— Não podemos abrir mão de sonhos.
Dois anos se passaram desde que a zagueira Beta, à época no Grêmio, disse esta frase à reportagem de GZH. Em 2020, ela descobriu que estava grávida de Théo Roberto e teria de deixar o futebol como segundo plano — ao menos por um tempo. Pelo Tricolor, disputou 49 jogos, marcou nove gols e conquistou o Gauchão, em 2018.
Conciliando um sonho com o outro, ficou todo esse período longe dos gramados. Até pensou em não retornar mais. No entanto, a paixão pelo futebol falou mais alto. Readaptou-se, organizou a rotina e conseguiu voltar a jogar.
— Cogitei até largar por conta da gestação, da maternidade, mas depois a gente vai reorganizando as ideias, entendendo esse novo mundo de maternidade e da minha vida pessoal e profissional. Vamos nos organizando e aí eu consegui me readaptar, consegui também o suporte da minha família para ficar com o meu filho no momento em que eu não estou presente. Então, isso tudo ajudou para eu retornar — recorda a zagueira Beta, em entrevista à GZH.
Nesta temporada, Beta recebeu o convite para defender as cores do Juventude e recomeçar no futebol. Enfrentou às Esmeraldas, destacou-se e foi chamada por Renata Armiliato, coordenadora do departamento feminino do clube e ex-goleira do Grêmio, para vestir a camisa alviverde. Morando em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre, a zagueira consegue treinar com o grupo uma vez por semana, aos sábados.
— O Juventude na minha vida aconteceu através do Sindicato dos Atletas. Eu tinha parado um tempo, por conta da maternidade, até pensava em não retornar, mas aí a Karina Balestra, com o projeto "Atletas Livres" do Siapergs me convidou para treinar. Então, surgiu o convite do Juventude para fazer um amistoso com o sindicato. Reencontrei a Renata (Armiliato), já havíamos jogado juntas no Grêmio e contra no futsal. Fiz o amistoso contra o sub-20 do Juventude. Fui muito bem e surgiu o convite dela para ingressar no clube. Desde então, virei uma Esmeralda — complementa.
— Para mim, é a volta por cima. Eu voltei da estaca zero de novo, como atleta, por conta da maternidade. Então, para mim, foi a volta por cima. Não cheguei no ápice da minha carreira ainda, porque o tempo que eu trabalho lá com elas ainda é pouco, mas se Deus quiser, quem sabe no ano que vem eu possa estar trabalhando diariamente, até para melhorar. Vejo como um baita recomeço, para mim é muito satisfatório.
Com ela em campo, o Ju sofreu apenas quatro gols em 10 jogos — média de 0,4 por partida. No último domingo, em um jogo praticamente perfeito, a equipe buscou um empate histórico com o Inter. Pela primeira vez, um time do Interior conseguiu tirar pontos da dupla Gre-Nal no Estadual.
Enquanto deixarem a gente sonhar, vamos sonhar
BETA
zagueira do Juventude
— Nós conseguimos um feito, que é empatar com a segunda melhor equipe do país, com a equipe tricampeã gaúcha. Então, os números estão falando por si só. Estamos conseguindo fazer uma boa campanha no Gauchão e queremos brigar por mais. Enquanto deixarem a gente sonhar, vamos sonhar — almeja.
Para continuar fazendo história com o alviverde, Beta conta com a torcida especial do pequeno Théo Roberto, de dois anos. Mesmo ainda não entendendo muito bem o que está acontecendo, o menino acompanha a mãe e já gosta de brincar de bola.
— Ele recém fez dois anos. Então, ele ainda não entende muito, mas ele gosta de bola. Agora ele já grita "gol", mas ele ainda não entende muito do universo, estou começando a introduzir e levar o esporte para a vida dele.
Troca com as mais jovens e reencontro com o Grêmio
No jovem elenco do Ju, que tem média de idade de 21 anos, Beta é uma das mais experientes, com 33. A experiência no futebol e a maturidade da vida fazem com que seja uma das referência para as gurias que ainda estão iniciando no futebol.
— Estamos sempre em aprendizado constante. Então, eu passo um pouco do meu conhecimento, da minha experiência para elas, e também escuto o que elas têm para me dizer. Nós sempre debatemos muito, conversamos, brincamos. Acho que é fundamental para o crescimento da equipe. E elas também me terem como referência é muito lisonjeante. Porque eu estou com pessoas que eu nem conhecia e que tem uma certa admiração por mim, chegam e conversam comigo, algumas brincam e me chamam de "mãe". Às vezes, eu dou um puxão de orelha e digo "tá e aí, minha filha, vamos se ligar no jogo" (risos). Então, isso é dentro e fora de campo — complementa a zagueira.
— A nossa relação é bem transparente, é bem legal, bem leve e acho que isso faz a diferença também, em poder ser uma líder para elas, poder passar dessa maneira mais suave (a experiência), que na minha época era muito mais difícil, eu tomava umas "porradas" das mais velhas e acho que não precisava ser assim (risos). Então, eu decidi fazer diferente com elas, sou mais mãezona, passo a mão na cabeça delas sim, xingo sim, mas às vezes tem de ter aquela coisa mais leve. Até porque, como elas são jovens, vão ganhar maturidade com o tempo, não dá para exigir além do que elas podem dar.
Agora, Beta reencontrará seu ex-clube. No próximo domingo (16), às 11h, no Vieirão, o Juventude lutará pela liderança do Gauchão Feminino. Com os mesmos 10 pontos do Grêmio, as Esmeraldas terminarão a segunda fase na ponta da tabela em caso de vitória.
— Existe um carinho especial pelo clube, por todo o tempo em que fiquei lá, mas agora estou defendendo o Ju. Então, vou para cima, para tentar sair dali com os três pontos, até para ficarmos melhores colocadas na tabela para uma semifinal. E para, quem sabe, também terminar com esse legado de Grêmio e Inter na final sempre. Desde 2017, ninguém (do Interior) tinha roubado ponto do Inter, ninguém roubou ponto do Grêmio. Então, já conseguimos um feito que foi pontuar contra as Gurias Coloradas. E agora estamos (lutando) por mais — almeja.
Assim como as Esmeraldas, as Gremistas também estão invictas. Em quatro jogos, acumulam os mesmos 83% de aproveitamento do alviverde, com três vitórias e um empate. Inclusive, o único "tropeço" das equipes foi justamente diante do Inter. A partida promete disputa do início ao fim em busca da liderança e da melhor classificação.
— Sei que vai ser um jogo difícil contra o Grêmio, contra uma equipe que treina diariamente, que vem do Brasileirão. Então, já tem um tempo e uma carga de trabalho maior que a nossa. Nós estamos juntas há cerca de sete meses.Vai ser difícil, assim como foi diante do Inter. Mas vamos saber sofrer o jogo e lutar por mais para mostrar o que temos para mostrar dentro de campo.
Beta pelo Juventude
- 10 jogos
- 3 gols
- 1 assistência
- 4 gols sofridos com ela em campo