A seleções de Chile e Peru se encontram em Porto Alegre para o duelo semifinal da Copa América, que ocorre na próxima quarta-feira (3), na Arena do Grêmio. Esta será a 19ª vez que as duas seleções se enfrentam na história da competição.
O jogo será uma reedição da semifinal de 2015, quando os chilenos venceram por 2 a 1, em partida disputada no Estádio Nacional de Santiago. Apoiados por mais de 45 mil torcedores, os donos da casa garantiram vaga na decisão, com dois gols de Eduardo Vargas. Gary Medel, contra, fez o gol dos peruanos. Na final, o Chile ganhou da Argentina, nos pênaltis, e conquistou o seu primeiro título na história do torneio.
Equilíbrio: esta é a marca dos confrontos entre as duas equipes na Copa América. Desde o primeiro enfrentamento, em janeiro de 1935, em Lima, quando o Peru venceu pro 1 a 0, são sete vitórias chilenas, seis peruanas e cinco empates.
O duelo entre Chile e Peru é o chamado "Clássico do Pacífico" e supera a rivalidade esportiva. Já houve um confronto geopolítico militar, entre 1879 e 1883, confrontando o exército chileno com as forças peruanas, aliadas à Bolívia.
A origem do conflito vem de uma disputa entre Chile e Bolívia quanto ao controle de uma parte do deserto de Atacama, rico em recursos minerais, que era explorado por empresas chilenas com capital britânico. O aumento de taxas sobre a exploração mineral logo se transformou numa disputa comercial, crise diplomática e, por fim, guerra, que começou após a Antofagasta Nitrate & Railway Company se recusar a pagar o novo imposto. O governo boliviano ameaçou confiscar todas suas propriedades, e os chilenos responderam enviando um navio de guerra para o local em dezembro de 1878.
Com o impasse, a Bolívia anunciou que iria leiloar os bens da empresa. Na data marcada, 14 de fevereiro de 1879, o governo do Chile enviou 200 soldados para a cidade de Antofagasta, que foi tomada sem resistência. Duas semanas depois, os bolivianos declararam guerra e passaram a ter o Peru como aliado, devido a um tratado assinado entre os dois países em 1873. Após algumas tentativas de acordo, em 5 de abril de 1879, os chilenos quebraram relações diplomáticas com os vizinhos e deram início à guerra.
Muito mais forte, o Chile venceu batalhas navais e por terra e, em janeiro de 1881, passou a ocupar Lima após vencer a resistência do exército peruano e de civis, que tentavam resguardar sua capital. Após muitos enfrentamentos em outras regiões do território do Peru, em 20 de outubro de 1883, os dois países assinaram o Tratado de Ancón, no qual a província de Tarapacá foi cedida aos chilenos.
Apesar de a Guerra do Pacífico ter sido encerrada há mais de um século, ela deixou cicatrizes nas sociedades boliviana e peruana, que perderam parte de seus territórios e riquezas. Mesmo "vencedor", o Chile também teve suas perdas, como por exemplo, abrir mão de uma reivindicação sobre parte da Patagônia para assegurar a neutralidade da Argentina.
O último capítulo da rivalidade esportiva entre os dois países remete às Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Na última rodada, o Chile somava 26 pontos, ocupando o quarto lugar, à frente da Colômbia, que tinha os mesmos 26, mas superada nos critérios de desempate, enquanto o Peru aparecia em sexto, com 25.
Para garantir uma vaga no Mundial ou na repescagem, os chilenos não podiam ser ultrapassados pelos dois adversários, que se classificariam caso os bicampeões da Copa América perdessem para o Brasil. A Seleção de Tite venceu por 3 a 0 e um empate em 1 a 1, em Lima, deu o quarto lugar para os colombianos e colocou os peruanos em quinto, deixando o Chile sem chances de ir à Rússia. Suspeitas sobre um acordo pairam até hoje na partida que é chamada pela imprensa chilena como "Pacto de Lima".
Toda esta rivalidade histórica entre Chile e Peru estará presente na Arena do Grêmio, na quarta-feira, às 21h30min. Os comandantes da batalha serão Paolo Guerrero e Arturo Vidal. O que se espera é que, desta vez, o futebol saia vencedor.