A régua de Almir Júnior não para de subir. Quando, ainda em 2017, GZH garimpou nomes de novos atletas do Estado com potencial para estrear nos Jogos, o sonho do então desconhecido triplista da Sogipa começava por uma barreira desafiadora para um ex-especialista no salto em altura: o índice olímpico. Na largada de 2018, no intervalo de menos de dois meses, o mato-grossense radicado no Rio Grande do Sul romperia pela primeira vez a marca dos 17 metros, superaria na sequência um ex-campeão olímpico (Nélson Évora) e conquistaria, em março, uma surpreendente medalha de prata no Mundial indoor de Birmingham, no Reino Unido.
A meta, então, deixava de ser a mera classificação para o evento no Japão: Almir e seu técnico, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, já traçavam planos de disputar a final do salto triplo em Tóquio. Agora, depois de superar o índice olímpico – 17m14cm – em 23 oportunidades, o desassombrado atleta de 25 anos não esconde o grande objetivo para a Olimpíada:
— Vou brigar por medalha. Os meus treinos e os meus resultados indicam que estou no caminho certo. Sei onde quero chegar e onde posso chegar.
Ao abrir sua segunda temporada no salto triplo, Almir mostrou que seu desempenho acompanha sua autoestima. Na primeira competição internacional depois de oito meses de afastamento para se recuperar de uma lesão no pé esquerdo, o triplista cravou 17m46cm e faturou o ouro no meeting de Ohio, nos EUA, em fevereiro. O salto superou em 40 centímetros a marca obtida pelo brasileiro no evento inaugural de 2018, também no circuito indoor americano, que serviu de cartão de visitas de Almir na modalidade.
Com o resultado, o atleta da Sogipa garantiu vaga no Pan-Americano de Lima, em julho. Os Jogos do Peru, por sinal, serão uma das prioridades no enxuto calendário de provas montado por Almir e Arataca para este ano – a principal competição de 2019 está programada para ocorrer de 27 de setembro a 6 de outubro, o Mundial de atletismo de Doha, no Catar. A ideia do triplista é evitar o desgaste provocado pelo excesso de provas, a fim de não comprometer sua preparação e chegar em forma a Tóquio.
— No dia seguinte a cada competição, fico destruído — revela.
Para reduzir a presença em eventos de atletismo, até quinta-feira (21) o sogipano já havia recusado 43 convites.
— Antes, nós é que mandávamos e-mails ou ligávamos para os organizadores e pedíamos um convite para o Almir competir — diverte-se Arataca. — O fato é que, a cada convite que recusamos, ele deixa de faturar prêmios por participação e bônus por desempenho nessa provas. Mas o foco é 2020 — completa o técnico.
Não que Almir rasgue dinheiro, pelo contrário. Até o ano passado, recebia um modesto salário do clube gaúcho. Ao subir no pódio das principais competições do ano passado, entrou no radar dos patrocinadores. Já fechou contratos com a Nike e a Petrobras até 2021. Conquistou ainda o direito ao Bolsa-Pódio, programa do governo federal voltado a atletas de ponta, e assumiu a patente de sargento da Marinha (agora, é também atleta-militar). Tudo isso ampliou em mais de 15 vezes a renda do triplista, de quatro para cinco dígitos.
Recentemente, comemorou a aquisição de um Jeep Renegade, o primeiro 0km que comprou sem a ajuda do pai. Por isso, valoriza a conquista da independência financeira. Mas, segundo ele, o foco é na seu desenvolvimento como atleta. Em uma viagem aos EUA, pagou quase R$ 8 mil por um par de botas de compressão, equipamento que acelera a recuperação das pernas após os treinos.
— Reinvisto o dinheiro que recebo na minha carreira, da mesma forma como um empresário que investe em sua empresa. Eu sou a minha empresa — compara.
Se os "negócios" de Almir derem o salto esperado em 2020, o triplista terá boas chances de pendurar no pescoço uma medalha improvável até pouco tempo atrás.