De todos os adversários possíveis, a Seleção Brasileira terá pela frente o único que se classificou sem vencer qualquer jogo na primeira fase da Copa América. O Paraguai que Porto Alegre verá amanhã está nas quartas de final graças ao empate entre Japão e Equador, que deu a todos dois pontos e permitiu o avanço dos vizinhos por causa do saldo de gols. Mas apesar dos maus resultados em 2019 — são sete jogos e só uma vitória no ano —, há bons valores na equipe do argentino Eduardo Berizzo, que tenta se remontar para enfrentar o time de Tite, às 21h30min, na Arena do Grêmio.
Até por isso, é preciso frisar: antes de subestimar nosso próximo adversário, lembremos que o Paraguai eliminou o Brasil nas últimas duas vezes em que se enfrentaram em Copa América. Em 2011 e 2015, passou pelas equipes de Mano Menezes e Dunga em disputas de pênalti. E em 1979, última vez que conquistou o torneio continental, tirou a seleção treinada por Cláudio Coutinho ao vencer em casa e arrancar um empate em 2 a 2 no Maracanã. Tradição, portanto, não falta.
E o time, mesmo que em má fase e com uma federação desorganizada, tem alguns bons valores. Segundo o jornalista Wilson González, da Rádio ABC Color, de Assunção, a equipe aposta na segurança de Gatito Fernández, o goleiro do Botafogo eleito melhor em campo nas três partidas do Paraguai na Copa América, na solidez e na liderança de Gustavo Gómez, zagueiro do Palmeiras, e na velocidade e na ousadia de Miguel Almirón, meia-atacante do Newcastle especulado no Real Madrid.
— Contra o Catar, houve bons momentos ofensivos, com trocas de passes pelos lados do campo, mas graves problemas defensivos, tanto que tomou dois gols e poderia ter levado a virada. Contra Argentina, tentou se fechar, tirar o espaço de Messi. O time jogou melhor do que os adversários, perdeu até pênalti e acabou com mais finalizações — reforça Gabriel Dudziak, comentarista da Rádio Globo/CBN.
As virtudes, porém, estão esbarrando em erros imperdoáveis. O gol que levou da Colômbia, praticamente entregando aos rivais, foi fruto de uma filosofia de jogo baseada na posse de bola e na tentativa de controlar a partida com passes curtos, pregada por Berizzo, um discípulo de Marcelo Bielsa — treinador argentino que defende o estilo consagrado por Pep Guardiola. Sem qualidade para cumprir essa proposta, o time erra mais do que acerta e perde jogos assim.
Outro defeito, de acordo com Wilson González, está na falta de marcação no meio. Rodrigo e Matías Rojas não dão consistência e permitem que os adversários avancem. A defesa, principalmente pelas laterais, vaza bastante.
— Os centroavantes, tanto Cardozo quanto Santander, não têm força e estão com pouca mobilidade — completa.
Dudziak traz, ainda outro ponto. Pelo estilo de Berizzo, a Seleção Brasileira não deverá encontrar pela frente uma retranca semelhante às que sofreu em 2011 e 2015.
— Essa é uma boa notícia. O time de Tite tem sofrido muito para passar de defesas posicionadas atrás e fechadas. Não é o que se apresenta na quinta-feira — finaliza.
Gatito Fernández
Se depender da escolha de "Melhores em campo", o craque da Copa América até agora é Gatito Fernández. O goleiro do Paraguai ganhou três vezes o prêmio da Conmebol, até quando perdeu para a Colômbia. Titular do Botafogo, o filho de Gato Fernández, que marcou época no Paraguai e, por aqui, conquistou a Copa do Brasil pelo Inter, destaca-se por ter agilidade e bom posicionamento. É um dos pilares do time e evita resultados piores a um time ainda em formação. Além disso, é considerado ótimo pegador de pênaltis, portanto é recomendável que o Brasil resolva a partida nos 90 minutos.
Gustavo Gómez
O zagueiro do Palmeiras é o líder do time. Basta ver: na primeira falta que algum conterrâneo sofre, lá está ele cercando o árbitro, pressionando. Assumiu a faixa de capitão da seleção e tenta incentivar os companheiros.
— Acho que pouco a pouco estamos captando o que o "profe" quer. Somos uma equipe em construção — declarou.
Forte no jogo aéreo, tanto defensivo quanto ofensivo, também é bom na cobrança de faltas e pênaltis. Não é muito veloz e, por isso, seu parceiro de zaga tem sido Junior Alonso, do Boca Juniors, e não Balbuena, ex-Corinthians, atualmente no West Ham.
Derlis González
No Santos, ele é mais um atacante de lado de campo. Na seleção paraguaia, tenta se movimentar um pouco mais pelo campo. Ora centraliza, ora escapa para as beiradas. Tem velocidade, arranque e finaliza de fora da área. Converteu-se em um dos escapes do time de Eduardo Berizzo. Mas está marcado pelo pênalti perdido diante da Argentina, que poderia ter classificado os paraguaios em condição melhor no grupo.
Iván Piris
Desde a noite de segunda-feira, quando ficou confirmado que o Paraguai se classificou, mas terá pela frente o Brasil, Iván Piris deve ter tomado remédios para dormir. Parar Everton, a principal peça ofensiva da Seleção, tira o sono de qualquer marcador, mas, no caso do lateral do Paraguai, há um retrospecto negativo. Ele foi superado sucessivas vezes pelo atacante do Grêmio na Libertadores, quando seu Libertad perdeu em casa por 2 a 0, na quinta rodada da competição. Cebolinha, inclusive, fez os dois gols da partida. Para piorar, vive um mau momento na seleção paraguaia.
— Não tenho certeza de que Piris vá jogar na quinta-feira. Ele foi tão mal que pode perder o lugar no time titular. O treinador é muito imprevisível — aponta Wilson González.
Existe a possibilidade de Piris ser substituído por Junior Alonso, que seria improvisado na lateral, entrando Balbuena na zaga. Tudo para conter Everton, o que Piris já provou ter dificuldade.
Miguel Almirón
Se Gatito Fernández ganhou os prêmios de "man of the match", Almirón poderia ter sido o segundo lugar, pelos paraguaios. O meia de 25 anos, atualmente no Newcastle, teve seu nome ligado até a um possível interesse do Real Madrid. Contra a Argentina, mostrou suas melhores qualidades.
— Almirón é um meia armador de muita velocidade, carregador e boa finalização — analisa Gabriel Dudziak.
A velocidade, aliás, foi sua arma para superar a defesa argentina e criar a jogada do gol. Também achou bons passes, reteve a bola e arriscou para o gol quando teve espaço. É o jogador que mais inspira cuidados para a Seleção.
Óscar Cardozo
O centroavante já jogou na Arena do Grêmio em 2019. E bem. Pelo Libertad, deu trabalho a Geromel e Kannemann, segurou bola no ataque, criou chances e foi participativo.
Mas essa atuação destoou do que apresentou até agora na Copa América. No primeiro jogo, até fez um gol, de pênalti. Porém, chamou a atenção mais pela falta de movimentação do que pelo bom posicionamento. Contra a Argentina, Cardozo viu do banco a atuação de seu substituto Santander, que parece acima do peso, aliás. Voltou a campo contra a Colômbia mas pouco fez.
Se repetir as atuações pela seleção paraguaia, permitirá a Thiago Silva e Marquinhos juntarem-se ao ataque e encurtar as alternativas de escape de sua equipe.