Você se lembra onde estava em 17 de julho de 1994? Naquele dia, o Brasil conquistou o tetracampeonato mundial ao vencer a Itália na final decidida nos pênaltis, no Rose Bowl, em Pasadena, na Califórnia. Depois de Romário, Branco e Dunga converterem e Taffarel pegar uma das cobranças, Roberto Baggio bateu por cima da goleira e deu início à festa brasileira.
ZH conversou com gaúchos que torceram pela Seleção e, três décadas depois, ainda guardam na memória como acompanharam a decisão daquela Copa do Mundo. Entre as histórias, está a de Cristina Ranzolin, apresentadora da RBS TV que, além de vibrar pelo título, também torceu pela realização do sonho do pai, Armindo Antônio Ranzolin, narrador da Rádio Gaúcha que acompanhou os jogos do Brasil nos Estados Unidos.
O depoimento do ator Zé Victor Castiel dá a dimensão da passagem do tempo: o filho João, então recém-nascido, está com 30 anos. O músico Humberto Gessinger foi impactado com a força do futebol para cativar as novas gerações. O também músico Theddy Corrêa, da banda Nenhum de Nós, recorda como a sua casa se tornou um local sagrado para apoiar o time de Carlos Alberto Parreira.
O comunicador da Rádio Atlântida Alexandre Fetter menciona, com carinho, a reunião de família para acompanhar a transmissão da TV Globo eternizada na voz de Galvão Bueno. Já o músico nativista e apresentador da RBS TV Neto Fagundes descreve como Porto Alegre, a capital do Rio Grande od Sul, explodiu com o grito de "é campeão". Veja os relatos, abaixo.
Alexandre Fetter - Comunicador da Rádio Atlântida
Era uma tarde de domingo, 17 de julho, na tela da televisão, com a família em casa, um domingo frio, com pipoca, com quentão, com paçoquinha, vinho. Que delícia! Que tempo maravilhoso, o tetra do Brasil, com o Roberto Baggio botando a bola para fora, Taffarel pegando o pênalti, Galvão Bueno berrando no microfone da Globo, reclamando do Pelé na linha de serviço. Que delícia aquele tempo. Muito melhor 1994 do que 2014, por exemplo, que está fazendo 10 anos agora, quando o Brasil foi patrolado pela Alemanha. É um prazer viajar no tempo e buscar essa memória para trazer de volta essa saudade, que privilégio.
Cristina Ranzolin - Apresentadora da RBS TV e filha de Armindo Antônio Ranzolin, narrador da Rádio Gaúcha na cobertura do Tetra nos Estados Unidos
"Eu estava na TV Globo naquela época. Fui assistir o jogo na casa da Mylena Ciribelli, que era apresentadora do Globo Esporte na época. E foi engraçado, porque eu tinha o hábito de ver o jogo na televisão e ouvir na Gaúcha. Então, levei o meu radinho comigo, porque eles queriam ver o jogo assistindo o Galvão, né?. Foi muito legal assistir lá na casa dela. Terminou, e eu queria muito, eu torci muito para o Brasil, não só pela torcida por ser brasileira, mas pelo meu pai. O pai sempre sonhava em narrar um título da Seleção Brasileira em Copa do Mundo. Ele foi em seis Copas do Mundo e nunca tinha narrado um título. Ele estava torcendo demais para que o Brasil ganhasse. Foi muito lindo, vibrei demais. Depois, fui ali para o Calçadão de Ipanema, no Rio de Janeiro, onde foi uma super festa do Tetra."
Humberto Gessinger - Músico e fundador da antiga banda Engenheiros do Hawaii
"Na época, eu tinha um contrato com a Umbro e recebia muito material da marca, muita coisa da Seleção Brasileira. Todo mundo achava que eu era um fanático torcedor da Seleção, mas, na verdade, eu sempre curti mais o futebol de clubes, do Grêmio especificamente, do que de seleções. É claro que ali (na conquista da Copa do Mundo) emocionou muito por conta do tempo que a gente estava sem ganhar, já estavam cobrando isso.
E teve muito também a minha torcida pelo Dunga, principalmente para que ele não errasse aquele pênalti na final, porque eu morava no Rio e pegavam muito no pé do Dunga na época, no Rio e em São Paulo. Foi mais um fator que me fez torcer naquela final. Engraçado que, depois da final, eu me lembro de levar o meu sobrinho a um cinema para ver o filme da Fifa sobre a final, acho que um mês depois, e ter chorado na sessão de cinema ao lado do meu sobrinho, vendo como essa coisa da paixão do futebol se transmite para as novas gerações. O guri ficou super emocionado no cinema, e eu chorei. Acho que me emocionei mais vendo o filme da Fifa do que o jogo em si."
Neto Fagundes - Músico nativista e apresentador da RBS TV
Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Eu morava na Rua Bernardo Pires (bairro Santana, em Porto Alegre). A minha mulher, a Cristina, e eu ficamos assistindo ao jogo sozinhos em casa. Aquele momento especial quando chegou na hora do pênalti. Me lembro que eu fui para a sacada da minha casa e a cidade inteira estava em silêncio. E eu esperei um pouco, não vi nada na televisão, só vi quando a cidade deu um grito em uníssono. Um negócio impressionante Eu digo: tá, o Taffarel pegou ou foi para fora. E foi um momento, realmente, muito emocionante, uma sensação incrível porque uma cidade inteira gritou ao mesmo tempo. E aquele grito foi, ecoou pelos céus da cidade.
Theddy Corrêa - Músico e integrante da banda Nenhum de Nós
"Em 1994, o ponto de encontro da família para assistir o primeiro jogo do Brasil foi na minha casa. Todo mundo devidamente fardado e com bandeirinhas e tudo mais. O lugar foi dando sorte e o que aconteceu é que ninguém podia faltar. Todo mundo sentava no mesmo lugar e a gente assistia aos jogos com aquela impressão que aquilo estava de alguma maneira influenciando o resultado. O fato é que, quando a gente ganhou o Tetra, foi como se um pouquinho da nossa contribuição imaginária tivesse rolado. Foi muita alegria. A gente explodiu naquele jeito quase do Galvão, gritando "é Tetra, é Tetra". Todo mundo estava junto nessa, e a família toda reunida, o que foi uma coisa muito legal e fez com que a festa fosse ainda maior."
Zé Victor Castiel - Ator
"Não tenho como esquecer onde eu estava há 30 anos, quando o Brasil foi tetracampeão do mundo. Eu estava com um bebê recém-nascido, eu e a minha esposa. O bebê era meu filho João, que tinha nascido em 31 de maio. Nós estávamos em um encontro de amigos na churrasqueira da casa do autor, diretor e psicanalista Julio Conte. E eu me lembro que, quando terminou o jogo (contra a Itália, na final), empatado, eu e minha esposa resolvemos ir embora para casa porque estava demais, tinha muita gente, o bebê era muito pequeno, o Joãozinho, que já está com 30 anos. E fomos para casa exatamente do momento em que terminou até o momento em que foi começar as batidas de pênalti.
Então, o que aconteceu? Nós saímos da rua do Colégio Americano e fomos até a esquina da Garibaldi, com a Avenida Independência, onde morávamos. Eu, minha esposa, minha filha Alice, que já tinha quase 4 anos, e o meu filho, o João. Chegamos em casa. Foi o tempo de ligar a televisão e assistir aos pênaltis até que o nosso querido amigo Roberto Baggio errou aquele pênalti e jogou por cima do Taffarel. Nós fomos que nem uns loucos para a janela, com bebê, com criança, com tudo, e gritávamos: É Tetra!"