Devido à pandemia do novo coronavírus, a orientação máxima da Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara: todos que puderem devem ficar em casa. Mas, para quem vive na periferia, seguir tal recomendação pode não ser tão simples. Com moradias muitas vezes inadequadas às condições ideais para o isolamento, necessidade de manter-se trabalhando de forma presencial e diversos outros fatores, a aparente normalidade nas ruas das vilas de Porto Alegre têm contrariado a máxima de permanecer em casa.
Foi ao deparar com esse cenário, olhando pela janela – “ruas cheias, como se fosse domingo” – que a taróloga Francielen Marques Prestes, 27 anos, moradora do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, decidiu fazer algo para, de alguma forma, evitar as aglomerações pelas vias da comunidade.
Ela, que é mãe de Eryck, nove anos, e Antonio, um ano, preocupou-se ao ver a quantidade de crianças brincado pelas ruas da Vila Fátima Pinto, onde vive. Em parceria com o filho mais velho, traçou um plano de ação para ajudar a manter a gurizada dentro de casa: na semana passada, com o dinheirinho que sobrou após pagar as contas, Francielen mandou imprimir 400 desenhos para colorir e distribuiu pelos mercadinhos da vila. O objetivo é fazer com que os pequenos passem por esse período de forma mais segura – em casa, pintando, em vez de ficarem na rua.
– A estrutura das vilas para a criançada está toda voltada para a escola e a creche. Se não temos isso, fica muito complicado. Aí, os pais que precisam continuar trabalhando não têm o que fazer com as crianças, e elas ficam pela rua. Olho pela janela e é desesperador – comenta Francielen.
Repercussão
Antes de levar os desenhos aos mercados e divulgar a campanha, Francielen fez o teste com as crianças que moram perto de sua residência. Segundo ela, o resultado foi instantâneo:
– Na hora, esvaziou a rua. Eles correram para pegar os desenhos, escolhendo quais personagens queriam. De imediato, já entraram para pintar.
Com a ação consolidada, a taróloga divulgou a iniciativa por meio do grupo de Facebook que reúne moradores da Bonja. A publicação recebeu mais de 900 curtidas e quase 200 comentários, superando as expectativas da idealizadora. Segundo ela, a procura foi grande, o que a levou a imprimir mais cópias para reposição nos mercados. Ao todo, já foram mais de 800 desenhos distribuídos, com investimento de R$ 200.
Contudo, Francielen necessita de ajuda para dar continuidade à ação, sobretudo com a impressão das figuras. Feliz com o resultado positivo que a ideia alcançou, ela está em busca de gráficas ou moradores da comunidade que possam imprimir os desenhos de forma gratuita, e dispõe-se a comprar as folhas. Mas, mesmo diante das dificuldades, ela espera que a iniciativa sirva de exemplo e seja replicada em outras vilas da Capital:
– Gostaria que isso se expandisse para outras comunidades, pois é uma atitude simples que, aqui na Bom Jesus, está tendo muito resultado. Parece pouco, mas na verdade não é. E, para muitas crianças, é o sinal de que tu te importou com ela.
“Um por todos, e todos por um”
Para Francielen, neste momento, as comunidades – onde, em sua visão, a solidariedade sempre foi uma característica predominante – precisam, mais do que nunca, mostrar sua força e união. Diante de tantos fatores sociais que podem vir a facilitar a propagação do vírus entre quem vive na periferia, é necessário que cada um faça a sua parte para conter o avanço da pandemia.
Foi justamente neste intuito que moradores e líderes comunitários de favelas de todo o Brasil criaram a campanha #coronanasperiferias, a fim de divulgar dados e ações sobre a prevenção do coronavírus entre a população periférica. Em sintonia com a iniciativa, a moradora da Bonja acredita que, diante da situação atual, o bordão que consagrou-se no clássico dos Três Mosqueteiros precisa entrar em ação: “Agora, é um por todos e todos por um”.
– A ajuda que eu presto vai me ajudar também. Pode ser que, assim, eu esteja evitando que uma criança contraia o vírus, passe para seus pais e seus avós e, uma hora, isso acabe chegando na minha família. Gostaria que todos que têm condições de ajudar de alguma forma, o façam – diz.
Como ajudar
/// Se quiser ajudar com a impressão dos desenhos ou precisar de dicas para implantar a iniciativa em sua comunidade, contate a Francielen pelo WhatsApp (51) 99163-8225.
Vamos compartilhar bons exemplos?
E aí, na tua comunidade, tá rolando alguma iniciativa bacana como esta para ajudar a enfrentar a situação difícil que todos estamos vivendo? Mais do que nunca, é importante mostrarmos exemplos que inspiram e nos fazem acreditar que tudo vai ficar bem.
Se tu souberes de algo, manda mensagem para o WhatsApp do Diário Gaúcho – (51) 99759-5693 – contando mais detalhes sobre o bom exemplo que está sendo dado por aí. Afinal, todos estamos precisando de boas notícias, né? #juntoscontraovírus
Produção: Camila Bengo