A primeira "geração de ouro" do vôlei brasileiro tem a marca do Rio Grande do Sul. Paulo André Jukoski da Silva, também conhecido como Paulão, era um dos centrais da equipe comandada por José Roberto Guimarães em Barcelona. Com um time desacreditado por parte da torcida e por especialistas à época, a seleção bateu os principais adversários e chegou ao primeiro ouro de um esporte coletivo brasileiro em Olimpíadas.
Depois que se aposentou, Paulão desempenhou múltiplas atividades. Após ter investido na carreira de treinador de equipes profissionais, o gaúcho de Gravataí montou a Escola de Vôlei, em Florianópolis, para ensinar a modalidade para pessoas de todas as idades. Para comemorar os 30 anos da conquista brasileira na Espanha, Paulão conversou com a reportagem de GZH e relembrou o ouro.
Olhando 30 anos depois, o time de Barcelona envelheceu bem?
Não envelheceu. Eu faço muita palestra e as pessoas continuam se emocionando. Dizem que seguem lembrando do time, é muito lindo, eu muitas vezes me emociono.
Como foi o assédio depois daquela conquista, Paulão?
Eu cheguei em Porto Alegre, com carro de bombeiros, prefeito me recebendo. A minha mãe me dizia que era tudo para mim. A minha ida até Gravataí durou de 2h30min a 3h. Foi um momento muito emocionante. Em Gravataí até feriado foi. Muita gente me esperando. Sem redes sociais, não sabia o que tava acontecendo. Foi maravilhoso.
Como foi a chegada do Zé Roberto naquela seleção, já em meio ao ciclo olímpico?
Ninguém sabia exatamente como seria. Ele era um baixinho, metido a bloqueador (risos). Eu já tinha jogado contra ele, e a gente brincava sempre "ataca em cima do Zé". Ele chegou à seleção sem prepotência. Veio com o discurso de fazer oração, de grupo fechado. Isso com o decorrer do tempo fez com que a gente chegasse entre os cinco. Todas as forças estavam em Barcelona, e a gente deu uma aula de vôlei. Todo mundo falava como a gente estava bem. Foi muito maravilhoso a maneira que a gente conquistou.
Qual a importância do Zé Roberto naquela conquista?
O Zé fez todo o trabalho para mim. Eu era muito criticado pela minha defesa. Minha rede era boa, mas faltava um pouquinho ainda. No jogo contra a Coreia do Sul (estreia na Olimpíada), o Bebeto de Freitas desceu da arquibancadas e fez elogios pela minha atuação. Aquilo foi um combustível para mim. Sempre brinco que vou dar um DVD com as minhas defesas para o Zé. Aquilo foi um divisor de águas. A gente não acreditava que ia para a final. Foi muito marcante ver a alegria das pessoas. Nosso vocabulário era jogar o nosso voleibol. A comissão técnica foi fundamental também. O Zé teve a grandeza e a simplicidade. Eu levo para a minha vida. Quanto mais simples, mas você se torna importante. Ele estava sempre junto a gente, a maneira que ele lidou foi sensacional. Ele sabe como ninguém. O Zé e o Bernardinho vieram da mesma fonte. O Zé é o melhor de todos, continua dando aula. Ele não existe, a gente aprende com ele, humildade, simplicidade, isso é linha mestra na minha vida.
Do grupo que foi prata em Los Angeles, apenas o Amauri esteve em Barcelona. Como foi isso para vocês?
A palavra dele foi muito importante. Até hoje, a gente não faz comparação com nenhuma outra equipe, cada uma tinha as suas glórias. Eu fiz parte de uma seleção em Seul, e a gente teve uma continuidade, cada um cuidava muito do seu. Em Barcelona, era uma brincadeira, não tinha diferenciação de titular e reserva, era todo mundo em um grande clima. Era uma alegria, a gente curtia a vitória. Em determinado momento, o Zé deu folga de três dias, mas mesmo assim a gente queria tá junto.
Qual a importância daquela conquista para o esporte brasileiro?
Foi uma mudança de credibilidade, de mostrar que a gente podia, não foi só para o vôlei, mas para o esporte. Recebemos parabéns de todo mundo, mostrando que a gente podia conquistar as coisas. Esse foi o divisor de águas. Lá no meu começo, pegava o ônibus lotado, com o dinheiro contado, e aí estar jogando contra seleções que tinham poderio e com uma baita estrutura. Eu faria tudo de novo, com mais alegria.
Muito se fala que para Atlanta teve salto tava alto, que vocês não souberam lidar com o assédio?
Na minha opinião, foi o grande tendão de Aquiles. Ninguém imaginava tudo que ia acontecer com a gente. Eu parei de ir em supermercado, em shopping, eu não conseguia comer em restaurante. A gente estava despreparado para tudo que aconteceu depois daquele ouro, tudo valia dinheiro. A gente não imaginou que isso ia acontecer. Em Atlanta, não conseguimos repetir.
Como tu vês o atual momento da seleção brasileira de vôlei?
O vôlei masculino esteve sempre entre os primeiros. É a equipe para ser batida, ganha e dá volta olímpica. Renan faz um bom trabalho, é um ídolo, conheço o trabalho dele. Falta sorte? Também. Errou em uma movimentação ou outra, isso gera instabilidade. O Brasil tem um plantel maravilhoso, vai chegar bem, vai incomodar.