"O moleque e a bola. Ronaldinho não larga dela. Estão apaixonados. Ontem, um beijo foi flagrado no gramado. Não há como esconder esse romance, que encanta o mundo e alegra os gremistas. Embora famoso, o menino dentuço de 20 anos, batizado Ronaldo de Assis Moreira, faz questão de seguir sendo o mesmo moleque."
Fiz este relato na edição do Diário Gaúcho de 25 de maio de 2000, época em que repórter esportivo podia ser repórter em sua essência, assistindo a treinos na íntegra e entrevistando a todos sem restrição. Naquela tarde, no estacionamento do velho Olímpico, lembro de ter conversado por meia hora com o guri que já tinha dado balãozinho em Dunga, feito o golaço em cima da Venezuela com a camisa da Seleção e já teria recebido oferta de US$ 80 milhões de um clube europeu. Esta proximidade com os atletas permitia uma relação descontraída com jornalistas, nos chamávamos pelos nomes ou até apelidos (né, Moleque?).
Tive outras tantas conversas que viraram entrevistas entre 2000 e 2001. Relendo as respostas que Ronaldinho deu sorrindo aos 20 anos, me entristece vê-lo chegar envergonhado e algemado aos 40. Jovem e livre, falava das paqueras, de sua paixão pelo futebol e pelo Grêmio. Se dizia tímido. Projetava se casar e ter sete filhos. Mas foi seu casamento e fidelidade com o irmão Assis que marcaram sua vida, na saúde e na doença, na alegria e no "auge" da tristeza, dentro de um presídio no Paraguai.
O moleque que fez fama driblando os adversários, hoje vê o mundo de uma janelinha. O craque campeão do mundo agora joga a Copa de Detentos. E a maior culpa é dele. Ao completar 40 anos, já deveria saber como um ídolo se comporta. Ídolo se comporta como um cidadão normal quando o assunto é jogar no time dos que cumprem as leis.
Abaixo, parte da entrevista feita na tarde de 24 de maio de 2000.
Deixaste de fazer alguma coisa depois que começaram a apontar para ti na rua e gritar "É o Ronaldinho!"?
Nada. Continuo saindo com meus amigos, tocando pagode. Vou a restaurantes, faço compras nos shoppings, passeio de carro e trato a todos com carinho.
Mas carinho maior quem ganha é a bola.
Sou fominha. Sempre que posso, fico dando balãozinho, treinando dribles e ensaiando jogadas. A bola é minha alegria.
E as paqueras?
Sempre acontece, né? Mas sou tímido e não me preocupo em encontrar a mulher ideal. Quero casar e ter sete filhos.
Vai criá-los em Porto Alegre?
Se dependesse da minha vontade, sem dúvida ficaria a vida inteira aqui, jogando no Grêmio. Mas o futuro de um jogador não pertence só a ele. Rola muito dinheiro.
Ronaldinho vale US$ 80 milhões?
Sinceramente? Não sei. O que me interessa é jogar futebol. Fico triste quando o treino termina.
Sem problema. O pessoal do jornal vai jogar bola logo mais.
Me dá o endereço que eu vou.
Jogarias no Inter?
A camisa vermelha é bonita, o clube tem uma torcida muito fiel, mas meu coração é azul. Não jogaria no Inter.