O mundo do futebol foi pego de surpresa na manhã desta segunda-feira (31). Faltando pouco mais de uma semana para o início da Copa América de 2021, a Conmebol anunciou que o Brasil sediará o torneio. O governo federal, por meio do ministro-chefe da Casa Civil, confirmou nesta terça-feira que o Distrito Federal, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Goiás receberão os jogos — todos sem público. Mas a situação está longe de ser tranquila.
A competição, que reunirá 10 seleções sul-americanas, estava inicialmente prevista para ocorrer na Colômbia e Argentina, entre 11 de junho e 10 de julho. Seria, inclusive, a primeira vez que dois países receberiam os jogos concomitantemente. No entanto, ambos os governos — por motivos distintos —, desistiram de abrigar as partidas.
Temendo um grande prejuízo financeiro, devido aos acordos publicitários firmados e para respeitar os contratos de transmissão, a entidade que rege o esporte no continente agiu de forma rápida, anunciando que o evento será disputado em território brasileiro. O governo federal confirmou a realização do torneio.
No entanto, ainda existe o risco de nova mudança. Tudo por conta da briga dos jogadores da Seleção Brasileira com a CBF: notícia divulgada em primeira mão por Pedro Ernesto Denardin nesta quinta-feira (3) revelou que os atletas que atuam na Europa pediram para não disputar a Copa América. A situação ficou ainda mais conturbada na sexta-feira (4), depois que uma funcionária da CBF acusou Rogério Caboclo, presidente da entidade, de assédio moral e sexual.
Confira um resumo de tudo o que se sabe sobre esta mudança de local e o que isso pode acarretar:
Po r que os jogadores brasileiros ameaçam não jogar?
Os jogadores da Seleção Brasileira que atuam na Europa já decidiram que não irão disputar a Copa América deste ano. Pelo menos é o que garante o jornal As, da Espanha, em matéria publicada na manhã desta sexta-feira (4).
Segundo a publicação, o "motim" dos atletas começou a partir do momento que souberam da vinda da competição para o Brasil através da imprensa. A reação dos brasileiros foi de espanto e indignação, já que a impressão deles é que o torneio seriam cancelado, em virtude da situação da pandemia de covid-19 na América do Sul.
Além de conversarem com Tite sobre esse desejo, conforme publicado pelo colunista de GZH Pedro Ernesto Denardin na última quinta, os jogadores também tiveram uma reunião com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, e externaram a vontade de não disputar o torneio continental. Eles teriam se sentido traídos e utilizados pela direção da confederação, segundo o As. A ESPN Brasil publicou que Neymar, Casemiro, Thiago Silva, Alisson, Marquinhos e Danilo foram os responsáveis pela conversa com o presidente.
Como isso pode se refletir na Seleção?
A briga de jogadores e CBF pode respingar até mesmo em Tite. Após a crise dos últimos dias, quando jogadores e comissão técnica mostraram insatisfação com a direção da CBF pela condução da definição do Brasil como sede da Copa América, o desgaste aumentou muito.
A relação já não andava boa desde o vazamento de áudios do presidente Rogério Caboclo em que ele tentava fazer alterações na comissão técnica. Depois, Xavi e Muricy Ramalho foram convidados para trabalhar na CBF.
Tite está desconfortável no cargo. E a CBF dá sinais de que não quer a continuidade. Não será surpresa se a saída ocorrer após os jogos desta rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022. Nesta sexta-feira (4), o Brasil enfrenta o Equador no Beira-Rio. E na terça-feira o adversário será o Paraguai, em Assunção.
Por que Colômbia e Argentina desistiram de sediar o torneio?
No dia 20 de maio, a Colômbia solicitou à Conmebol que modificasse as datas dos jogos, devido aos protestos populares contra a reforma tributária proposta pelo governo de Iván Duque Márquez, que culminaram com enfrentamentos entre manifestantes e policiais, deixando dezenas de mortos e mais de mil feridos. A decisão da entidade, porém, foi manter as datas, transferindo todos os jogos para a Argentina.
Na noite deste domingo (30), contudo, os argentinos também comunicaram sua desistência. O governo de Alberto Fernández apresentou como argumento a preocupação com o aumento de casos de covid-19 no país.
Como se deu a escolha do Brasil como país-sede?
Após a desistência da Argentina, a Conmebol passou a avaliar outros locais. Venezuela, Chile, Equador e Paraguai se ofereceram para sediar o torneio. No entanto, o presidente da entidade, Alejandro Domínguez, entrou em contato com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, questionando a viabilidade de realizar o evento no Brasil, considerando que o país teria boa estrutura para receber as delegações e sediou recentemente a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e a última edição da Copa América, em 2019.
De acordo com nota publicada pela entidade, Caboclo conversou com o presidente Jair Bolsonaro, que "apoiou a iniciativa de imediato", tendo o aval dos Ministérios da Casa Civil, da Saúde, de Relações Exteriores e da Secretaria Nacional de Esportes". Domínguez ainda afirmou que o "governo do Brasil demonstrou agilidade e capacidade de decisão em um momento fundamental para o futebol sul-americano" e concluiu que o país "vive um momento de estabilidade, tem comprovada infraestrutura e experiência acumulada e recente para organizar uma competição desta magnitude".
No entanto, nem mesmo o governo federal confirma a realização do evento em um primeiro momento. Ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos disse, no início da noite desta segunda-feira (31), que "ainda não tem nada certo".
— Ainda não tem nada certo, quero pontuar de forma bem clara. Estamos no meio do processo. Mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível atender — disse o ministro.
Nesta terça, no entanto, Ramos e o presidente Bolsonaro garantiram o evento.
Quais cidades receberão os jogos?
Mesmo que tenha acertado a realização dos jogos no Brasil, a Conmebol não estabeleceu ainda quais serão as cidades e estádios que receberão as partidas. O governo federal garantiu Brasília (com o Mané Garrincha), Cuiabá (com a Arena Pantanal), Rio (com o Maracanã) e Goiânia (com o Serra Dourada) como sedes, mas a CBF ainda não se pronunciou.
Conforme publicado pelo ge.globo, a ideia inicial da CBF — que não pretende paralisar as competições nacionais, como Brasileirão e Copa do Brasil — era utilizar estádios que estão ociosos, como Mané Garrincha, em Brasília, Arena da Amazônia, em Manaus, Arena Pernambuco, em Recife, e Arena das Dunas, em Natal.