A decisão de alguns dos melhores golfistas da atualidade de não viajarem ao Rio para disputar os Jogos Olímpicos, alegando temer o zika vírus, foi motivada apenas por razões financeiras, afirmam representantes do esporte no Brasil consultados pela AFP.
Em seu retorno ao programa olímpico depois de 112 anos, o golfe não terá os quatro primeiros colocados do ranking: o australiano Jason Day, os americanos Dustin Johnson e Jordan Spieth, e o norte-irlandês Rory McIlroy, respectivamente. Outros astros da modalidade pularam fora, como o australiano Adam Scott, o sul-africano Louis Oosthuizen, o fijiano Vijay Singh ou o japonês Hideki Matsuyama.
A maioria deu como justificativa o surto do zika vírus, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que causa febre, dores nas articulações e pode ser responsável por casos de microcefalia, malformação que atinge recém-nascidos.
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Em meio às preocupações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as autoridades brasileiras argumentaram que o risco de infecção é praticamente nulo durante o período olímpico (5 a 21 de agosto), por conta da queda das temperaturas.
Christophe Dubi, diretor executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI), já jogou golfe várias vezes nos últimos meses no projeto social de Japeri, campo público localizado na zona norte do Rio.
Único brasileiro classificado para o torneio masculino dos Jogos, Adilson da Silva diz "entender as preocupações" dos colegas que alegam "querer começar uma família", mas considera que "representar seu país é algo muito especial, é uma pena que algumas pessoas não pensem assim".
– Não posso mentir e dizer que não me preocupo, mas não estou com medo. Tenho que tomar precauções, mas vou manter a atenção no jogo, não no mosquito – completa.
Bem menos diplomático, Hélcio Figueiredo, golfista amador no clube da Gávea, na zona sul do Rio, dispara: "sinceramente, acho isso uma bobagem!"
– Nós temos crianças aqui, as autoridades tomaram providências. Eu diria até que o Zika é coisa do passado – argumenta.
– O medo do vírus é um percentual pequeno que formou a decisão deles e acho que serviu um pouquinho como desculpa. Os fatores financeiros, a agenda, os benefícios em caso de vitória: isso tudo pesou na balança – critica o diretor técnico do clube, Abílio Junior.
– Eles ganham prêmios astronômicos, enquanto, na Olimpíada, a premiação é zero. A disputa é pela medalha – concorda Eudes de Orléans e Bragança, ex-presidente da Confederação Brasileira de Golfe (CBG) de 1995 à 1998 e descendente do Dom Pedro II.
Para o ex-dirigente, o dinheiro não é o único motivo. Outra razão seria a presença na lista de substâncias proibidas do Comitê Olímpico Internacional (COI) de vários medicamentos usados por golfistas.
Sua filha, Maria Francisca, que é capitã da equipe feminina da Gávea, é ainda mais explícita:
– Acho que, na realidade, o medo de ser pego nos exames antidoping é bem pior.
O próprio Rory McIlroy, um dos astros mais conhecidos do esporte, confessou que o torneio olímpico não faz parte das prioridades da temporada dos golfistas de elite.
– A maioria do outros atletas sonham a vida inteira em conquistar uma medalha olímpicos, mas nós sonhamos com o 'Claret Jug' ou o casaco verde – explicou o número 4 do mundo, referindo-se ao troféu do British Open ou à jaqueta que recompensa o vencedor do Masters de Augusta.