A extensão do período de férias por mais 10 dias na dupla Gre-Nal, indicado na terça-feira após a reunião da Comissão Nacional dos Clubes e oficializado na quarta-feira, apenas ratificou a indefinição do retorno do futebol em razão do coronavírus. Atletas ficarão em casa até o final de abril, mas não significa que em maio retomem as atividades nos centros de treinamento. O objetivo nos clubes, agora, é elaborar estratégias para quando forem liberados os treinos como sempre foram.
Dirigentes aguardam as orientações das autoridades sanitárias para montar seus cronogramas. Não está definido se o recomeço será com trabalhos individuais, em casa, ou se será escalonado, como fizeram os alemães na última semana. O foco será na garantia de segurança aos envolvidos no futebol.
O período de 30 dias de férias esgota-se em 30 de abril. Legalmente, os clubes poderão implantar um regime de licença remunerada. Na teoria, a diferença é que, em férias, os trabalhadores não precisam cumprir eventuais determinações, enquanto nas licenças, os treinos, mesmo à distância, são orientados e liberados. Na prática, porém, pouco muda, já que os atletas costumam receber cartilhas de atividades e dieta para não perder muito a forma no período sem jogos, bem como participam de ações em redes sociais, por exemplo.
A respeito de dinheiro, os clubes negociam diretamente com os atletas para obter uma redução de parte dos salários. No Grêmio, houve um acordo para que os jogadores recebam no ano que vem os valores equivalentes ao direito de imagem dos meses de abril, maio e junho de 2020. O montante não foi relevado. O Inter não divulgou se houve acerto para renegociação dos vencimentos.
Segundo o Sindicato dos Atletas do Rio Grande do Sul, a falta (compreensível) de definições não permite que haja negociações mais completas. A preocupação maior é com os jogadores dos clubes menores. Em sua maioria, são profissionais que se preparam para atuar por até três instituições diferentes, em um período de oito meses, para sustentar o ano. E que, com a mudança do calendário, trabalharão — e receberão — quatro.
— Como eles vão fazer para garantir sua sobrevivência? — questiona o advogado do sindicato, Décio Neuhaus.
Para ele, a solução mais viável no momento seria a sensibilização da CBF, cujo lucro recente superou os R$ 190 milhões em 2019. Em sua visão, a entidade que comanda o futebol brasileiro deveria, no mínimo, abrir uma linha de crédito para os clubes conseguirem manter em dia suas folhas salariais e garantir que os profissionais superem o ano atípico.
Em 6 de abril, a CBF anunciou uma ajuda de R$ 19,1 milhões para clubes das séries C (R$ 200 mil cada clube) e D (R$ 120 mil cada) e do futebol feminino (R$ 120 mil aos times da Série A-1). Ao todo, 140 clubes receberam a verba. O valor foi considerado irrisório e não chegou às pontas mais necessitadas — os que não estão classificados para as disputas nacionais.