Novak Djokovic voltou ao topo em 2023. Campeão de sete torneios na temporada, o sérvio retomou o primeiro lugar do ranking da ATP. Seu histórico no ano é impressionante. Ele venceu 55 dos 61 jogos disputados. Fora das quadras, o tenista manteve o jeito polêmico e continuou acumulando premiações ao patrimônio. Na raquete ou na conta bancária, é difícil que outro atleta da modalidade faça frente ao sérvio de 36 anos.
No ATP Finals, Jannik Sinner tentou na decisão neste último domingo, no Pala Alpitour, em Turim, na Itália. mas sofreu e perdeu em sets diretos. Djokovic chegou ao sétimo título do torneio e superou Roger Federer, que tem seis e enfrenta problemas físicos para voltar às quadras. Então, o sérvio reina sozinho. Djokovic conquistou 24 títulos de Grand Slam. "Muito especial. Uma das melhores temporadas que tive na minha vida, sem dúvida", disse, depois do título e do reconhecimento da qualidade do adversário, que chegou a derrotá-lo na primeira fase do torneio.
Escalada de volta ao topo do ranking
Assim que Djokovic venceu a primeira partida do US Open deste ano, ele sabia que voltaria a ser o líder do ranking da ATP. O sérvio somou a pontuação suficiente para desbancar Carlos Alcaraz, espanhol e um dos melhores tenistas da nova geração. Até então atual campeão, o espanhol caiu na semifinal. A diferença entre Djokovic e Alcaraz no ranking chegou a 3 mil pontos, mas já caiu para 1.490, ainda que o sérvio lidere.
É de Djokovic o recorde de mais semanas no topo, com 390. A partir desta semana, além de estar em primeiro lugar, há um novo recorde, o de semanas (não consecutivas) na melhor posição. Djokovic superou ele próprio, chegando à marca inédita de 400 semanas. Na prática, o sérvio deve encerrar o ano no topo mais uma vez. Além do US Open, ele festejou mais dois torneios de Grand Slam.
Para 2024, além de premiações, o tenista pode quebrar recordes como maior campeão de Wimbledon e mais vitórias em Grand Slams. Nos dois casos, o posto é do aposentado Roger Federer. O antigo rival de Djokovic empata com ele no mais antigo torneio de tênis do mundo (cada um tem sete títulos). Já nas vitórias em Grand Slams, o suíço tem vantagem de oito jogos, 369 contra 361.
Outra façanha inédita que pode ser conquistada pelo tenista sérvio é o título olímpico nos Jogos de Paris 2024. Ele tem apenas o bronze, em Pequim 2008.
—A minha motivação para vencer os maiores torneios está intacta, é o que me impulsiona a continuar jogando. Os Jogos Olímpicos de 2024 serão um dos meus grandes objetivos, além dos torneios 'majors"— mira o sérvio.
Ele não tem receio em demonstrar ambição, afinal soma 98 troféus de simples na carreira e é o terceiro maior campeão da Era Aberta, atrás de Federer (1030 e do norte-americano Jimmy Connors (109).
— Posso melhorar se vencer os quatro Grand Slams e o título olímpico (risos)— avisa. Com 28 títulos e 1.084 vitórias contra 212 derrotas, o tenista sérvio supera a si mesmo em cada ano da carreira para se destacar entre os maiores de sua geração.
Quem pode fazer frente ?
Os principais nomes que podem fazer frente ao sérvio são Alcaraz, Sinner e o russo Daniil Medvedev. O espanhol conseguiu bater Djokovic em Wimbledon neste ano. Ainda assim, há um reconhecimento sobre a superioridade do número 1 quando se fala em quadras cobertas. "Sinto que não estou no nível dele, obviamente. Ele tem mais experiência do que eu jogando nessas quadras", admitiu Alcaraz depois da derrota no ATP Finals.
—Ele leva você ao limite em cada bola, em cada golpe, e joga no mesmo nível durante toda a partida. É algo que só uma lenda do nosso esporte é capaz fazer. É inacreditável o que ele está fazendo, apenas quebrando recordes, vencendo todos os torneios que participa. É uma loucura. Então, tenho uma mistura de motivação e uma mistura de não querer pensar nisso— avaliou o vencedor de dois Grand Slam e detentor de 36 semanas no topo. "
— Quero ser o melhor da história. Treino com um objetivo. Eu quero ganhar dele e vencer todos os torneios que eu jogar. Mas tenho que me manter em alto nível por cerca de 15 anos. Então é inacreditável— afirma o jovem tenista de 20 anos.
Medvedev, vice no US Open para Djokovic, também exalta o adversário sérvio. Ele já confessou estar na torcida para que o sérvio "diminua um pouco o ritmo" e não se acanha e, revelar sua admiração.
— Uma coisa incrível que posso dizer é que já bati Novak em uma final de Grand Slam, acho que é o ápice da minha carreira— disse após o torneio de setembro.
Na análise de Fernando Meligeni, um dos maiores tenistas brasileiros da Era Aberta, Djokovic até já teve momentos melhores na carreira, mas com menos experiência.
— No passado, ele jogava contra Nadal, Federer e Murray. O nível que ele precisava para ganhar era maior. Isso não tira o absurdo de tênis que ele tá jogando. E muita experiência. Ideia de momentos em que ele pode ou nao dar pontos de graça— analisa o ex-número 26 do mundo.
Quanto aos adversários, o comentarista dos canais ESPN faz a ressalva de que "o tênis muda a cada semana". Para ele, Djokovic não é invencível, mas hoje já é o melhor tenista do mundo há um bom tempo.
— Há dois anos, a gente reclamava que os adversários estavam longe. Não víamos quem o enfrentasse. Hoje vemos. Só que no geral ele continua ganhando porque ele é superior. O Alcaraz pode tirar o número 1 dele por momentos. Mas se você coloca o ano todo, não chegam perto. Ele é o número 1 do mundo não só pelo resultado— afirma o semifinalista de Roland Garros em 1999 e quarto colocado nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996.
Número 1 nas quadras e nas cifras
Nesta temporada, as premiações totais de Djokovic chegaram a US$ 15,9 milhões, o equivalente a R$ 77,3 milhões. Somente o ATP Finals, vencido no último fim de semana, rendeu a ele US$ 4,4 milhões. Conforme a ATP, ele já acumulou US$ 176,2 milhões em premiações na carreira (R$ 857 milhões).
A revista Forbes, o coloca como o tenista mais bem pago do mundo. Segundo levantamento da ´publicação, o sérvio recebeu US$ 38,4 milhões no intervalo de agosto de 2022 até agosto de 2023. O valor desconsidera impostos e taxas de agentes. O atleta não é superado mesmo que divida os ganhos entre o que é vencido em prêmios (US$ 13,4 milhões no período) ou por acordos de patrocínio, taxas de comparecimento e receitas de licenciamento (US$ 25 milhões nos 12 meses).
Novamente o recorde anterior era de Federer. O tenista recebia US$ 95 milhões anuais. Desta vez, Djokovic assumiu o primeiro lugar por causa da aposentadoria do suíço, aos 42 anos, em setembro de 2022. Quem pode encostar no sérvio é, assim como na quadra, Carlos Alcaraz. O espanhol de 20 anos arrecadou US$ 31,4 milhões nos 12 meses analisados pela Forbes. Foram US$ 11,4 milhões na quadra e cerca de US$ 20 milhões em patrocínios
Polêmicas fora da quadra
Muito da antipatia que Djokovic carrega vem dos fãs de Roger Federer e Rafael Nadal. Por outro lado, o sérvio costuma divertir espectadores, não economizar nos autógrafos e nas fotos com os admiradores. Episódios como o desenho de coração no saibro de Roland Garros e ter dado a sua raquete a um menino em 2020 mostram um Djokovic "coração mole", diferentemente do que é visto nos sets das partidas, quando a seriedade impera e seu coração e alma parecem de gelo.
— Ele sabe hora de brigar, trazer o público a favor ou contra. Ele fica regendo a torcida, usa a torcida contra ou idolatria para se motivar— analisa Meligeni.
A competitividade é o que pesa no gênio do tenista sérvio. E talvez por ele ser genial. Na última semana, depois de ter perdido para Sinner na primeira fase do ATP Finals, Djokovic desapareceu.
— Não o vimos por todo um dia. Não sabíamos o que ia passar, não sabíamos se ia voltar para casa ou se tinha de preparar o treinamento para a próxima partida. Esperamos, esperamos e finalmente descobrimos que ele ia jogar— contou o técnico do sérvio, Goran Ivanievic. O treinador admite que "não é fácil", mas é categórico: "É o melhor jogador da história do tênis."
A personalidade forte já o colocou em polêmicas. Na geopolítica, o sérvio mantém a posição oficial do país e não reconhece Kosovo, independente desde 2008, como um país separado. Nascido em Belgrado, Djokovic tem a juventude marcada pela guerra do Kosovo, quando tinha apenas 12 anos, entre 1998 e 1999.
A fama controversa também se espalhou devido ao tenista negar a vacina contra a covid-19 durante a pandemia. Ele chegou a ser deportado da Austrália, onde disputaria o Australian Open no começo de 2022, por não ter vacinação comprovada. O país exigia a imunização de visitantes estrangeiros. Recentemente, Djokovic corrigiu quem o chama de antivacina (ou até NoVax, no apelido que ganhou na época). Para o atleta, o que ele defende é a liberdade de escolha.
A saúde, contudo, é uma preocupação do tenista. Além de adepto da mediação, ele é autor do livro 'Sirva para Vencer: A dieta sem glúten para a excelência física e mental', lançado em 2014. O tenista mostra o lado empresário como dono da linha de alimentos altamente nutritivos "Djokolife" e proprietário de uma cadeia de restaurantes chamada Novak Cafe & Restaurant, que conta com estabelecimentos na Sérvia. É comum que o atleta compartilhe o estilo de vida junto da mulher, Jelena, com quem é casado há nove anos.
Djokovic demonstra acompanhar diferentes esportes. Em setembro, Belgrado recebeu o tenista para a comemoração do US Open enquanto também festejava a prata da Sérvia na Copa do Mundo de Basquete. Ele também foi campeão do O All-Star Match da Ryder Cup, torneio de golfe que reuniu o ex-Real Madrid, Gareth Bale e Carlos Sainz Jr, piloto da Ferrari na Fórmula 1. No Instagram, já postou fotos com Ibrahimovic e Lionel Messi. Apesar das polêmicas, Djokovic maneja a imagem. E isso é feito com cuidado e da mesma maneira que joga tênis: para vencer.