Um dos mais de 20 atletas "importados" pelo Brasil com o objetivo de impulsionar modalidades de pouca tradição nos Jogos do Rio 2016 atingiu o ponto mais alto da carreira nesta temporada. Em julho, Nathalie Moellhausen conquistou em Budapeste o primeiro ouro da esgrima do país em Mundiais.
Ao deixar a Itália para trás, a atleta de 34 anos teve de dobrar a resistência de novas colegas que a enxergavam como intrusa na seleção e também superar pequenos desafios, como cantar o Hino Nacional.
Mas tudo valeu a pena. Depois de ter ido às lágrimas ao escutar os acordes do "Ouviram do Ipiranga..." na Hungria, a esgrimista foi erguida e carregada nos braços pelos companheiros da equipe durante a comemoração do título mundial.
– Foi uma emoção muito grande. O hino do Brasil é o mais lindo do mundo, mas é muito difícil de aprender – admite a esgrimista, que fala com fluência cinco idiomas: italiano, francês, espanhol, inglês e, claro, português.
O cosmopolitismo e a versatilidade definem a trajetória da atleta, que até o início da adolescência viajava todo ano ao Brasil para visitar familiares. Filha da estilista ítalo-brasileira Valeria Ferlini e do alemão Philipe Moellhausen, falecido no ano passado, ela nasceu em Milão e mora há mais de uma década em Paris, onde radicou-se com o objetivo de aperfeiçoar sua técnica na tradicional escola francesa.
Na Cidade Luz, frequentou a renomada universidade Sorbonne para estudar filosofia, campo do conhecimento que, segundo Nathalie, ajuda a "esconder as emoções por trás das máscaras nos duelos da esgrima".
Além do esporte, mostra vocação em áreas como arte e dança. Em 2010, quando ainda defendia a Itália, uma das maiores potências da esgrima, a atleta participou da organização da cerimônia de abertura do Mundial de Paris. No mesmo evento, foi ao pódio para receber a medalha de bronze na espada (ela tem outras duas medalhas na arma, ambas por equipes: ouro em 2009 e bronze em 2011).
Também já posou para editoriais de moda e desfilou para Alberta Ferretti, famosa marca italiana. Casada com o chef de cozinha argentino Natalio Simionato, ainda exibe a veia empreendedora com a marca 5 Touches, com a qual fornece produtos e serviços em ramos que vão da gastronomia à preparação física a domicílio.
Embaixadora
Nathalie também assumiu a missão de divulgar a esgrima no Brasil, país que passou a representar em competições oficiais a partir de 2014. Bastante requisitada para entrevistas, empolga-se com a oportunidade de participar de projetos sociais em que oferece palestras e aulas de iniciação ao esporte em escolas e clubes.
– Ela virou a embaixadora da esgrima no país – afirma Arno Schneider, vice-presidente e diretor-técnico da CBE, a confederação brasileira da modalidade. – Ela tem ajudado a mostrar que a esgrima não é um esporte inacessível, de elite – completa o dirigente, que afirma ter aumentado de 10% a 15%, em média, a procura de novos praticantes em clubes do Brasil após o ouro no Mundial.
Sexta colocada no Rio, em 2016, melhor resultado da esgrima brasileira na história, a atual número 5 do mundo na espada agora sonha com pódio inédito – para o país e para ela própria – em Tóquio 2020.
– É a medalha que falta na minha carreira. A Olimpíada, para um atleta, é o mesmo que o red carpet (tapete vermelho, em referência a um dos símbolos das cerimônias de premiação do Oscar) representa para um ator – compara.
E se existe algo que Nathalie tem autoridade é traçar comparações entre diferentes áreas de atividade.