As vitórias do Grêmio Ball, de Rio Grande, na Zona Sul do Estado, sobre o Falcão 12 e o Cepe Canoas, na primeira rodada da Liga Gaúcha de Futsal sub-9, no domingo (26), tiveram como marca a atuação defensiva. Foram várias defesas difíceis, saídas arrojadas e reposições precisas, que deram tranquilidade para o ataque marcar 17 gols na primeira partida e oito na segunda. Quem esteve debaixo da meta dos riograndenses foi o destaque da partida. Seu nome: Manoela Cordeiro.
No meio dos meninos, ela é uma das nove meninas inscritas no campeonato estadual. Pela primeira vez, as gurias de até 13 anos podem disputar a competição, que começou neste mês. A sugestão partiu do Grêmio Ball e foi aprovada por unanimidade pelos clubes no congresso técnico do torneio em março. Além de Manoela, Juliana Lopes, de oito anos, joga no time de Rio Grande.
Perto da Juju, como é chamada pelos colegas, Manu é veterana: tem um ano a mais de prática na categoria e ajuda a amiga, que é carioca, a se adaptar. Manoela, aliás, aprendeu a ser solidária desde pequena. A mãe dela sofreu um câncer de mama durante a gestação e morreu quando a filha tinha um ano e meio. Ao pai, Cláudio Cordeiro, o coordenador geral do Grêmio Ball, coube a tarefa de criar a filha sozinho.
— A Manu é uma guerreira por natureza, tem uma independência impressionante. A vida se encarregou de ensinar isso a ela. Ela é tem uma empatia muito grande. Uma vez, o goleiro do time dela tomou gol em que a bola passou entre as pernas dele. Constrangido, ele não queria mais continuar na partida. Ela saiu do banco de reservas, entrou na quadra, abraçou ele e o motivou, disse que o time precisava dele e que ele se recuperaria nas próximas jogadas — contou o pai.
Para a estreia da equipe no domingo, a presença de Juju era dúvida por causa de um evento familiar. Manoela insistiu e incentivou tanto que a amiga fosse, que a dupla chegou em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, sem desfalques para os dois jogos.
— Elas estão sempre juntas, são muito amigas e se adoram. A Manu sempre vem aqui em casa, elas interagem bastante — afirmou a mãe da Juju, Luciana Cardoso Fontes Lopes, professora de Educação Física, 33 anos.
No fim de semana, elas estiveram em campo. Manoela é a goleira titular de seu time, e Juliana é uma ala que entra no decorrer das partidas. Elton Silveira, que acompanha esportes amadores na Região Metropolitana para a página Seu Time na Rede, registrou algumas defesas de Manu. Para se ter uma ideia do quanto a presença principalmente da goleira chamou a atenção, a postagem no Facebook com as imagens foi vista por mais de 30 mil pessoas e compartilhada por quase 200 — segundo Silveira, tamanho sucesso jamais ocorreu em oito anos de produção de conteúdo.
Intenção de aumentar participação das meninas
Atualmente, só há competições exclusivas para mulheres nas categorias sub-17 e principal. Ou seja, meninas que praticavam o esporte só podiam começar a competir a partir dos 15 anos, enquanto os meninos têm disputas desde os sete.
— Acredito que abrir este espaço, ainda que a inscrição seja facultativa, será o primeiro passo para incentivar a criação das categorias de base femininas — projetou o presidente da Liga Gaúcha de Futsal, Nelson Bavier.
Bavier, que também é educador físico, afirmou que não há diferenças significativas de estatura e força entre as crianças nos primeiros anos da base. Com a nova norma, as equipes podem inscrever atletas de qualquer sexo nas categorias sub-9, sub-11 e sub-13.