Das 21 medalhas conquistadas pelo Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, duas vieram no judô e contaram com a participação de atletas do Rio Grande do Sul. Além de Mayra Aguiar, que chegou à terceira medalha olímpica na carreira, a competição premiou o esforço de um estreante em Jogos Olímpicos. Aos 23 anos, Daniel Cargnin, da Sogipa, ganhou o bronze ao derrotar o israelense Baruch Shmailov na categoria até 66 kg (meio-leve).
— Passou muita coisa na minha cabeça. Eu pensei desde o momento em que comecei no judô, até quando me tornei uma promessa na Sogipa. No momento em que eu ganhei a medalha, passou muita coisa na minha cabeça. Passou muita coisa sobre as oportunidades que recebi. O judô é um dos esportes mais coletivos, mesmo sendo individual. A gente depende de muitas pessoas. Eu sempre tive o apoio de toda a minha família e dos meus amigos — destacou.
Natural de Porto Alegre, o judoca teve um ciclo olímpico cercado de desafios. Além das lesões, foi diagnosticado com a covid-19, o que o tirou do Mundial da modalidade. Nenhum obstáculo, no entanto, tirou a alegria de participar dos Jogos Olímpicos.
— Eu estava muito feliz pelo fato de ter conseguido a vaga olímpica, mas com todas as incertezas por conta da pandemia. Foi muito gratificante. Foram as Olimpíadas da esperança. Ninguém desistiu. Em nenhum momento deixei de acreditar em mim e nos meus sonhos. Eu podia não ser o mais forte, ou o mais técnico, mas eu tinha de ser o campeão da vontade e da superação. Em todas as lutas ninguém poderia querer mais do que eu — pontuou.
Daniel lembrou da importância da mãe, Ana Rita, a maior incentivadora da carreira do filho, bicampeão pan-americana de judô em Lima, 2019, e Guadalajara, 2020.
— Eu olhei para a arquibancada e ela estava vazia por conta dos protocolos. Eu imaginei ela lá. Tentei imaginar como seria a reação dela estando ali. A gente conversou tanto antes da pandemia. Ela tinha até pegado um hotel no Japão. (Não podendo ir) Eu sabia que de uma forma ela estava ali. Antes de competir, eu falei que quando estivesse lutando, a gente estaria lutando junto. Eu não estaria aqui se não fosse ela. Ela foi a minha maior incentivadora. Meu pai também, mas ela que entende mais de judô. Minha mãe fez tudo. Então, naquele momento, se pudesse, eu me teletransportaria para a minha casa, só para ver a reação dela — contou.
Quem o enxerga o hoje medalhista olímpico não imagina que Daniel quase rumou para outro esporte. Ele chegou a jogar futebol na escolinha do Grêmio, mas, quando teve de optar, não teve dúvida em escolher o judô. O motivo não poderia ser mais especial:
— Um dia minha mãe perguntou se eu queria seguir no judô. Confesso que gostava mais de jogar futebol na época, mas o judô era algo que tinha uma conexão muito grande entre mim e ela. A gente conheceu muitos lugares juntos. Foi esse vínculo familiar que me fez continuar no judô.