– É prata, bronze e agora vai ser ouro! Pra completar a coleção!
Enquanto Isaquias Queiroz atendia pacientemente aos repórteres sedentos por uma palavra do dono de duas medalhas olímpicas, ouvia o pedido otimista que vinha de um torcedor mais exaltado. O público agora conhece e reverencia o baiano de jeito franco e simples. Virou um xodó.
Também pudera. Nesta quinta-feira, veio um bronze na canoa individual de 200m para acompanhar a prata que conquistou terça-feira nos 1000m. Na sexta ele inicia a campanha na canoa em dupla de 1000m, ao lado de Erlon de Souza, que pode lhe dar o terceiro pódio na mesma Olimpíada, feito que nenhum brasileiro conseguiu na história dos Jogos.
No início da semana, nas primeiras provas da canoa individual de 1000m, ainda havia espectadores menos familiarizados que se confundiam com o nome pouco usual daquele competidor que, apesar dos excelentes resultados durante todo o ciclo, chegara aos Jogos desconhecido do grande público.
– Vai Isaías! – ouvia-se nas arquibancadas instaladas na Lagoa Rodrigo de Freitas.
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Agora não há quem não saiba dizer o nome do novo herói brasileiro. Enquanto circulava e parava para inúmeras entrevistas na zona mista, após o suado bronze nos 200m, era chamado repetidas vezes. Os espectadores se amontoavam em uma grade que os separa da área reservada aos repórteres e chamavam a atenção do novo ídolo. Queriam um aceno ou que mostrasse sua nova medalha.
Quando chegou próximo da grade, Isaquias atendeu a cada um deles. Pegava os telefones celulares, apontava a câmera, mostrava o símbolo da conquista e tirava incontáveis selfies.
– Quando cheguei hoje, vi que estava muito lotado. Já disputei Mundial na Alemanha, onde a canoagem é muito forte, e nunca tinha visto algo assim – afirmou.
Viu-se o apoio ao novo herói logo em sua primeira aparição, pouco menos de uma hora antes da final dos 200m, quando passou remando calmamente em frente à arquibancada. A torcida foi à loucura em aplausos.
Mesmo empurrado pelos novos fãs, Isaquias sofreu para trazer o bronze. Desta vez não foi a largada que lhe atrapalhou, como era seu temor na prova curta. Logo depois da partida, porém, deu uma remada em falso que o deixou para trás. Teve de fazer uma prova de recuperação. Chegou disputando o terceiro lugar com o espanhol Alfonso Ayala e o georgiano Zaza Naziradze. Ao dar a última remada, estava convencido de que terminara em quarto ou quinto lugar.
O suspense aumentou com a demora na confirmação do resultado. O telão mostrava os donos do ouro e da prata e não informava o terceiro integrante do pódio. Quando apareceu o nome do brasileiro, a torcida foi ao delírio. Isaquias, que também aguardava esperançoso pelo resultado, levantou os dois braços e gritou na água. Transformara-se no quinto atleta do país a ter duas medalhas na mesma edição dos Jogos, junto com Guilherme Paraense (1920), Afrânio da Costa (1920), Gustavo Borges (1996) e César Cielo (2008).
Saindo da Lagoa, deu início à peregrinação para falar aos jornalistas e virar dublê de atleta e fotógrafo para acolher os pedidos de selfies. A demorada atenção que tem dado aos fãs mostra como tem saboreado o momento único. O que não significa que tenha perdido o foco para a última prova da Olimpíada:
– Eu saio do pódio e treino no mesmo dia. Tem de manter o ritmo. Como seria bom ir pra Bahia descansar, não é? Mas a gente está treinando muito bem lá em Lagoa Santa-MG para essa prova do C-2. Vamos buscar o ouro. Sabemos como é o esporte, às vezes não dá, mas queremos essa medalha.
Antes dos Jogos, a prova da canoa em dupla era apontada como a mais provável chance de medalha para o Brasil na canoagem. As projeções da empresa Gracenote, especializada em previsões de pódios na Olimpíada, e da revista americana Sports Illustrated, indicavam que Isaquias só estaria entre os três primeiros na prova que começa nesta sexta-feira. O favoritismo vem, principalmente, do título mundial conquistado pelos dois em Milão, no ano passado. Eles iniciam sua caminhada às 9h20min, quando disputam a bateria classificatória. Se vencerem, avançam direto para a final de sábado.
A Lagoa Rodrigo de Freitas ainda tem, portanto, mais dois dias para mimar seu filho predileto. Isaquias pode até ter saudades do descanso na Bahia, mas certamente sentirá falta dos dias de ídolo em sua primeira – e vitoriosa – campanha olímpica.