O Ministério Público da França abriu investigação nesta quarta-feira (14) para apurar a denúncia da boxeadora Imane Khelif, alvo de ataques online e fake news durante a Olimpíada de Paris 2024. A medalhista de ouro na categoria até 66kg foi atacada numa campanha de desinformação que questionava seu gênero.
Antes do fim dos Jogos Olímpicos, na sexta-feira (9), Khelif fez uma queixa formal na Justiça francesa. O advogado da boxeadora, Nabil Boudi, alegou que a atleta foi alvo de um "grave assédio cibernético". Em comunicado, ele descreveu o caso como uma "campanha misógina, racista e sexista" contra a atleta da Argélia.
Nesta quarta, o Ministério Público decidiu abrir investigação para apurar o caso. Os promotores informaram que receberam a denúncia e que o Gabinete de Combate aos Crimes contra a Humanidade e Crimes de Ódio abriu uma investigação sob acusações de "assédio cibernético com base no gênero, insultos públicos com base no gênero, incitação pública à discriminação e insultos públicos com base na origem".
Khelif se tornou alvo de ataques online após sua primeira luta em Paris 2024. O confronto terminou antes do esperado porque a adversária, a italiana Angela Carini, desistiu ainda nos primeiros segundos após sofrer um golpe no rosto.
Mais tarde, ela veio a explicar que tinha uma lesão no nariz e que o primeiro soco aumentou as dores, inviabilizando a sequência da luta.
A rápida desistência abriu porta para falsas alegações de que Khelif era transgênero. A fake news teve como combustível um teste de gênero que a argelina e uma outra boxeadora fizeram no Mundial de Boxe de 2023.
Na ocasião, elas foram reprovadas pela Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla em inglês). A entidade está envolvida em diversas polêmicas e já havia sido descredenciada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que rejeitou a credibilidade dos testes.
Com base no teste aplicado pela IBA, Khelif e uma outra boxeadora sul-coreana foram alvo de diversos ataques nas redes sociais. Entre aqueles que fizeram posts com desinformação estão o ex-presidente americano Donald Trump, o empresário Elon Musk e a escritora J. K. Rowling.
A queixa legal de Khelif foi apresentada contra plataformas de mídia social, incluindo a rede social X (antigo Twitter), cujo dono é Musk.
A denúncia não citou nomes ou apontou um responsável específico pelas postagens, algo comum na lei francesa que deixa a cargo dos investigadores determinar qual pessoa ou organização pode ter sido a culpada. O gabinete do promotor de Paris também não nomeou suspeitos específicos.
Antes da queixa formal de Khelif na Justiça, Kirsty Burrows, autoridade responsável pela unidade de proteção e saúde mental do COI, já havia apresentado uma reclamação às autoridades francesas dizendo que recebeu ameaças de morte e assédio online após uma entrevista coletiva em Paris na qual ela falou em defesa da esportista.