Uma visita à história da Seleção Brasileira marca a despedida de Mário Jorge Lobo Zagallo, neste domingo (7), no Rio de Janeiro. O velório do lendário ex-jogador e ex-treinador ocorre no Museu da CBF, na Barra da Tijuca, em meio a estátuas, relíquias e taças, muitas delas conquistadas com a participação direta do Velho Lobo.
Desde às 9h30min, torcedores e ícones do futebol brasileiro comparecem à cerimônia, aberta ao público, para prestar à última homenagem ao multicampeão, que morreu nesta sexta (5), aos 92 anos, de falência múltipla dos órgãos. O sepultamento aconteceu pouco depois das 17h, no cemitério São João Batista, bairro de Botafogo.
A sede da CBF, situada ao lado do Museu, amanheceu decorada com um grande banner com três fotos de Zagallo, cada uma delas de uma época da sua vitoriosa histórica.
Tetracampeões
Entre os ex-jogadores que apareceram, estão estrelas da Copa do Mundo de 1994, quando o Velho Lobo era o coordenador-técnico da comissão liderada por Carlos Alberto Parreira. Bebeto, Mazinho, Cafu, Gilmar, Branco, Mauro Silva e o próprio Parreira estão entre aqueles que compareceram à cerimônia. O primeiro a chegar foi Zinho, meia daquela Seleção.
— O Zagallo me ensinou a amar a Seleção Brasileira. E 90% do meu período na Seleção foi com o Zagallo. Ele é uma referência de amor para a Seleção e de respeito pela camisa amarela. Quando eu penso na Seleção Brasileira, penso no zagallo. O mundo pensa no Zagallo. Ele tinha muito prazer e amor em servir a Seleção, e este é o legado que ele deixou — disse Zinho à Rádio Gaúcha.
— Em toda a minha história como jogador de futebol e como homem, ele foi a minha referência. Quando cheguei, não tinha nem condições de falar, começava a chorar. A história dele transcende o futebol. A família era próxima a ele. Minha filha ficava "foi visitar o Zagallo, pai?". O filho tava dizendo que ele precisava descansar. Aí dói o coração, né — disse Bebeto, titular da Copa de 1994, que lembrou que conheceu Zagallo quando chegou ao Flamengo, nos anos 1980, vindo do Vitória.
Bebeto destacou quais foram os diferenciais de Zagallo como técnico:
— Nunca desanimava. Vou contar uma história dele: naquele jogo contra a África do Sul (amistoso, em 1996), ele saiu gritando: "Vocês tão de brincadeira, né. Vamos passar esse vexame aqui? É isso que vocês querem?". Aí voltamos do vestiário, estava 2 a 0, fizemos 3 a 2, ficou famoso pela comemoração do aviãozinho. Eu fico até emocionado de pensar naqueles momentos que passamos juntos. Ele vai ser eterno — declarou.
Segundo o ex-lateral Jorginho, um dos presentes na cerimônia de despedida, o Tetra não teria sido conquistado sem a participação do Velho Lobo.
— O Zagallo sempre nos motivava. Foi ele quem mudou a minha história de vida ao me levar para o Flamengo em 1984. Me ensinou muita coisa. Hoje, como treinador, eu pego muita coisa dele, principalmente na área motivacional. Tenho certeza que não conquistaríamos o Tetra se não tivéssemos um tricampeão como o Zagallo ali com a gente — declarou.
Reserva em 1994 - apesar de ter entrado na histórica final contra a Itália -, Cafu também foi comandado por Zagallo na Copa do Mundo 1998, na França, quando o Brasil foi vice-campeão. Na despedida, o capitão do Penta destacou as virtudes do Velho Lobo como técnico.
— O Zagallo, como treinador, nunca tirou as características dos jogadores, nunca tirou aquilo que os atletas tinham de melhor. E ele procurava um jeito de fazer com que nós fizéssemos dentro de campo aquilo que ele queria, mas sem fugir das nossas características _ elogiou.
Além dos tetracampeões, também foi registrada a presença de Tite, que treinou a Seleção nas últimas Copas; os ex-atletas Cesar Sampaio, Clodoaldo, Reinaldo e Juan; e o comandante da Seleção Olímpica e da equipe Sub-20 Ramon Menezes.
Desde as primeiras horas da manhã, chamou atenção a presença de torcedores identificados não só com a camisa da Seleção, mas de diversos clubes do Rio de Janeiro, como Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo e América. Muitos deles expunham cartazes com frases históricas de Zagallo, como o aposentado Antônio Augusto, 73 anos, que exibia a clássica frase "Vocês vão ter que me engolir".
— O Zagallo significa tudo para mim. Foi muito multicampeão pelo meu Botafogo e pela Seleção. É meu ídolo. Vocês vão ter que me engolir — exclamou.
Antes de chegar à sala do velório, os visitantes que entram no museu da CBF passam por uma sala onde são exibidos troféus históricos, as camisetas usadas pela Seleção Brasileira, vídeos com momentos emblemáticos do Brasil em Copas e, por fim, estátuas de cera da Rainha Marta e do Rei Pelé.
Ao final do trajeto, os torcedores formaram fila para prestar à última homenagem ao lado do corpo de Zagallo. O caixão é posicionado entre uma estátua de cera do ex-jogador e ex-treinador e réplicas das taças das cinco Copas do Mundo conquistadas pela Seleção. Quatro delas, com participação direta do Velho Lobo.