A Eurocopa começou marcada pelo renascimento do meia Eriksen, acometido de uma parada cardíaca na abertura. No decorrer das 49 partidas seguintes, a Itália ressurgiu para os grandes palcos do futebol, enquanto a Inglaterra reviveu os seus melhores momentos. Domingo, às 16h, as duas equipes decidem o título em Wembley. O estádio terá 75% de sua capacidade, fazendo lembrar que os dias normais estão renascendo. RBS TV e SporTV transmitem.
O retorno dos ingleses
Cerca de 22% dos ingleses têm mais de 60 anos. Visto de outra maneira, este dado mostra o percentual da população com idade para ter guardado na memória qual é a sensação de ver sua seleção disputar uma final. A última e única foi na Copa de 1966. O endereço da decisão é o mesmo, mas o velho Wembley foi trocado por uma versão moderna e que será um dos trunfos dos donos da casa neste domingo.
— Temos de tentar fazer todo mundo feliz de novo nesse estádio e nesse país. É uma grande oportunidade para nós como grupo e como país. Vamos dar tudo — declarou o meia Henderson, após a vitória por 2 a 1 sobre a Dinamarca na semifinal.
Nos 55 anos desde a última final, os ingleses tiveram à frente da porta, mas não conseguiram entrar para disputar a decisão. Caíram nas semifinais em cinco oportunidades, as mais dolorosas delas na Copa de 1990 para a Alemanha, nos pênaltis, e na Euro de 1996, disputada em casa, quando Gareth Southgate desperdiçou sua cobrança de pênalti, levando os alemães à final.
Southgate é o atual técnico dos Three Lions. Assumiu o time interinamente em 2016, mas só foi efetivado meses antes da Copa da Rússia. O então técnico Sam Allardyce foi demitido depois de uma partida, após eclodir um escândalo de contratação irregular de jogadores em que estava envolvido. Foi o nascimento de um novo jeito de jogar. Saiu a famigerada ligação direta do “kick and rush” e entrou um futebol menos direto e mais estiloso.
— Temos de desfrutar do fato de estarmos na final, mas ainda temos uma grande barreira para superar. A Itália tem um time muito bom. É um grande jogo e estamos ansiosos para jogar — relatou o treinador.
Southgate levou a Inglaterra à semi na última Copa, quando os ingleses começaram a pressentir novamente que o futebol poderia voltar para casa. Não foi daquela vez, mas quem sabe, o futebol encontre o caminho do lar dos seus inventores após 55 longos anos.
Da segundona à decisão
Ao ficar de fora da Copa de 2018, a Itália foi rebaixada da elite do futebol mundial, mas não é essa a segunda divisão de onde surgiu o alicerce ofensivo do finalista da Eurocopa. A Série B de 2011/2012 marca um incomum ponto de partida para o meia Marco Verratti e os atacantes Ciro Immobile e Lorenzo Insigne. Há uma década, o trio ajudou o Pescará a ser campeão da segundona italiana.
O status de cada um era diferente. O primeiro era promessa, daquelas que no primeiro toque na bola já se nota ser de outro patamar. Sobre o segundo pairavam interrogações por sua baixa estatura e físico esguio. E se alguém previsse que o último seria titular da Azzurra, seria chamado de maluco.
— Fazia uns 20 anos que o Pescara não ia para a Série A, vinha de falência. O dono montou um time de jovens, mas o pessoal aqui não levava muito fé — relata o gaúcho Rômulo Togni, volante daquela equipe.
O icônico Zdenek Zeman comandava o time. Além de ultraofensivo, o tcheco era um disciplinador. O alto grau de rigor imposto por ele permitiu que o trio decolasse junto. No dia da viagem para a estreia, fazia um calor de dar sede em camelo. Nem assim era permitido usar bermuda. O centroavante titular se apresentou no aeroporto com as calças dobradas até o joelho. Antes do jogo, para a surpresa de todos, Zeman anunciou que o novo dono da posição era Immobile, de péssima pré-temporada.
O atacante foi às redes cinco vezes nos três primeiros jogos de uma campanha histórica.
Depois do título, o trio se separou. Verratti foi para o PSG. Immobile desembarcou no Genoa. Insigne retornou ao Napoli.
— Veratti era muito humilde. Não queria ir embora. Se despediu chorando. Disse que queria abrir um bar na cidade — relata Togni, hoje técnico e que vê semelhanças entre o esquema de Zeman e o time de Roberto Mancini.
De onde menos se esperava, até mesmo do pequeno Pescara, surgiu um trio de finalistas da Euro, onde os italianos buscam o bi, embalados por 33 jogos sem perder.
Prováveis escalações
Itália
Donnarumma; Di Lorenzo, Bonucci, Chiellini e Emerson; Jorginho, Barella e Verratti; Chiesa, Immobile e Insigne. Técnico: Roberto Mancini.
Inglaterra
Pickford; Walker, Stones, Maguire e Luke Shaw; Philips e Rice; Saka, Mount e Sterling; Harry Kane. Técnico: Gareth Southgate.