Patrocinador oficial dos Jogos Olímpicos, o jornal japonês Asahi Shimbun pediu, nesta quarta-feira (26), o cancelamento do evento e classificou o mesmo como uma "ameaça sanitária", no momento em que o país enfrenta uma quarta onda de contágios da pandemia da covid-19.
Em um editorial, o jornal, com tendência de esquerda e o segundo em termos de venda no país, pede ao primeiro-ministro Yoshihide Suga que faça uma "avaliação tranquila e objetiva da situação para tomar a decisão de cancelar as Olimpíadas de verão".
O apelo coincide com uma oposição crescente no Japão, onde as pesquisas mostram que a maioria da população rejeita os Jogos. O evento está previsto para acontecer de 23 de julho a 8 de agosto.
"Não se pode aceitar a aposta"
O editorial afirma que "não se pode aceitar a aposta" de celebrar os Jogos, apesar de o comitê organizador afirmar que o evento tem condições de acontecer de maneira segura.
O jornal também acusa os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI), em particular seu vice-presidente, John Coates, de estarem "claramente fora de sintonia" com o público japonês.
Questionado na semana passada sobre se os Jogos aconteceriam mesmo sob o estado de emergência pelo coronavírus, Coates declarou: "A resposta é absolutamente sim".
Tóquio e outras regiões do Japão estão atualmente sob estado de emergência, o qual deve ser prolongado esta semana até 20 de junho.
"Dizer 'sim' sem qualquer apoio sólido evidencia a imagem arrogante do COI", destaca o editorial do Asahi.
A advertência do jornal acontece a menos de dois meses da cerimônia de abertura dos Jogos e depois que o governo dos Estados Unidos recomendou a seus cidadãos que não viajem ao Japão pela ameaça do coronavírus.
Na terça-feira (25), porém, a Casa Branca disse apoiar os planos de celebração dos Jogos.
—Há regras de entrada e procedimentos muito específicos que foram definidos pelos organizadores para assegurar a proteção de todos os envolvidos — disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
Cancelar os Jogos custaria ao Japão US$ 20,25 bilhões (R$ 108,021 bilhões), informou ontem o Instituto de Pesquisa Nomura.
O instituto advertiu, no entanto, que o país pode sofrer um dano econômico ainda maior, caso celebre os Jogos e o evento provoque um aumento de infecções, que resultariam em um novo estado de emergência.
No último domingo (23), Masayoshi Son, CEO do maior grupo de investimento em novas tecnologias do país, o SoftBank, questionou se o COI tem o direito de decidir se os Jogos acontecem, ou não.
Alguns dias antes, o CEO do grupo de comércio eletrônico Rakuten, Hiroshi Mikitani, definiu os Jogos como uma "missão suicida".
Nesta quarta-feira, a presidente do comitê organizador dos Jogos de Tóquio, Seiko Hashimoto, mencionou a "forte" oposição ao evento.
— Um número considerável de japoneses está preocupado— destacou a dirigente, em uma reunião do conselho executivo de Tóquio-2020.
Seiko reafirmou, porém, que o número de estrangeiros será limitado e que todos serão submetidos a restrições durante a viagem ao Japão. Muitas pessoas temem uma pressão adicional ao já abalado sistema médico local.
— Os preparativos avançam bem para que tenhamos Jogos seguros— insistiu a ex-atleta que assumiu o cargo em fevereiro deste ano.
O Japão registrou um impacto relativamente reduzido da pandemia, com 12 mil mortes mas um recente aumento das infecções resultou em pressão no sistema hospitalar.
O país iniciou a vacinação de maneira lenta. Apenas 2% dos 125 milhões de habitantes foram completamente imunizados.
Uma exceção será feita com os atletas olímpicos japoneses e alguns membros das comissões técnicas, que serão vacinados, graças às doses oferecidas pela Pfizer.
O Comitê Olímpico Japonês informou que a vacinação começará em 1º de junho para 600 atletas e 1 mil integrantes de comissões técnicas.