A distância entre a alegria e o desespero foi de 4m50cm. Essa foi a altura da qual cinco torcedores caíram das arquibancadas do Estádio dos Plátanos, no domingo (13). Aos 25 minutos do segundo tempo, o Santa Cruz teve um pênalti assinalado no jogo contra o Lajeadense, na partida de voltadas semifinais da Divisão de Acesso. Quando Eduardão efetuou a cobrança e marcou o gol do 1 a 0, garantindo a ida do clube ao Gauchão 2024, o quinteto já estava em agonia.
Todos estavam no último lance de arquibancada na hora em que a penalidade foi assinalada. Em meio à vibração, o concreto cedeu, causando ferimentos sem maiores gravidades a um casal de namorados, mais outro casal e um filho.
— Estranho que foi só o nosso pilar caiu. O pavor bateu. Primeira coisa que fiz foi procurar minha namorada. Eu consegui cair em pé, não sei como. Minha namorada estava no chão. A criança estava caída no chão e sangrando. Uma parte da arquibancada estava por cima do pé de outra moça. Parecia que eu nunca ia parar de cair — relata o torcedor Matheus Corrêa, de 19 anos.
Um dia depois de despencar da arquibancada dos Plátanos, Matheus lida com dores nas costas e nos braços. Thaísa Beatriz, sua namorada, de 20 anos, sente dores nas pernas e não consegue andar. Os dois procuram uma cadeira de rodas para que ela consiga ter maior mobilidade. A funcionária pública passará por um exame para averiguar se sofreu alguma lesão ligamentar nos joelhos.
Situação dramática também viveu a família Machado. Marcos Luciano e Cláudia estavam junto do filho Fabrício Luiz quando sentiram um puxão para baixo. Dos três, a situação mais delicada foi a de Cláudia. Parte do concreto que caiu junto com a arquibancada restou sobre ela.
— Não senti minhas pernas. Muito formigamento e dor na minha coluna. As costas ficaram raladas. Minha bacia, o médico achou que tinha quebrado. Uma dor insuportável. Ainda não consigo movimentar meu braço porque dói muito — conta Cláudia, que também deslocou uma das clavículas.
Ela explica que mesmo pessoas que estavam próximas deles, como o cunhado, demoraram para perceber o que tinha acontecido. Foi possível escutar a vibração pelo gol enquanto a família vivia momentos de aflição.
— Foi um soco para baixo. Fiquei tonta. Só vi que ninguém via a situação. Um sufoco. Vi que o pessoal gritou gol. Quando o rapaz olhou para baixo, pedi socorro. Fiquei fora de mim — revela.
Marcos Luciano sofreu escoriações nas mãos e oito pontos no tornozelo. O filho teve um corte na cabeça e precisou ser suturado com quatro pontos. Apesar do infortúnio, nenhum deles pensa em desistir de acompanhar outras partidas nos Plátanos. Claro que não será no último andar da arquibancada.
— O trauma fica, mas quero ir em jogo de novo. Só não vou subir na arquibancada. Vou ficar ali nas grades — garante Matheus.
Cláudia tentou enxergar o lado positivo do episódio:
— Quem sabe, aconteceu a fatalidade para não acontecer coisa pior. Acredito que vamos voltar sim. Nunca mais ficarei no alto, mas daremos apoio ao clube. Fatalidades acontecem.
O Santa Cruz está prestando socorro às vítimas. Para a decisão da Divisão de Acesso, parte das arquibancadas dos Plátanos estará interditada. A partida contra o Guarany-Ba, o outro finalista, ainda não teve data divulgada pela Federação Gaúcha de Futebol.
Na manhã de segunda-feira (14), a área foi vistoriada pelo Corpo de Bombeiros e por uma engenheira da Prefeitura.