Vamos olhar para a metade cheia do copo. Frutos ainda dos pesados investimentos feitos para os Jogos do Rio 2016, os resultados dos atletas brasileiros na temporada são animadores e permitem, sim, projetar uma campanha histórica em Tóquio. Em 2019, o Brasil arrebanhou 22 medalhas — seis delas de ouro — em Mundiais, o melhor desempenho até agora do país em anos pré-olímpicos. Em 2015, por exemplo, nossos atletas subiram ao pódio em 17 oportunidades (apenas três foram campeões) nas principais competições do calendário.
Conquistas em novas modalidades olímpicas vitaminaram as estatísticas. Surfe e skate revelaram dois novos campeões mundiais — Pamela Rosa e Italo Ferreira — e renderam seis medalhas no total para o Brasil. A temporada também foi de reafirmação do canoísta Isaquias Queiroz e do ressurgimento de Nathalie Moellhausen, que, ao trocar a Itália pelo Brasil, voltou a subir no topo do pódio. Para finalizar, em um único dia, dois brasileiros se consagraram: Arthur Nory, na ginástica, e Beatriz Ferreira, no boxe, cantaram o Hino Nacional em 13 de outubro.
O levantamento feito pela coluna leva em conta apenas resultados de Mundiais — a exceção é o vôlei, que teve uma competição forte no calendário, a Liga das Nações. O balanço feito pelo COB também registra 22 medalhas, mas com duas diferenças. O comitê atribuiu ouro a Martine Grael e Kahena Kunze na classe 49erFX (No Pódio contabilizou a prata obtida no Mundial da Nova Zelândia) por considerar que as atuais campeões olímpicas venceram o evento-teste da vela organizada na mesma raia dos Jogos de 2020 e bronze a Vinicius Figueira na categoria até 67 quilos do karatê no Premier do Japão (GaúchaZH desconsiderou essa medalha porque o Mundial foi em 2018). Por outro lado, incluímos a prata de Ícaro Miguel Soares na categoria até 87 quilos no taekwondo — ele disputa a vaga olímpica na categoria até 80 quilos.
Conheça os campeões (veja o quadro de medalhas de todas as modalidades no fim do texto):
Força nas remadas
Primeiro brasileiro a conquistar três medalhas em uma mesma edição dos Jogos, em 2016, Isaquias Queiroz garantiu a vaga para Tóquio 2020 em grande estilo, com ouro e bronze no Mundial de Szeged, na Hungria, em agosto.
Na final do C-1 1.000m, mesmo abatido por uma gripe e o cansaço das provas eliminatórias, o baiano de 25 anos foi o único canoísta a completar a distância abaixo dos 4min, deixando para trás o alemão Sebastian Brendel, atual bicampeão olímpico, que só foi quarto colocado. No C-2 1.000, ao lado de Erlon Silva, terminou em terceiro lugar. Com esse desempenho, Isaquias atingiu a marca de 12 medalhas em Mundiais, seis delas de ouro. É candidatíssimo a pódios no Japão.
Como fomos em 2015
No Mundial de Milão, Isaquias foi bronze no C-1 200m, que era prova olímpica, e ouro com Erlon no C-2 1.000m.
Como fomos no Rio 2016
Isaquias fez história ao faturar duas pratas — C-1 1.000m e C-2 1.000m, com Erlon Silva — e o bronze no C-1 200m.
Dinastia baiana
Depois de anos de ostracismo, nesta década o Brasil entrou na rota das medalhas na "nobre arte". Em 2019, nenhum nome reluziu mais do que o de Beatriz Ferreira, 27 anos. Em agosto, a pugilista baiana conquistou o único ouro do país no Jogos Pan-Americanos de Lima. Dois meses depois, em Ulan-Uden (Rússia), faturou o título mundial na categoria até 60kg. No último dia 10, a peso leve foi coroada como a melhor atleta do ano do país no Prêmio Brasil Olímpico, promovido pelo COB. Para 2020, Bia sonha:
— Amadureci muito, estou mais experiente para chegar a Tóquio e brigar por medalha.
No Mundial masculino, em setembro, o baiano Hebert Conceição foi bronze nos médios (até 75kg), na Rússia.
Como fomos em 2015
O baiano Robson Conceição conquistou a medalha de bronze no peso ligeiro (até 60kg) no Mundial de Doha, no Catar.
Como fomos no Rio 2016
Robson Conceição levou o público do Riocentro ao delírio ao se consagrar como o primeiro brasileiro campeão olímpico de boxe.
O novo voo de Arhtur Nory
Dono do bronze no solo nos Jogos do Rio 2016, Arthur Nory entrou em um seleto rol de campeões mundiais do Brasil na ginástica artística, ao lado de Daiane dos Santos, Diego Hypólito e Arthur Zanetti. Em outubro, o paulista de 26 anos conquistou o ouro na barra fixa em Stuttgart (Alemanha).
— É difícil prever medalha na ginástica, mas ele seguirá sendo favorito. A nota de partida do Nory na barra fixa já é a segunda, terceira maior do mundo, e ele ainda vai acrescentar um exercício (aumentando o grau de dificuldade da série) — diz Leonardo Finco, gerente de seleções da confederação brasileira.
Como fomos em 2015
O ginastas brasileiros não conquistaram medalha no Mundial de Glasgow (Escócia).
Como fomos no Rio 2016
Duas pratas, com Diego Hypólito (solo) e Arthur Zanetti (argolas), e um bronze, com Arthur Nory (solo).
Touché com sotaque italiano
Sexta colocada na espada nos Jogos do Rio 2016, a melhor campanha da esgrima brasileira até agora em Olimpíadas, Nathalie Moellhausen entrou definitivamente na história do esporte brasileiro ao conquistar o inédito título mundial para o país em Budapeste, em julho. Nascida em Milão, filha de uma estilista ítalo-brasileira e de um alemão, a atleta de 34 anos já subiu ao pódio pela Itália em Mundiais e passou a representar o Brasil a partir de 2014. Atual quinta colocada do ranking, buscará a sua primeira medalha nos Jogos em 2020.
Como fomos em 2015
Sem medalhas do Brasil no Mundial de Moscou
Como fomos no Rio 2016
Sem medalhas. Nathalie e o gaúcho Guilherme Toldo avançaram até as quartas de final, melhor resultado da história do Brasil nas Olimpíadas.
Para radicalizar no pódio
Um dos cinco novos esportes dos Jogos Olímpicos, o skate tem tudo para turbinar o desempenho do Time Brasil em Tóquio. No Mundial disputado em São Paulo, em setembro, os atletas do país conquistaram medalhas de todas as cores nas duas modalidades que farão parte do programa dos Jogos. No street feminino, Pamela Rosa (ouro) e Rayssa Leal (prata) fizeram dobradinha no pódio. No park, Luiz Francisco faturou a prata, enquanto Pedro Quintas ficou com o bronze.
Como fomos em 2015
O skate ainda não era esporte olímpico. Letícia Bufani e Kelvin Hoefler foram campeões mundiais de street, enquanto o gaúcho Luan Oliveira foi terceiro na mesma modalidade.
Como fomos no Rio 2016
O skate não integrou o programa dos Jogos Olímpicos.
Previsão de tempestade olímpica em 2020
Disputado em 12 etapas ao longo do ano, o Circuito Mundial promovido pela Liga Mundial de Surfe (WSL) é a competição de maior prestígio da categoria. Mas o ISA Surfing Games, organizado pela Associação Internacional de Surfe, foi o torneio que definiu o "campeão olímpico" de 2019 para efeito desse levantamento. Primeiro, porque a ISA é a entidade reconhecida pelo COI. Segundo, porque tem formato parecido com a competição que será travada no Japão em 2020 — evento único com baterias de quatro surfistas.
Seja qual for o critério, Italo Ferreira gabaritou nas ondas em 2019: o potiguar de 25 anos faturou o ouro no ISA Games, em setembro, e, na última quinta feira, tornou-se o mais novo representante da Tempestade Brasileira a conquistar o título da Liga Mundial, com vitória nos tubos de Pipeline. Vice-campeão do CT, Gabriel Medina foi bronze no ISA Games. No feminino, Silvana Lima levou a medalha de prata. Italo Ferreira foi o campeão e Gabriel Medina ficou em terceiro lugar no masculino. No feminino, Silvana Lima foi prata. O trio mais a gaúcha-havaiana Tatiana Weston-Webb serão os representantes brasileiros em Tóquio.
Como fomos em 2015
Os surfistas brasileiros ficaram fora do pódio do ISA Games.
Como fomos no Rio 2016
O surfe não integrou o programa dos Jogos Olímpicos.