Um gaúcho sonha em fazer história em Tóquio: conquistar a primeira medalha olímpica para o Brasil na esgrima. Confiança para subir ao pódio nunca faltou a Guilherme Toldo, que disputou sua primeira Olimpíada em Londres 2012 com apenas 19 anos e que, na edição seguinte, empolgou o público da Arena Carioca 3 ao deixar um campeão mundial pelo caminho e atingir as quartas de final no Rio 2016, o melhor resultado do Brasil na história dos Jogos – feito também alcançado por Nathalie Moellhausen na espada.
Em março, o atleta de 28 anos assegurou sua terceira participação olímpica no Grand Prix de Doha. Antes de encerrar a competição no Catar na oitava posição, já tinha garantido a classificação no primeiro dia de disputas como o melhor atleta entre aqueles que disputavam as vagas individuais das Américas, já que seus concorrentes mais próximos haviam sido eliminados. Em Tóquio, Toldo terá a companhia de Nathalie, campeã mundial em 2019.
A dois meses e meio dos Jogos, acredita estar atravessando seu melhor momento na carreira. Não por coincidência, atingiu seu ranking mais alto na lista da federação internacional: é o 17º colocado.
Figurar entre os 20 melhores do mundo em uma modalidade de nível técnico marcado pelo equilíbrio, avalia o gaúcho, o qualifica para chegar a Tóquio na condição de candidato a medalha – nos Jogos de 2016, Toldo era o 66º do ranking ao eliminar o japonês Yuki Ota, dono de duas pratas olímpicas e então campeão mundial do florete.
– Estou muito bem preparado. Venho de resultados inéditos em 2020 e 2021. Na Olimpíada, vão estar só os melhores do mundo. Tenho chance de brigar por medalha – afirma o esgrimista, conhecido entre os colegas por Pica-Pau, um apelido que ganhou na infância por causa de um penteado, digamos, não muito estiloso.
Seu técnico no Grêmio Náutico União – onde Toldo começou a praticar o esporte aos oito anos – e chefe de equipe da seleção brasileira, Alexandre Teixeira também mostra confiança:
– O Guilherme atingiu o melhor ranking de um brasileiro no florete, superando o João Souza (ex-atleta do União que disputou a Olimpíada de Pequim 2008). Na esgrima, a maturidade é muito importante. Em média, atletas entre os 25 e os 30 anos conquistam seus melhores resultados – diz.
Rotina italiana
Para Teixeira, o atrevimento que o esgrimista exibia desde seus primeiros passos nas pistas também pode fazer a diferença em Tóquio:
– Desde criança, ele é muito abusado, no bom sentido da palavra. Quando perguntavam a ele se queria ser igual ao João Souza, dizia: "Não, quero ser melhor". Esse sentimento o impulsionou no esporte. Sempre queria enfrentar os adversários mais difíceis. Sabe que é capaz de vencer os melhores, mas sem soberba, sem subestimar os outros esgrimistas.
Toldo mora desde 2012 na Itália, uma das potências da modalidade ao lado de França, Rússia e EUA. O gaúcho montou sua base em Frascati, distante meia hora de Roma. Treina e representa um clube da comuna de quase 20 mil habitantes, conhecida pela produção de bons rótulos de vinhos, especialmente brancos.
Por lá, treina com espadachins de ponta como o italiano Daniel Garozzo, ouro no Rio. Costuma permanecer em Frascati durante a temporada de competições, que começa em outubro e vai até julho. O gaúcho se diz ambientado a sua vida na Itália, particularmente com a culinária do país, mas nem sempre foi assim.
– A realidade da nossa imigração é diferente. O início foi difícil, e eu só falava o italiano básico. Hoje, estou bem adaptado. Gosto de comer bem, e os italianos tem bons hábito alimentares. Aqui, aprendi a escolher os melhores ingredientes.
Nove anos depois de seu estreia nos Jogos, Toldo busca desta vez colher os frutos de sua dedicação ao esporte. Confiança para isso não faltará.