"É isso, acabou" foi o que disse Fernanda Garay com o pouco de voz que lhe restava, tomada pela emoção. Foram as últimas palavras antes de sair andando pelo corredor da Arena Ariake, em Tóquio, depois da derrota para os Estados Unidos na final do vôlei feminino. Três sets a zero, em uma vitória incontestável das norte-americanas e a prata inédita no pescoço das brasileiras. Medalha que a Fê segurava sem soltar ao dizer repetidas vezes: "tem muito valor, sim, estou orgulhosa do que fizemos, do que eu entreguei".
Garay anunciou que vai parar de jogar na seleção logo depois das Olimpíadas para se dedicar a um projeto pessoal bem especial: quer ser mãe. E vai poder contar aos filhos, quando eles vierem, que foi a maior pontuadora do Brasil em Tóquio, líder de uma nova geração que vai continuar construindo a história do vôlei. "Eu desejo força para quem continua por aqui. O Brasil é isso, é coração, é entrega. Eu tenho certeza que essa geração vai defender o Brasil da melhor maneira possível", disse. Ela encerra sua história olímpica no mesmo dia em que terminam os Jogos de Tóquio e com eles a cobertura do Grupo RBS no Japão.
Sem medo de parecer clichê, mas sendo absolutamente comprometida com a verdade do que vivi aqui, foram vinte e três dias de muito aprendizado. Meus companheiros de jornada em terras nipônicas são grandes referências. Zé Alberto Andrade e suas sete Olimpíadas trouxe a mistura da experiência de quem já viveu muito com a energia de quem encara mais uma como a primeira. A cada conversa rápida com ele eu ficava pensando: como cabe tanta informação em uma só cabeça? E a cada fim de dia, com o corpo dolorido de carregar a mochila pesada, caminhando quilômetros de um lado pro ouro, eu olhava pro Zé e ele estava inteirão, pronto para a próxima. José Alberto Andrade foi a nossa experiência em Tóquio.
O André é a referência olímpica no jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul. O maior exemplo de que o acompanhamento dessas modalidades não se faz só a cada quatro anos, mas sempre. O Andrezinho sabe todos os nomes dos atletas brasileiros, suas histórias, e dos principais adversários mundo a fora também. Conhece os líderes de rankings, os campeões mundiais, sabe quem tem chance do que e quando. Tem todos os contatos no Comitê Olímpico Brasileiro e nas confederações, conhece o que está nos holofotes e nos bastidores do esporte olímpico. O André Silva foi o especialista do nosso time, a quem recorremos para tudo sobre a Olimpíada.
Sem ter todas as respostas, em sua primeira cobertura olímpica, o Rodrigo Oliveira veio preparado com uma bíblia. Um enorme livro encadernado por ele mesmo com informações detalhadas de todos os atletas, bem como explicações sobre os esportes. Um incansável perseguidor de informações, ficou marcado por ser o nosso estudioso. O Tiago Cirqueira não estudou necessariamente sobre os atletas e esportes, tinha muito mais demandas que iam além das competições, como Gerente Executivo de Esportes do Grupo RBS.
Mas foi além e entrou bem demais em todas as discussões nas muitas madrugadas olímpicas na Rádio Gaúcha, mostrando uma aptidão nata também no microfone, mesmo sendo o responsável por toda a logística da viagem, com os inúmeros cuidados especiais de protocolos em função da covid-19. Tiago foi segurança, em um cenário de muita incerteza antes e durante os Jogos em meio a pandemia. E eu aprendi com cada um deles e com os muitos colegas que ficaram em Porto Alegre, e foram essenciais para que essa cobertura acontecesse.
Escolho escrever sobre os colegas nessa última coluna porque há um longo caminho e esforço profissional deles para estarem aqui. Há famílias que ficam no Brasil e deixam a saudade tentando ser amenizada em chamadas de vídeo no meio da madrugada vencendo o sono. Isso do nosso lado. Porque estivemos aqui para contar também histórias de muito esforço dos atletas que vieram à Tóquio. Treinamentos adaptados, perda de patrocinadores, desafios ainda maiores do que a própria trajetória em busca de uma vaga olímpica. Sob todos os aspectos, foram os Jogos da superação.
Acabou, como disse a Fê Garay na saída da quadra. Ela se despede da seleção brasileira e dos Jogos Olímpicos, nós nos despedimos de Tóquio e já estamos na expectativa por Paris. Sim, que venha a França. Porque na primeira cobertura mundial desde que começou a pandemia, ganhamos esperança de novos dias. Vamos voltar ao Rio Grande do Sul, com a certeza de ter "entregue tudo", como a Garay. Tendo essa atleta tão representativa como exemplo, a gente encerra nossa cobertura. Obrigada pelo exemplo e inspiração, Garay. Obrigada pela parceria, colegas. Obrigada por nos devolver a esperança, Tóquio.