A maneira como Ronaldinho surgiu no Grêmio permitiu uma intimidade entre os que conviviam no Estádio Olímpico no final dos anos 1980, fossem profissionais do clube, jornalistas ou simplesmente torcedores. Ele era nosso conhecido desde quando tinha menos de 10 anos e acompanhava o pai, João, que trabalhava no Tricolor, e o irmão Assis, que já era uma estrela do elenco aos 18.
Era comum no estacionamento do estádio vermos o menino demonstrando sua habilidade precoce, fazendo valer a previsão do Seu João de que ali estava o grande craque da família.
Este convívio permitiu um tratamento de muita informalidade quando veio o estrelato, seja no Grêmio ou posteriormente no mundo. Em 1999, Ronaldinho já havia assumido a titularidade absoluta no time, era ídolo, mas, aos 19 anos, seguia sendo totalmente informal com os jornalistas.
Sambista de raiz, certa vez ficou na sala de imprensa do Olímpico num sábado à tarde para receber uma coleção de CDs do grupo Fundo de Quintal, presente do programa Super Sábado, da Rádio Gaúcha. A satisfação foi contagiante, com sorrisos, agradecimentos e a imediata colocação de um dos CDs no aparelho de seu carro, um modesto Fiat Palio.
Esta convivência fez com que muitas vezes Ronaldinho nos escolhesse, os repórteres gaúchos, para responder perguntas em concorridas entrevistas zonas mistas em Copas do Mundo. Em 2010, em sua última passagem pela Seleção Brasileira, a equipe estava concentrada na Costa Rica. Ao voltar do restaurante para meu quarto, ouvi aquela voz conhecida:
— E aí, gaúcho! Me conta um pouco daquela terra.
Ronaldinho estava retornando do lanche e fez uma verdadeira entrevista comigo sobre Porto Alegre, o Grêmio, os campeonatos e se mostrava saudoso de todo aquele ambiente. Lembramos os tempos das firulas no estacionamento do Olímpico, do desfile de carnaval na Estado Maior da Restinga e do presente de 1999.
Dois meses depois ele protagonizou uma das maiores decepções que a torcida do Grêmio teve, ao preterir o clube em favor do Flamengo. Ali, atravessou o samba no coração dos gremistas. Pior fez agora, ao se meter em escândalo no Paraguai, precisando viver no silêncio de uma cela.