Um, dois, três, quatro, cinco. É assim que Maria Carolina Santiago, atleta do Grêmio Náutico União, vai contar as suas medalhas nas Paralimpíadas de Tóquio. Na manhã da última quarta-feira (1º), ela conquistou a sua terceira medalha de ouro no Japão, ao vencer os 100m peito classe SB 12 — ela também tinha uma prata e um bronze. Ela fez o tempo de 1min14s89, novo recorde paralímpico da prova.
Antes da conquista desta quarta, Carol havia conquistado dois ouros, nos 100m livre S12 e 50m livre S13, uma prata no revezamento 4x100m misto — 49 pontos e um bronze nos 100m costas S12. Ela só ficou fora do pódio em uma das seis provas que disputou em Tóquio.
Na terça, ela já havia entrado para a história ao se tornar a primeira brasileira a faturar duas medalhas de ouro em uma única edição dos Jogos Paralímpicos na natação.Ontem, ela escreveu seu nome mais uma vez no hall de paratletas do Brasil. O ouro nos 100m peito fez com que ela assumisse o posto de mulher brasileira com mais medalhas em uma única edição dos Jogos.
Os feitos da pernambucana de 36 anos não pararam nos pódios. Pelo menos até 2024, ela verá o seu nome nos placares de Paris, pois conseguiu quebrar dois recordes paralímpicos (nos 100m peito SB12 e nos 50m livre).
O primeiro ouro dela em Tóquio também marcou a quebra de um tabu negativo para o Brasil em Paralimpíadas. Há 17 anos, desde os Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004, as brasileiras não conquistavam uma medalha de ouro na natação. A última havia sido Fabiana Sugimori, também nos 50m livre.
Em uma Paralimpíada que viu Daniel Dias, um dos maiores nomes do Brasil se aposentar, assistiu também uma mulher, nordestina, de 36 anos, em sua primeira experiência paralímpica, fazer seis finais em seis provas e conquistar cinco medalhas.
Com a bagagem com alguns quilos a mais, Carol irá desembarcar no Brasil nos próximos dias, mas deve ir ao conforto da sua terra natal antes de vir para Porto Alegre. A chegada à Capital ocorre no dia 28 de setembro, quando deve ter uma recepção calorosa dos seus companheiros de Grêmio Náutico União. Afinal, foram das suas braçadas que vieram as primeiras medalhas paralímpicas da história do clube.
Quem é Maria Carolina Santiago?
Carol, como é conhecida, nasceu com a Síndrome de Morning Glory, uma alteração congênita na retina, que atinge o nervo ótico e reduz seu campo de visão. A atleta só enxerga vultos com o olho esquerdo e não tem visão periférica no olho direito, apenas focal.
Em virtude da doença, foi recomendado pelos médicos que ela praticasse alguma atividade de baixo impacto. O conselho médico juntou-se ao gosto da então jovem moradora de Recife, em Pernambuco. Com o irmão como exemplo, aos oito, ela já participava de competições de base e, aos 12, já percorria o estado do Nordeste para competir.
Por quase 30 anos, a nadadora do Grêmio Náutico União caia nas piscinas nas disputas da natação convencional, contra atletas sem deficiência. Mas isso mudou em 2018. Como também nadava em maratonas aquáticas, naquele ano, conheceu o clube gaúcho em um desses torneios e resolveu trocar o frevo e o calor pernambucanos pelo frio e pelo chimarrão do Rio Grande do Sul.
Ali, estava a grande mudança da sua carreira, com a mudança da natação olímpica para a paralímpica. Para quem entrou na metade do ciclo e conviveu com as dificuldades impostas pela pandemia de covid-19, Carol chegou ao Japão como favorita a rechear o quadro de medalhas do Brasil e concretizou as expectativas.