O Brasil passou por seu mais duro teste desde 1998. Enfrentou a torcida mais vibrante, do mais temível adversário, saiu atrás no placar, teve um jogador expulso, e ainda assim venceu. Fez 2 a 1 na Inglaterra e classificou-se, com luz e garra, para as semifinais da Copa do Mundo.
No começo, a tarefa parecia mais fácil. Apesar de a torcida britânica bater seus tambores e tonitruar seus cânticos pelo Estádio Ecopa como se fosse um único homem, apesar de alguns jogadores brasileiros, como Lúcio e Kléberson, darem sinais de nervosismo, apesar de a Inglaterra jogar compacta como sempre joga e se postar solidamente em sua defesa, apesar disso tudo, o Brasil começou bem a decisão desta sexta-feira.
O time tocava abola, rondava a área inglesa, se aproximava do gol de Seaman e, aos poucos, dava a impressão de que iria abrir o placar. Muito aos poucos, porém. O Brasil foi lento. Porque teve seu campo de ação diminuído pela estratégia britânica. A Inglaterra se acantonou dentro da sua área com quatro zagueiros, três volantes na frente deles, um meia ofensivo no rebote e só um atacante, o corpulento e competente Emile Heskey.
Era esse Heskey quem mais preocupava a defesa do Brasil - protegia a bola, escorava para os que vinham de trás, jamais deixava os zagueiros brasileiros tranquilos. Então ficou assim: o Brasil tendo mais posse de bola, mas sem efetividade. A Inglaterra encolhida, traiçoeira, na tocaia para sair no contragolpe. Foi num desses contra-ataques que a Inglaterra marcou seu gol. Aos 22minutos, o terrível Heskey retomou a bola pela direita e lançou Michael Owen na frente da área. Lúcio interceptou a bola, mas errou. Devia ter se livrado dela, devia ter "zagueirado", como pede Luiz Felipe. Não, quis sair jogando. Owen, mais rápido, lhe tomou a bola, entrou na área e fez 1 a 0.
O gol fez o Brasil estremecer. E a Inglaterra sentiu-se melhor em campo. Passou a dominar, a se arriscar um pouco mais. O Brasil só reagia em lances pessoais dos 3Rs. Ronaldo, sobretudo, conseguia levar alguma vantagem, embora estivesse bem vigiado pelos zagueiros ingleses. Aos 26, ele entrou a drible na área e quase marcou. Aos 39, ele apanhou o rebote de um chute de Cafu, chutou e a bola se chocou com a zaga. Aos46, afinal, a insistência brasileira deu resultado. Ronaldinho recebeu a bola na intermediária, arrancou em velocidade, passou entre os zagueiros e encostou para Rivaldo, de chapa, empatar o jogo. Alívio.
O empate no final parecia ter colocado tudo no seu lugar. No segundo tempo, o Brasil poderia resolver seus problemas com a habilidade pessoal dos 3Rs. Foi o que aconteceu. Aos três minutos, Ronaldinho cobrou uma falta da intermediária, lá na lateral direita. Seaman estava saindo para interceptar o cruzamento, mas a bola fez uma curva, entrou no ângulo. Brasil 2 a 1.
A vantagem era toda brasileira. Até os 11 minutos. Foi quando Ronaldinho, aquele que vinha sendo o melhor em campo, o jogador que dera o passe para o primeiro gol e marcara o segundo, foi aí que Ronaldinho entrou de sola em Mills na frente da área inglesa. O árbitro o expulsou se hesitação. Agora, com um jogador a mais, era a Inglaterra quem atacava e era o Brasil quem se defendia como fosse possível, com chutões, com faltas, segurando a bola, na catimba.
A Inglaterra era toda pressa, o Brasil era todo ansiedade. Das arquibancadas, só se ouvia um grito:
— England! England! England!
O jogo não terminava nunca. Mas o Brasil soube se defender. O Brasil foi bravo, decidido, forte. Foi o Brasil de Felipão. Que segue em frente. Rumo a Yokohama. Rumo ao pentacampeonato do mundo.