É de certa forma simbólico que LeBron James complete 35 anos um dia antes do encerramento da década que o confirmou entre os maiores nomes na história do basquete. Ainda que os sinais de declínio sejam sutis e que o final da carreira pareça distante, os anos 2020 não devem ser dominados pelo atleta que reina na NBA há pelo menos 12 temporadas, quando foi eleito o jogador mais valioso da liga pela primeira vez.
Mas esta é uma conversa para o futuro. Se a lógica do esporte indica que a segunda metade da próxima década não terá um quarentão LeBron como centro das atenções, o presente ainda é bem diferente. Aos 35 anos, o ala do Los Angeles Lakers segue no topo. Lidera a competição em assistências, com 10,8 passes por jogo, e comanda o time de melhor campanha na Conferência Oeste.
Após inédito título conquistado pelo Cleveland Cavaliers em 2016, LeBron admitiu que perseguia o "fantasma que jogou em Chicago". A referência era a Michael Jordan, seu ídolo de infância e apontado por boa parte dos críticos como o maior jogador de todos os tempos. Como os seis títulos conquistados pela lenda dos Bulls parecem inalcançáveis à esta altura da carreira do tricampeão, LBJ tem a seu favor a longevidade. Nesta idade, Jordan estava em meio à segunda aposentadoria – retornou às quadras em 2001, aos 38 anos, e defendeu o Washington Wizards por duas temporadas. Jordan abandonou o basquete tendo jogado por 41.011 minutos, LeBron James já superou os 47 mil.
Outros ícones do esporte também ficam atrás de LeBron quando analisados seus números aos 35 anos. Larry Bird, ex-Boston Celtics, aposentou-se com esta idade, mas com quatro temporadas a menos. O pentacampeão Magic Johnson precisou se afastar aos 32, quando foi diagnosticado com o vírus do HIV. Retornaria aos Lakers para uma última temporada aos 36 anos, mas sem o mesmo brilho. Shaquille O'Neal passou por três equipes diferentes aos 35. Kobe Bryant disputou apenas seis partidas. Maior cestinha da história, Kareem Abdul-Jabbar é o grande concorrente neste quesito. Ainda que o pivô precisasse se movimentar menos e não criasse jogadas, atuou até os 41.
— A parte física dele parece inabalada, ainda mais no basquete de hoje em dia, que precisa ter força, preparo físico para correr a quadra toda por causa da transição. Um jogo intenso, de contato, e você ter essa força que ele tem, realmente impressiona. Se me perguntassem há três anos se eu achava que ele estaria neste nível hoje, acreditaria que não. Mas hoje não vejo limites para ele — afirma o comentarista Ricardo Bulgarelli, da ESPN.
Escalada rumo ao topo
Em novembro, LeBron tornou-se o quarto jogador na história a atingir a marca de 33 mil pontos, o mais jovem a fazê-lo. Restam à sua frente Kobe Bryant (33.643), Karl Malone (36.928) e Kareem (38.387). Caso mantenha a média atual de 25,5 pontos por partida, ultrapassará Kobe Bryant em 13 jogos. Para tornar-se o primeiro, precisa manter o ritmo até até o final da temporada de 2021-2022. No domingo (29), com os 13 passes para cestas na vitória sobre o Dallas Mavericks, chegou às 9 mil assistências na carreira – é o nono no ranking, sendo o único no top 10 das duas principais estatísticas ofensivas. Também foi o primeiro a superar 30 mil pontos, 9 mil assistências e 9 mil rebotes. Com 6.911 pontos, é o maior cestinha dos playoffs, com quase mil pontos a mais do que Jordan, o segundo.
Analista da Fox Sports dos Estados Unidos, Nick Wright acredita que LeBron já escreveu seu caso para ser o maior a ter pisado em uma quadra de basquete após a conquista pelos Cavaliers. A cidade de Cleveland não comemorava um título nas principais ligas norte-americanas desde 1964, quando o Browns conquistou a NFL, antes do surgimento do Super Bowl.
— No futuro, pessoas que não viram LeBron nem Jordan vão olhar para os números e perguntar como isso foi debate em algum momento. Jordan tem mais títulos do que LeBron, mas tem menos do que Bill Russell. O debate não é sobre conquistas, mas quem foi melhor jogador. E a resposta para isso é LeBron James — afirma.
Bulgarelli tem outra visão, mas também acredita que a discussão deveria ficar entre os dois camisa 23.
— Não gosto de comparar épocas diferentes, mas, dos que eu vi jogar, ele só está atrás do Michael Jordan — aponta.
Agora aos 35, LeBron encaminha os Lakers aos playoffs depois de sete anos para tentar conquistar seu quarto anel de campeão da NBA. Preferências e rankings à parte, o final da próxima década já nao terá LeBron como rosto da principal liga de basquete do mundo. Melhor aproveitar enquanto há tempo.
Feitos de LeBron James
- 3 vezes campeão da NBA (2012, 2013 e 2016)
- 2 medalhas de ouro olímpico (2008 e 2012)
- 4 vezes MVP da NBA (2009, 2010, 2012 e 2013)
- 3 vezes MVP das finais da NBA (2012, 2013 e 2016)
- 1º no ranking de pontos dos playoffs da NBA (6.911 pontos)
- 4º no ranking de pontos da NBA (33.347 pontos)
- 9º no ranking de assistências da NBA (9.009 assistências)
- 15 vezes All-Star
- 15 vezes eleito para os times ideais da temporada (primeiro, segundo ou terceiro)
- Eleito melhor novato da temporada (2004)
Herdeiro ao trono
Os fãs de basquete podem se preparar para continuar ouvindo o nome do camisa 23 por muito tempo. Seu filho mais velho, LeBron James Jr, apelidado de Bronny, segue os passos do pai. Aos 15 anos, defende o time de Sierra Canyon no high school – o ensino médio americano. É um "freshman", aluno do primeiro ano.
E o garoto mostra ter herdado o talento do pai, que, assim como Bronny, começou a chamar atenção na adolescência. Medindo 1m88cm, demonstra habilidade para construir jogadas e tem boa visão de quadra, talvez a maior arma do patriarca da família James. Recentemente, conseguiu a primeira enterrada. E não parou mais de cravar a bola na cesta, que fica a mais de três metros do chão.
No último dia 15, teve o mais emblemático momento da ainda curta carreira de atleta-estudante. Enfrentou St. Vincent-St. Mary, antiga escola do pai – a ligação é tamanha que LeBron reformou o ginásio do colégio, que hoje leva seu nome, e custeou os uniformes dos meninos que naquela noite enfrentavam seu progenitor. A família assistiu ao jogo do lado da quadra. Na partida, Bronny fez o que os James fazem: liderou e venceu. Atingiu sua melhor pontuação até aqui no ensino médio, com 15 pontos, com direito a cesta da vitória a 52 segundos para o final.
— Eu estava muito mais nervoso do que o meu filho. Este foi um momento surreal para a nossa família, para o Bronny, e foi muito legal. Eu disse para minha esposa que deveria fazer o que a mãe de Stephen Curry fez (quando o jogador enfrentou o irmão, Seth Curry, na NBA), de usar uma camisa metade St-Vincent e metade Syerra Canyon. Sou muito orgulhoso dos meus três filhos, tentamos criá-los do jeito certo, para serem bons para a comunidade, bons colegas de equipe e de aula — disse LeBron em entrevista a ESPN após o jogo.
O astro ainda usou a oportunidade para se desculpar com sua mãe, Gloria James.
— Quando eu estava crescendo, minha mãe costumava ser uma das pessoas mais barulhentas no ginásio. Ela enlouquecia com meus adversários, com o juiz, com meu próprio treinador e colegas. E eu costumava dizer: "Mãe, sente, você está me envergonhando". Minha mãe está aqui, então eu pedi desculpas para ela. Eu sei exatamente como é ser um pai e ver seu garoto jogar.