A habilidade é a mesma — aliás, em muitos casos, superior. O porte físico também é parecido. De longe, o que difere Natália Pereira dos demais durante o treinamento da base do Avaí é apenas o laço rosa preso em seus cabelos. A garota de nove anos é a única menina aprovada na peneira para a categoria sub-10 da base do clube catarinense.
Mesmo que a ideia fosse apenas selecionar meninos — já que a categoria feminina não existe no clube de Florianópolis nesta faixa etária —, o Avaí abriu a exceção após muita insistência dos pais, os jornalistas Karina e Fabiano Pereira.
— Ela é muito persistente. Alguém falou na escolinha que, se ela fosse menino, já estaria na base do Avaí. Aí ela chegou em casa e disse: "Eu quero entrar pra base do Avaí." E não descansou enquanto não convencemos os responsáveis pela seleção de que ela poderia participar — contou a mãe.
A guria impressionou na semana de testes e foi uma das 25 crianças selecionadas na peneira.
— Todos nós, aqui de Florianópolis, sabíamos que tinha uma menina se destacando em campeonatos de futsal em meio aos meninos. Porém, não conhecíamos o nível técnico dela. A gente nunca tinha avaliado uma menina entre os meninos, mas demos a oportunidade e veio a grande surpresa: ela se destacou e foi aprovada — contou Diogo Fernandes, coordenador feral das categorias de base do Avaí.
Natália começou a jogar aos quatro anos porque gostava de estar junto com o irmão mais velho, Vinícius. Mas, aos poucos, ela foi traçando seu rumo por conta própria. No ano passado, em torneio que reunia mais de 900 meninos, a guria era a artilheira da competição até sofrer uma pequena lesão que a tirou do campeonato na reta final.
Decidida, Nati — como prefere ser chamada — garante que os guris não a tratam de forma diferente por ser menina: ela sofre falta e leva carrinhos do mesmo jeito que os colegas.
— Minha melhor característica é o chute. Mas eu passo bem também e meu pai diz que bato diferente na bola — afirmou, orgulhosa.
Na semana passada, Nati fez os primeiros treinos do ano com o grupo. Com o recesso do Carnaval, as atividades serão retomadas na próxima segunda-feira. Em pouco tempo, o laço cor-de-rosa estará de volta aos gramados da base catarinense.
— É a minha marca. Sempre uso meu laço rosa, que é minha cor favorita.
No regulamento geral das competições masculinas, normalmente há a condição de que todos os participantes sejam meninos, mas Fernandes assegura que, nos congressos técnicos, a inscrição da guria deve ser autorizada. Para a mãe, no entanto, o mais importante é que Nati esteja em contato com o esporte que ama.
— Muita gente questiona como a gente deixa. Na verdade, a gente oportuniza que ela pratique um esporte como qualquer criança. Não existe isso de ser de um jeito para meninos e de outro para meninas. O futebol é um só — explicou Karina.