Uma espera de 1.797 dias chega ao fim nesta sexta-feira. Da cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio até a tradicional solenidade que abre oficialmente as Olimpíadas de Tóquio, quase cinco anos se passaram. Forçado pela pandemia do coronavírus, foi um ciclo olímpico atípico na preparação dos atletas, que tiveram de lidar com o adiamento – e também com os risco de cancelamento – do evento, de 2020 para 2021.
Desde o inicio de 2018, a partir de uma reportagem especial publicado no caderno DOC, ZH acompanhou um grupo de seis atletas (gaúchos ou que representam clubes do Rio Grande do Sul) que, em meio a este cenário de incertezas, batalhou para participar das Olimpíadas pela primeira vez. Quatro deles – Daniel Cargnin e Rafael Macedo (ambos do judô), Almir Júnior (atletismo) e Viviane Jungblut (natação) – estão em terras japonesas à espera da estreia em suas respectivas modalidades. Infelizmente, dois deles – Luis Porto (ginástica artística) e Jaqueline Weber (atletismo) – terão de esperar a edição de Paris 2024 para a realização desse sonho.
Leia mais sobre esses atletas a seguir.
ALMIR JÚNIOR
Depois de trocar o salto em altura pelo triplo, o mato-grossense radicado no RS há mais de uma década teve um trajetória meteórica no atletismo. Quando ZH fez o primeiro contato com Almir, no final de 2017, ele ainda era um desconhecido atleta em busca de convites para competir em meetings no Exterior. Quando a reportagem especial da série foi publicada, em março do ano seguinte, o saltador já era um badalado vice-campeão mundial indoor. Em junho de 2019, foi um dos primeiros brasileiros a obter o índice olímpico.
O sucesso nas competições logo aumentou suas expectativas, e com elas, as frustrações.
Nos meses seguintes, o triplista da Sogipa teve participações frustrantes no Pan de Lima e no Mundial de Doha, competições em que nem mesmo avançou às finais. Em sua última prova antes do Jogos, o atleta de 27 anos da Sogipa terminou apenas em quinto lugar, longe de sua melhor marca na carreira. Na última terça-feira (20), enquanto aguardava a liberação pelas autoridades japonesas no aeroporto, em meio a procedimentos como testagem da covid-19 e retirada de credenciais, Almir conversou com ZH por telefone na sua chegada a Tóquio.
– É um processo muito longo, ainda não caiu a ficha de que realizei um sonho. No início, o meu sonho era chegar aqui, mas agora mudou, é conquistar uma medalha. Estou feliz, claro, mas ainda não estou realizado. Eu vim aqui para brigar por uma medalha, independentemente da cor – disse ele.
Almir pisará no Estádio Nacional de Tóquio na manhã de 3 de agosto (noite do dia 2 no Brasil) para as classificatórias do salto triplo. Se avançar à final, brigará por um lugar no pódio a partir das 23h (de Brasília) de 4 de agosto.
VIVIANE JUNGBLUT
Há pouco mais de um mês, quando ainda estava em Porto Alegre antes da viagem para o Japão, Viviane Jungblut sentou-se próximo à piscina do Grêmio Náutico União para observar nadadores da escolinha do clube. Por alguns instantes, voltou ao tempo. Pouco mais de uma década atrás, era ela quem estava ali, ainda criança, dando as primeiras braçadas de uma carreira que chega ao seu ponto alto agora, ao se tornar uma atleta olímpica.
– Lembro que eu era da equipe mirim e olhava os nadadores adultos do clube que disputavam as grande competições. Agora, eu sou essa nadadora. Eu me criei no União, então muita gente me viu crescer nas piscinas.
Aos 25 anos recém-completados, Viviane foi a última atleta da série Missão Tóquio a obter a qualificação para as Olímpiadas. Depois de perder a chance de garantir a vaga nos 10km de maratona aquática, em 2019, a gaúcha focou as provas de longa distância nas piscina. O coronavírus quase lhe pregou uma peça, às vésperas da seletiva da natação, em abril, mas o sonho olímpico veio em dose dupla em junho. Recuperada da covid-19, garantiu a classificação nos 800m e nos 1.500m, na derradeira tomada de tempo que definiu a equipe brasileira.
Ela cairá na água na segunda-feira, para as eliminatórias dos 1.500m. Se avançar à final, sua meta em Tóquio, voltará à piscina dois dias depois. No dia 29, será a vez da disputa dos 800m.
RAFAEL MACEDO e DANIEL CARGNIN e
Com a maior delegação de sua história no judô – são cinco atletas na seleção brasileira em Tóquio –, nada mais natural que a Sogipa emplacasse dois estreantes nessa edição dos Jogos. Desde a base considerados promessas dos tatames (ambos foram campeões mundiais sub-21 em suas categorias), Daniel Cargnin e Rafael Macedo sempre estiveram entre os primeiros do ranking internacional, e a confirmação de seus nomes entre os convocados para os Jogos, logo após a realização do Mundial de Budapeste, em junho, não passou de mera formalidade para a dupla.
Apesar da relativa tranquilidade na corrida olímpica, os dois judocas sofreram com lesões que prejudicaram o desempenho na competições. Ambos, inclusive, tiveram covid-19 recentemente – por testar positivo, Cargnin nem pôde participar do Mundial. Assim, ambos não serão cabeça de chave, postos destinados aos oito primeiros colocados no ranking. Nem isso tira a confiança da dupla.
– Gosto de ser um franco atirador na chave – diz o gaúcho de 23 anos. – Quero me sentir bem e chegar à medalha
O peso meio-leve (até 66kg) será o primeiro dos quatro atletas da série Missão Tóquio a competir nos jogos. Cargnin pisará no tatame do lendário Nippon Budokan, que também foi palcos do combates dos Jogos de 1964, na virada de sábado para domingo. Já Rafael Macedo terá duas chance de brigar por um lugar no pódio. Primeiro, na virada de terça para quarta-feira, o paulista de 26 anos lutará na chave dos meio-pesados (até 90kg). No último dia de competições do judô, integrará a equipe mista brasileira, disputa que estreia nesta edição. Antes de embarcar para Tóquio, mostrou confiança em entrevista a ZH:
– Estou bem preparado, tenho condições de brigar pelo ouro. O judô está muito competitivo, muito globalizado, não dá para falar em favoritismo.
A missão agora é outra: Paris 2024
Para Jaqueline Weber e Luis Guilherme Porto, infelizmente, Tóquio continuará com a mesma diferença de 12 horas para o Brasil nos próximos. Na verdade, a capital japonesa já ficou para o passado, e o foco dos dois atletas gaúcho passa a ser outra metrópole: Paris, sede dos Jogos de 2024. A meio-fundista de 26 anos e o ginasta de 24 alimentaram a expectativa de conquistar a vaga olímpica até os últimos momentos, mas acabaram de fora do maior evento esportivo do mundo.
Ouro por equipes no Pan de Lima, em 2019, o ginasta do Grêmio Náutico União começou 2021 com expectativa de ser convocado para a seleção masculina. Principalmente porque deixara para trás uma grave lesão no tendão de Aquiles direito. Mas a falta de competições no calendário da modalidade o inquietava. Quando não foi chamado, em junho, para o Pan-Americano de ginástica artística, competição que serviria para definir os cinco representantes do país nos Jogos, percebeu que suas chances haviam acabado – Diogo Soares foi o escolhido para fechar a equipe ao lado dos experientes Arthur Nory, Arthur Zanetti, Caio Souza e Francisco Barretto.
Nos dias seguintes à frustração de não ver o seu nome na lista, Porto desacelerou nos treinos. Mas já retomou a preparação com objetivos, segundo as próprias palavras, a curto (Brasileiro), médio (Mundial de Tóquio, no fim do ano) e longo (Jogos de 2024) prazos.
– O sonho não acabou, só trocou de lugar agora – diz ele. – O momento do Diogo é melhor. Lógico que fiquei frustrado, afinal foram cinco anos de treinos duros. Mas agora vou tratar de melhorar o nível técnico das minhas séries para disputar as Olimpíadas de Paris.
Jaqueline, por sua vez, alimentou a esperança de obter a vaga nos 800m do atletismo até o fim do prazo, nos últimos dias de junho. Apesar de não ter conseguido pontos suficientes para a qualificação pelo ranking mundial, a atleta gaúcha se vê hoje mais preparada para perseguir o objetivo de disputar as Olimpíadas, mesmo que daqui a três anos.
– Sou uma atleta que tem regularidade. Nas principais competições, sempre corri perto do meu melhor nível, e o meu melhor nível é hoje é melhor do que era no início deste ciclo. Antes, o meu melhor tempo era 2min6, uma marca distante do índice (1m59s50). Hoje, consigo correr na casa dos 2min2s, 2min3s. Então, o índice passou a ser uma meta possível –avalia Jaqueline, que completa. – O sonho foi só adiado.