No comando da seleção francesa há mais de uma década, Didier Deschamps, de 54 anos, começa "uma página em branco" na Copa do Mundo do Catar-2022, apesar do triunfo na Rússia em 2018, explica ele em entrevista à AFP.
Pergunta: Uma vez tendo alcançado o topo do mundo, onde se encontra a motivação para tentar chegar ainda mais longe?
Resposta: "Quando você chega, é tão bom, tão bom... Ser competitivo não é estar satisfeito com o que você fez, é fazer o que é preciso para continuar vencendo. É muito difícil vencer, principalmente uma Copa do Mundo, é é ainda mais difícil vencê-la de novo. O sucesso tende a apagar muitas coisas. Nem tudo é cor-de-rosa quando você ganha: é preciso saber como chegou lá, os ingredientes básicos que foram colocados... Há qualidade e talento mas só eles não são suficientes. Sem a mentalidade, a disposição e a determinação, é impossível vencer neste nível".
P: Houve fracassos depois de 2018...
R: "(Corta a pergunta) Fracassos, fiasco... São palavras. Há nuances também. Houve uma eliminação prematura (nas oitavas de final da Eurocopa em 2021). Ser capaz de reagir é importante. O futebol de alto nível é implacável. Felizmente, é isso que o torna mais rico. O DNA desta equipe é a solidez. Em dez minutos, perdemos por diferentes motivos (oitavas da Euro contra a Suíça, 3-3 nos 120 minutos e 5-4 nos pênaltis). A partir do momento em que você faz menos, você dá a chance a seu adversário de tirar vantagem disso".
P: O status de campeão mundial também pesa nos jogadores que chegaram depois de 2018?
R: "Não sei, mas é o que temos. A dificuldade é que não podemos chegar mais alto. Podemos fazê-lo também com uma expectativa mais importante. Esse status não nos oferece garantias ou segurança. Estamos diante de uma página em branco, com uma nova história para escrever, sem dúvida diferente".
P: Apesar de sua experiência, você raramente fala de assuntos extra-esportivos. Por quê?
R: "Quando você me pergunta, não é o cidadão francês que responde, mas o técnico da seleção francesa, com obrigações inerentes à minha função. Posso ter opiniões e tenho o dever de guardá-las para mim, porque o que eu disser só irá comprometer a mim mesmo. Você pode pensar que não estou dizendo nada, mas minha intenção é ser respeituoso com a instituição com a qual estou comprometido."
P: Como o Catar por exemplo?
R: "Repito, todos terão a liberdade de se expressar. Também os jogadores, que dirão o que têm a dizer se solicitados. A única coisa que queremos é que eles sejam informados sobre a situação no local. Para ter uma opinião é essencial. Acho que é falso pensar que eles estão desconectados dos problemas da sociedade. No que me diz respeito, já dei respostas. Sobre o Catar fui muito claro: participar não significa apoiar. são os convidados de um país anfitrião. Como foi o caso, não podemos esquecer, na Rússia há quatro anos e no Brasil há oito. Essa decisão (atribuir a Copa do Mundo ao Catar) não foi tomada há algumas semanas ou meses. Aconteceu há mais de dez anos. Isso não nos impede de continuar monitorando em nosso nível. Eu dependo de uma federação que tomou as medidas necessárias, em seu nível, para que tudo corra da melhor maneira possível. Acredite mim, não estamos numa bolha, insensíveis aos problemas dos outros".
* AFP