Às vésperas do último Mundial de ginástica artística, a caminhada de Luís Porto em busca de uma das quatro vagas da equipe olímpica brasileira sofreu um duro golpe. Dois, na verdade. Pouco antes do embarque de Arthur Zanetti & companhia para Doha, no Catar, o atleta do Grêmio Náutico União acusou dores no ombro esquerdo, causadas por inflamação no local. Por precaução, foi cortado da seleção.
O gaúcho permaneceu no Rio de Janeiro, cumprindo um programa mais leve de treinos no Flamengo. Foi então que aconteceu o pior. Durante movimento de rotina, rompeu o tendão de Aquiles da perna direita. No dia seguinte, foi para a mesa de cirurgia. Em seu melhor momento no esporte, teve de ouvir uma indesejada previsão: seis a oito meses de prazo para voltar às competições.
— Estava no auge. Diferentemente de outras lesões graves que já tive, essa veio em um momento muito importante da minha carreira — lamenta o ginasta de 21 anos. — Mas os médicos disseram que mais cedo ou mais tarde eu iria me lesionar. O meu tendão parecia um barbante.
Do limão, Porto tratou de fazer uma limonada. Especialista no salto e no solo, aparelhos vetados nos cinco meses seguintes, o ginasta resolveu aperfeiçoar a técnica no cavalo com alça, na barra fixa, nas barras paralelas e nas argolas, em que os membros superiores são exigidos. Com autorização médica, assim que deixou as muletas de lado, cerca de um mês depois da cirurgia, passou a treinar os demais aparelhos sem apoiar a perna operada. Não foi uma tarefa das mais simples. Para sair da barra fixa, posicionada a quase três metros do chão, tinha de se jogar de costas sobre um colchão instalado ao lado. Mas o esforço valeu a pena. Agora, Porto se vê como um ginasta mais completo do que antes da lesão:
— Consegui compensar a defasagem que tinha nesses aparelhos. A minha nota de partida (que determina o grau de dificuldade da execução dos movimentos) no cavalo com alça já ultrapassou à do salto, por exemplo.
No última dia 19, o atleta do União retomou os treinos no salto e no solo. Deverá voltar às disputas em junho, mas ainda não sabe em quais e em quantos aparelhos competirá. Por enquanto, prefere não alimentar expectativas em relação a Tóquio. Ele reconhece que está atrasado na corrida olímpica. Em outubro, a equipe masculina vai para o Mundial de Stuttgart em busca das seis vagas olímpicas restantes por país. De acordo com o gaúcho Leonardo Finco, gerente de seleções da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), são boas as chances de o Brasil voltar da Alemanha classificado para os Jogos. Resta saber se Porto, agora um ginasta mais completo, voltará à equipe até lá.