosa, mau-caráter
Rosane - Doutor Amorim, o senhor me chamou de mau-caráter? Diga na frente, não fale baixinho assim!
Amorim - Eu? Aonde? A senhora está ouvindo coisas!
Entenda o caso:
Na terça-feira, pelo menos quatro pessoas estavam sendo julgadas por suspeita de participação em duas tentativas de homicídio e tráfico de drogas na Vila Mario Quintana, na zona norte de Porto Alegre, em 2008. Em determinado momento, Amorim teria feito menção à Operação Poeta, da Polícia Federal, ocorrida no mesmo ano, e tentado ligar os réus a esse caso por meio de um apenso - um anexo ao processo. A medida foi negada porque as outras partes não teriam tido vista. Foi aí que começou a confusão.
Ouça as entrevistas do promotor e da defensora:
Bate-boca no júri: veja trechos da discussão entre o promotor Eugênio Amorim e juíza
De acordo com escutas, Amorim teria chamado magistrada de "mentirosa" e "mau-caráter"
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